Verde-gaio é uma das mais típicas danças populares do Ribatejo e Estremadura; embora seja mais popular no norte do que no sul de Portugal, é na região entre os rios Lis e Sado que, segundo Tomaz Ribas, o bailam melhor e mais a primor. Em geral o verde-gaio é acompanhado com harmónica ou realejo.[1]
Em 1940 o nome desta dança foi utilizado para denominar a primeira companhia estatal de dança em Portugal inspirada no folclore nacional e em temas portugueses, Bailados Portugueses Verde Gaio.
Verde-gaio
Ora tocada ao harmónio, ora à flauta (de sabugueiro, de cana e também de chaves adaptada), ao pífaro, na palheta, na concertina, à gaita-de-foles, no bandolim, na guitarra, o Verde-gaio não será provavelmente muito antigo. A referência mais recuada a este tipo de dança parece ser a de João Paulo Freire, que a coloca entre as preferidas dos saloios nos finais do século XIX.[2]
A forma mais habitual de bailar o verde-gaio é a seguinte: "duas rodas, uma interior, a das raparigas, e outra exterior, a dos rapazes, ficando os pares frente a frente, «desagarrados». De início, as rodas giram lentamente, «com os pés a rastejar». Depois, os pares agarram-se e os rapazes conduzem as raparigas, estas «às arrecuas», até ao centro, onde batem os pés («é batido»). Regressam de imediato às posições iniciais, agora recuando os rapazes, e recomeça a roda."[2]
Bailados Portugueses Verde Gaio
Espetáculo dos Bailados Portugueses Verde Gaio
Maria Keil, Traje para o bailado A Lenda das Amendoeiras, 1940
Na origem da companhia estiveram, para além de António Ferro, o bailarino e coreógrafo Francis Graça (grande inovador do teatro musicado em Portugal e o principal responsável pela coreografia nos anos de maior vitalidade do grupo), o compositor Frederico de Freitas e o pintor Paulo Ferreira (o mais importante colaborador plástico do Verde Gaio).[4]
O espetáculo de estreia ocorreu no Teatro da Trindade, Lisboa, a 8 de Novembro de 1940, durante as celebrações do Oitavo Centenário da Fundação da Nacionalidade; incluiu a A Lenda das Amendoeiras, Inês de Castro, Muro de Derrete e Ribatejo. A apresentação do ano seguinte, já no Teatro Nacional de S. Carlos, incluiu Dança da Menina Tonta, que iria se tornar-se no maior sucesso do Verde Gaio, sempre reposto e sempre calorosamente recebido pelo público.[5]
Nos primeiros dez anos, período de apogeu da companhia, foram apresentados grande número de bailados, com aplauso da crítica e do público. A crítica foi sempre bastante benevolente, embora a qualidade e o rigor técnico das produções nem sempre correspondessem aos elogios prestados (assinale-se que, com exceção da dupla principal, de alto nível, formada por Francis Graça e Ruth Walden, todos os restantes bailarinos tinham, de início, uma formação e experiência muito restritas). Em 1947-48 Francis Graça fez uma permanência no Brasil e o seu lugar à frente do Verde Gaio foi ocupado, por iniciativa de Paulo Ferreira, por Guglielmo Morresi (primeiro bailarino da Ópera de Roma), e mais tarde por Ivo Cramér. Este Verde Gaio diferente, mais internacional, correspondeu em certa medida a um afastamento da sua linha original, que seria retomada com o regresso de Francis Graça e o seu bailado Nazaré, "que pode considerar-se verdadeiramente o último que ele e o Verde Gaio criaram.[6]
O trabalho da década inicial culmina, de certo modo, com a apresentação no Théâtre des Champs-Élysées, Paris (1949), um espetáculo dominado pelas coreografias de Francis Graça (apresentado no programa como "diretor artístico e coreógrafo") com um ou outro bailado de Ivo Cramér. A década de 1950 é já um período de declínio, em parte devido ao afastamento de António Ferro do SPN/SNI, que deixou a companhia sem o apoio crucial do seu fundador. A partir de então o Verde Gaio quase apenas colaborou nas danças das óperas levadas à cena no Teatro de S. Carlos (o que vinha acontecendo desde 1946), continuando a exibir, de forma pontual, alguma peça do seu reportório em festas e cerimónias oficiais. Em 1960 Francis Graça foi definitivamente afastado do Verde Gaio, cuja direção foi entregue a Margarida de Abreu e Fernando Lima.[7][8][9][10]
A companhia foi oficialmente extinta em 1977 após um longo declínio que Francis Graça, Fernando Lima e Margarida de Abreu (mas também Violette Quenolle e Daniel Seillier, ambos com excelente formação da Ópera de Paris, Paula Gareya, com larga experiência inglesa e Anna Ivanova), não puderam evitar.[11]
A companhia definiu o seu rumo em «dança imponderável», aquela que se coaduna com o génio contemplativo dos lusitanos que sonham com o mar olhando o céu, ou sonham com o céu olhando o mar... Intérprete artístico das tradições, lendas, costumes, poesia, música, canções e danças ancestrais da Terra Lusíada em exaltação de seus motivos e temas nacionais. O grupo de bailados portugueses Verde Gaio, ao mesmo tempo que serve a arte da dança por suas exibições ou como escola de bailado, ou ainda através de permanente colaboração nas temporadas líricas de Ópera, contribuiu também para a progressiva renovação do Teatro musicado, quer no ponto de vista coreográfico e espetacular, quer quanto às exigências de bom gosto nas montagens, pela melhor e mais harmónica utilização dos elementos de decoração cénica.[7]
Muro do Derrete – coreografia: Francis Graça; argumento: Carlos Queiroz; música: Frederico de Freitas; cenários e figurinos: Paulo Ferreira.
