Posicionada no núcleo central do país e de rápido deslocamento, a Brigada faz parte da reserva estratégica do Exército.[3] Como a Brigada de Infantaria Paraquedista, deve rapidamente operar em qualquer parte do território nacional.[4] A mobilidade de sua infantaria leve vem das aeronaves de asa rotativa da Aviação do Exército,[5][6] e portanto ela está próxima de seu Comando e 1º e 2º Batalhões de Aviação do Exército em Taubaté.[7][8] Em São Paulo a brigada pode também aproveitar alguns dos principais aeroportos e uma boa malha viária.[9] Sua guarnição em Lorena já foi descrita como “ponto-chave das comunicações entre Rio, São Paulo e Minas Gerais”.[10]
A doutrina militar brasileira considera os batalhões de infantaria leve ideais para o assalto aeromóvel, operação ofensiva de forças-tarefa mistas da Aviação do Exército junto a forças de superfície. Elas devem ocupar posições fracamente defendidas na retaguarda inimiga, onde controlam uma cabeça-de-ponte aeromóvel até a chegada de outras forças. Se realizado à noite, com visão noturna, é mais complexo mas com sigilo melhor. A doutrina reconhece nessas operações a vulnerabilidade dos helicópteros, a mobilidade restrita a pé da infantaria após o desembarque e sua vulnerabilidade em campo aberto, devendo durar apenas 48 horas após o corte do fluxo logístico. Ela prevê assaltos dentro do alcance da artilharia do escalão superior, mas dentro do alcance máximo de 18 km para a Artilharia Divisionária brasileira de 155 mm é improvável encontrar na retaguarda uma posição fracamente defendida. O apoio de artilharia ainda pode ser fornecido de dentro da cabeça-de-ponte.[11][12] A cabeça-de-ponte cercada pode fazer uma defesa circular.[13]
A capacidade de carga dos helicópteros é uma limitação.[14] O ideal num assalto aeromóvel é desembarcar em vaga única, contra um inimigo desavisado, mas os 30 helicópteros de transporte presentes em Taubaté em 2021 seriam insuficientes para transportar de uma vez só uma força-tarefa de batalhão de infantaria leve, com 715 militares e seus armamentos. Em 2022 a base em Taubaté tinha 18 HM-1 Pantera, com capacidade de 9 passageiros, 4 HM-3 Cougar, com 24 vagas, e 7 HM-4 Jaguar, com 27 vagas.[15][16]
Fora da Brigada, o 1º Batalhão de Infantaria de Selva é também aeromóvel,[17] e a Aviação do Exército trabalha com outras unidades, como as atualmente pertencentes ao Comando de Operações Especiais.[18]
História
Desenvolvimento da organização
No início do século XX, a reorganização do Exército Brasileiro na República Velha constituiu várias Brigadas de Infantaria dentro das novas divisões. Compostas unicamente de infantaria, não tinham autonomia.[19] Após dois antecessores do comando, primeiro em Mato Grosso do Sul e em seguida em Minas Gerais, a 4ª Brigada de Infantaria foi constituída em Caçapava em 1919.[20] Era composta do 6º Regimento de Infantaria (RI), na sede, e o 4º, 5º e 6º Batalhões de Caçadores (BCs), respectivamente em São Paulo, Lorena e Ipameri. Eram todos em São Paulo, à exceção do 6º BC, em Goiás,[21] onde estava estrategicamente na Estrada de Ferro.[22] À época o estado fazia parte, juntamente com São Paulo, da 2ª Região Militar.[23]
Em 1938 os regimentos das Divisões de Infantaria (DIs) foram agrupados em Infantarias Divisionárias; na 2ª Divisão de Infantaria, em São Paulo, eram o 4º, 5º e 6º RIs. O 4º, 5º e 6º BCs não pertenciam à nova formação.[24] A 4ª Brigada de Infantaria tornou-se a Infantaria Divisionária da 2ª DI, ou ID/2. Seus dois novos regimentos (4º e 5º) vinham da 3ª Brigada de Infantaria, que foi extinta. Todos estavam no estado de São Paulo.[21][25] Entre 1946 e 1952 ela foi transformada no Subcomando da 2ª DI, voltando então a ser Infantaria Divisionária.[26]
Em 1960 a ID/2 era composta do 4º RI, em Osasco, com dois batalhões, o 5º, em Lorena, com um batalhão, e o 6º, em Caçapava, também com apenas um.[27] A partir do final da década a brigada tornou-se a grande unidade principal do Exército, dotada das unidades de manobra e apoio suficientes para sua autonomia, enquanto os regimentos de infantaria foram suprimidos. A ID/2 tornou-se a 12ª Brigada de Infantaria, composta do 5º Batalhão de Infantaria (BI, oriundo do 5º RI), 6º BI (oriundo do 6º RI), 39º BI Motorizado (BI Mtz, oriundo do 4º RI) e 20º Grupo de Artilharia de Campanha (GAC). O 4º RI deu também origem ao 4º BI Blindado (BIB), que ficou com a 11ª Brigada de Infantaria.[28][29] A área de responsabilidade era a Grande São Paulo (compartilhada com a 11ª brigada) e o vale do Paraíba.[30] Em 1985 a Brigada recebeu a designação de Motorizada.[20] No ano seguinte ela já tinha uma bateria antiaérea, mas não dispunha de companhia de comunicações, companhia de engenharia de combate e esquadrão de cavalaria.[31]
