Wilma Martins Morais (Belo Horizonte, 1934 — Rio de Janeiro, 8 de setembro de 2022[1]) foi uma pintora, gravadora, desenhista, figurinista e ilustradora de livros infantis brasileira, mais conhecida por sua coleção Cotidianos (1975-1984), que consiste em pinturas e desenhos de lugares comuns (o banheiro, a cozinha, a biblioteca) sobrepostos por elementos da natureza, como animais, matos ou florestas.
Vida
Wilma Martins iniciou seu estudo artístico em 1953 em Belo Horizonte, na Escola Guignard, e teve entre seus instrutores o pintor Alberto da Veiga Guignard, o escultor Franz Weissmann, a gravadora Misabel Pedrosa e o crítico de arte Frederico Morais.[2] Já em 1954 ela começa a ter suas obras exibidas em coleções coletivas, tanto nacional quanto internacionalmente, e em 1960 tem sua primeira exposição individual, realizada na Biblioteca Thomas Jefferson, em Belo Horizonte, onde exibe 16 desenhos e 10 xilogravuras de insetos, plantas e casa.[3]
Durante a década de 1960, Wilma passa a trabalhar como diagramadora do jornal Estado de Minas, da revista Alterosa, de Belo Horizonte, e da revista Jóia, do Rio de Janeiro.[4] Além disto, ela também ajuda na criação de figurinos, desenhando roupas para o Balett Klauss Vianna e o Teatro Universitário, de Belo Horizonte.[4] No início da década de 1960, Wilma se casa com seu antigo professor e crítico de arte, Frederico Morais, de quem permanece cônjuge até hoje.[5] Teve uma breve passagem pela vida acadêmica em 1965, quando lecionou desenho na então chamada Universidade Mineira de Arte.[6] Em 1966 ela passa a residir na cidade do Rio de Janeiro, e no ano seguinte expõe pela primeira vez na Galeria Goeldi, na qual exibe 14 xilogravuras.[3]
Ao longo dos anos ela continuou a focar na gravura em madeira, mas também praticou desenhos e pinturas.[2]
Exposições
Ao longo dos anos, ela teve parte em várias exposições de arte, incluindo a Bienal Internacional de Arte de São Paulo, da qual foi parte seis vezes (1963, 1965, 1967, 1975, 1994 e 2016), sendo que recebeu o Prêmio Itamaraty pelo trabalho exposto durante a 9ª edição, no ano de 1967.[2] Wilma também participou de múltiplos anos do Panorama de Arte Atual Brasileira, do Museu de Arte Moderna de São Paulo (MAM), utilizando técnicas diferentes: em 1971 ela expôs xilogravuras, em 1974 apresentou desenhos feitos com bico de pena em ecoline, e em 1976 exibiu pinturas feitas com vinil e acrílico.[3] Wilma também participou de diversas bienais internacionais. Entre elas, as da Iugoslávia (1967), Veneza (1978), Genebra e Berlin (1969).
Coleção Cotidiano
Wilma Martins começou a trabalhar na coleção Cotidiano em 1975, utilizando a início nanquim e aquarela para seus desenhos, e passando mais tarde para a pintura acrílica, sendo que estas obras passavam por estágios diferentes de desenvolvimento, com algumas vindo de esboços de pinturas, e outras sendo desenvolvidas diretamente na tela.[3][7] As obras desta coleção focam em elementos do cotidiano, cômodos ordinários de uma casa, como o banheiro, a cozinha ou a sala de estar, sendo que estes elementos aparecem em cores fracas e com pouca visibilidade. Sobre o elemento cotidiano são sobrepostos animais, selvagens ou domésticos, rios, matagais ou até mesmo florestas, com cores vivas.[2]
Em um livro sobre a arte contemporânea brasileira, o crítico Ferreira Gullar elogia os traços da artista, comparando-os aos de Henri Matisse e Pablo Picasso. Gullar comenta sobre a ausência de pessoas nestas obras de Wilma, e como no seu lugar estão animais como hienas, elefantes ou antílopes, como "as gavetas se enchem de água, a vegetação se derrama entre os móveis, sapatos e vassouras."[8] Para ele, o uso do branco-e-preto para os elementos cotidianos ajuda a ressaltar os outros elementos. Ele ainda comenta sobre a distanciação da artista de suas obras, evidenciada pela assinatura, que aparece "como se fosse a marca do fabricante" ao invés da assinatura de um pintor.[8]
Prêmios
- 1955, 1956, 1966, prêmios em pintura no Salão de Belas Artes da Cidade de Belo Horizonte.
- 1966, prêmio aquisição na Bienal Nacional de Artes Plásticas de Salvado. [6]
- 1967, Prêmio Itamaraty – em reconhecimento a quatro xilogravuras que a artista produziu e expôs na Bienal Internacional de Arte de São Paulo.
- 1975, Prêmio de Viagem ao Exterior do Salão Nacional de Arte Moderna.
- 1976, Prêmio Principal do Panorama de Arte Atual Brasileira, do Museu de Arte Moderna de São Paulo, na categoria pintura – pela peça Cotidiano XVI. [3][9]
- 2015, Prêmio Funarte Mulheres nas Artes Visuais
Referências
Ligações externas