Ribatejo – coreografia: Francis Graça; música: Frederico de Freitas; cenário: Estrela Faria; figurinos: Bernardo Marques.
1941 – Teatro Nacional de S. Carlos
O Homem do Cravo na Boca – coreografia: Francis Graça; argumento: Francisco Laje; música: Armando José Fernandes; cenários e figurinos: Bernardo Marques.
Dança da Menina Tonta – coreografia: Francis Graça; argumento: Paulo Ferreira; música: Frederico de Freitas; cenários, cortina e figurinos: Paulo Ferreira.
1941 – Teatro Nacional D. Maria II
Passatempo – coreografia: Francis Graça; música: Frederico de Freitas, Ruy Coelho, Alexandre Rey Colaço, Ernesto Halffter; cenários e figurinos: Thomaz de Mello (Tom).
1943 – Teatro Nacional de S. Carlos
D. Sebastião – coreografia: Francis Graça; argumento: António Ferro; música: Ruy Coelho; cenários e cortinas: Carlos Botelho; figurinos: Mily Possoz.
Imagens da Terra e do Mar – coreografia: Francis Graça; argumento: António Ferro; música: Frederico de Freitas; cenário: Carlos Botelho; cortinas e figurinos: Paulo Ferreira.
Bailados Verde Gaio, Teatro Nacional de S. Carlos, 1944, p.1
Bailados Verde Gaio, Teatro Nacional de S. Carlos, 1944, p.2
Bailados Verde Gaio, Teatro Nacional de S. Carlos, 1944, p.3
Bailados Verde Gaio, Teatro Nacional de S. Carlos, 1944, p.4
1947 – Teatro Nacional de S. Carlos
Festa no Jardim – coreografia: Guglielmo Morresi; argumento: Francisco Lage; música: Wolfgang Amadeus Mozart; cenários e figurinos: Paulo Ferreira.
Noite sem fim – coreografia da 1ª versão: Guglielmo Morresi; argumento: António Ferro; música da 1ª versão: Camille Saint-Saëns (Dança Macabra); cenários e figurinos: Paulo Ferreira.
Farandole
Tarantela
1948 – Teatro Nacional de S. Carlos
Noite sem fim – coreografia da 2ª versão: Ivo Cramér; argumento: António Ferro; música da 2ª versão: Mussorgsky (Uma Noite no Monte Calvo); cenários e figurinos: Paulo Ferreira.
Nazaré– coreografia: Francis Graça; argumento: Francis Graça; música: Frederico de Freitas; cenário e figurinos: José Barbosa.
Balada – coreografia: Ivo Cramér; música: Maurice Ravel (fragmentos de Ma Mère l'Oye); cenário e figurinos: Paulo Ferreira.
Aventuras de Arlequim – coreografia: Ivo Cramér; música: Domenico Scarlatti; cenário e figurinos: Paulo Ferreira.
A Menina e os Fantoches – coreografia: Ivo Cramér; argumento: Paulo Ferreira e Ivo Cramér; música: Serguei Prokofiev (O Pedro e o Lobo); cenário e figurinos: Paulo Ferreira.
Três Danças – coreografia: Francis Graça; música:Oscar da Silva; figurinos: José Barbosa.
↑ abSantos, Vítor Pavão dos – Verde Gaio: Uma Companhia Portuguesa de Bailado (1940-1950). Lisboa: Museu Nacional do Teatro, 1999. ISBN 972-776-016-3
↑Santos, Vítor Pavão dos – Verde Gaio: Uma Companhia Portuguesa de Bailado (1940-1950). Lisboa: Museu Nacional do Teatro, 1999, p. 43-45, 53.
↑Santos, Vítor Pavão dos – Verde Gaio: Uma Companhia Portuguesa de Bailado (1940-1950). Lisboa: Museu Nacional do Teatro, 1999, p. 38, 49, 69, 71, 73, 78, 81.
↑C.I.T.I. «Verde Gaio». Consultado em 20 de julho de 2013
↑Santos, Vitor Pavão dos – Verde Gaio: Uma Companhia Portuguesa de Bailado (1940-1950). Lisboa: Museu Nacional do Teatro, 1999, p. 38, 43-45, 49, 53, 73, 78, 81.
↑Ribas, Tomaz – "A dança e o ballet em Portugal nos anos 40". In: A.A.V.V. – Os anos 40 na arte portuguesa (tomo 6). Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, 1982, p. 83.
↑Ribas, Tomaz – "A dança e o ballet em Portugal nos anos 40". In: A.A.V.V. – Os anos 40 na arte portuguesa (tomo 6). Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, 1982, p. 83.
↑Santos, Vitor Pavão dos – Verde Gaio: Uma Companhia Portuguesa de Bailado (1940-1950). Lisboa: Museu Nacional do Teatro, 1999. ISBN 972-776-016-3