A partir de 1986 o Exército constituiu unidades com helicópteros. Desde os anos 60 já se discutia a criação de uma “cavalaria aérea” com os helicópteros, inspirada nos americanos na Guerra do Vietnã, mas eles surgiram fora da arma da cavalaria.[32] O comando da Aviação do Exército foi criado em 1989.[33] Alguns estudos sugeriam uma tropa leve para ser transportada por seus helicópteros,[34] e ideia original era criá-las em Formosa, Goiás — originalmente a Aviação do Exército foi sediada em Brasília — mas em vez disso a 12ª Brigada foi convertida em 1995 para a infantaria leve. A criação do Comando de Operações Especiais, aproximadamente na mesma época, pertencia à mesma tendência de forças novas de deslocamento rápido.[35]
Em 2005 o 4º BIB foi extinto e o 39º BIL foi renomeado 4º BIL.[29] Em 2022 ele foi transferido à 11ª Brigada de Infantaria Leve, que está a receber blindados Guarani para sua conversão em infantaria mecanizada, enquanto o 2º BIL, até então pertencente à 11ª Brigada, foi transferido à 12ª, passando a ser aeromóvel.[36]
Atuação
As três unidades da Brigada em São Paulo, à exceção de metade do 4º BC, aderiram à Revolta Paulista de 1924.[38] Em 1926, em meio à expectativa de intervenção federal em Goiás, vários depoimentos atestam que um pelotão de São Paulo reforçou o 6º BC em Ipameri. A intervenção não se concretizou.[39] O batalhão teve uma escaramuça com parte da Coluna Prestes na sua passagem por Goiás a caminho da Bolívia.[40]
Na Revolução de 1930 o 4º BC estava entre as forças legalistas na divisa de São Paulo com o Paraná, atuando nas regiões de Quatiguá e Itararé.[41] Em Goiás, o 6º BC manteve-se neutro no conflito entre os legalistas goianos e revolucionários mineiros.[42] Como resultado da Revolução, o comando da Brigada foi provisoriamente extinto.[20] Na Revolução Constitucionalista de 1932 o 6º BC participou da ofensiva contra o norte e noroeste paulista,[43] enquanto o 6º RI e o 4º BC estavam com os constitucionalistas, este com uma companhia em Santos[44] e aquele em Cunha.[45] A Brigada foi reativada em outubro, ao final da Revolução.[20]
Na Segunda Guerra Mundial o 6º RI foi um dos três regimentos de infantaria a integrar a Força Expedicionária Brasileira, chegando à campanha da Itália no primeiro escalão da FEB, em julho de 1944.[46] A denominação da brigada homenageia a participação do regimento na batalha de Fornovo di Taro, em abril de 1945. Duas outras atuais unidades da Brigada, sua artilharia e cavalaria, também estiveram na Itália.[20] Sua cavalaria foi a única da FEB, o 1º Esquadrão de Reconhecimento Mecanizado. Ele lutou em carros blindados americanos M8 Greyhound numa época em que a motomecanização da cavalaria brasileira ainda era limitada.[47]
A infantaria da brigada tem pelotões de fuzileiros leves menores e menos armados do que os de paraquedistas, possivelmente devido à capacidade de carga dos helicópteros.[13] Nos anos 1990, a reduzida capacidade de carga do HM-1 Pantera limitou os grupos de combate da infantaria aeromóvel a sete homens. Os novos helicópteros de transporte disponíveis na década seguinte, como o HM-3 Cougar, permitiram embarcar dois grupos de nove homens.[54] As armas individuais incluem o ParaFAL.[13] Os batalhões têm três companhias de fuzileiros e, dentro da companhia de comando e apoio, um pelotão de reconhecimento para infiltrar as áreas de desembarque antes da força principal. Eles têm algumas limitações se comparados aos precursores paraquedistas.[55][56]
O esquadrão de cavalaria, mecanizado até 2004 e leve desde então,[57] tinha em 2015 dois pelotões de exploradores, dotados de viaturas Agrale Marruá e motos, e um de fuzileiros mecanizado, com o Marruá e o EE-11 Urutu.[58] A doutrina prevê três pelotões de exploradores. Comparados a outros pelotões de cavalaria, seu poder de fogo e blindagem são limitados.[14] O grupo de artilharia usa o obuseiro 105 mm M56 Oto Melara e o morteiro pesado 120 mm M2 raiado, ambos os quais podem ser helitransportados.[11] A bateria antiaérea usa mísseis terra-ar portáteis Igla e o Radar Saber M60.[59]
↑ abSavian, Elonir José (2020). Legalidade e Revolução: Rondon combate tenentistas nos sertões do Paraná (1924/1925). Curitiba: edição do autor. p. 224.
↑BRASIL, Decreto nº 13.916, de 11 de dezembro de 1919. Substitue os decretos ns. 13.651 e 13.652, de 18 de junho e 13.674,de 2 de julho e 13.765, de 17 de setembro, todos de 1919: altera a divisão territorial e a organização das divisões de exercito; crêa unidades e serviços, e rerganiza a artilharia de costa.
↑BRASIL, Decreto-lei nº 609, de 10 de agosto de 1938. Organiza os Comandos das Armas e dá outras providências.
↑Savian, Elonir José (2014). Haverá sempre uma Cavalaria: tradição e modernização no processo de evolução tecnológica do Exército Brasileiro. Resende: edição do autor. p. 190.
↑Torres, Sérgio Rubens de Araújo (18 de agosto de 2007). «A grande marcha». Hora do Povo. Consultado em 27 de abril de 2022
↑Santos, Hélio Tenório dos (2015). As batalhas de Itararé: a barreira de Itararé na história militar em 1893, 1930 e 1932 2ª ed. São Paulo: AHIMTB. p. 90 e 97.
↑Geraldo, Alcyr Lintz (2004). 1930: O furacão veio do Sul. Rio de Janeiro: Biblioteca do Exército Editora. p. 347.