António Gabriel de Quadros e Castro Ferro (António Quadros); Fernando Manuel de Castro e Quadros Ferro (Fernando de Castro Ferro).
Ocupação
Escritor, jornalista, político, diplomata.
Cargo
Editor da revista Orpheu (1915); Jornalista /1918/1933); Director do SPN - Secretariado de Propaganda Nacional (1933/1944); Director do SNI - Secretariado Nacional de Informação, Cultura Popular e Turismo (1944/1950); Diplomata (1950/1956).
Modernismo português, Turismo, Arte Popular, Manifestações museológicas como as Grandes Exposições nacionais e Internacionais. Todas as formas de cultura.
António Ferro nasceu a 17 de agosto de 1895 num terceiro andar do n.º 237 da Rua da Madalena, em Lisboa,[2] no seio de uma família pequeno-burguesa.
O pai, António Joaquim Ferro, alentejano, era comerciante, e a mãe, sua mulher, Maria Helena Tavares Afonso, algarvia, era doméstica. Um tio do lado materno, Pedro Tavares, oficial do Exército, publicara alguns livros da sua lavra: Estudos Histórico-Militares (1892), e também romances, como Margarida (1900) ou Regenerada (1905)[3].
O prédio de sua casa ardeu integralmente no famoso «Fogo da Madalena», tinha António Ferro então 11 anos de idade. O jovem foi salvo por um bombeiro, tal como a restante família: a mãe, o pai, os irmãos Umbelina e Pedro, uma velha tia e ainda uma avó imobilizada[3].
Em 1911, estudante do Liceu Camões, é, embora cinco anos mais novo, colega e amigo de Mário de Sá-Carneiro. O poeta confia-lhe dois dos seus primeiros poemas, Quadras para a Desconhecida e A Um Suicida, ambos dedicados a Tomás Cabreira Júnior, com quem escrevera a peça Amizade e que se suicidara com um tiro, nas escadas do liceu, aos 20 anos de idade[3].
De 1913 a 1918 frequenta o curso de Direito na Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa, que acabará por não concluir. Nessa altura, António Ferro, de aparência sossegada, pesada e pachorrenta, já demonstra o fôlego e a energia que o acompanharão toda a vida. Mobilizador de vontades e aglutinador de grupos, é voz activa e estimulante em tudo o que implique acção e organização[3].
Em 1914, com apenas 19 anos, António Ferro surge como editor oficial da Revista Orpheu, para o que foi escolhido pelo seu amigo Mário de Sá Carneiro, precisamente por ser ainda menor[3].
Enveredando pela carreira de jornalista, foi redator-principal do diário O Jornal 1919 (órgão do Partido Republicano Conservador), jornalista de O Século e do Diário de Lisboa, director durante alguns meses da revista Illustração Portugueza e repórter internacional do Diário de Notícias, para o qual entrevistou numerosas celebridades nacionais e estrangeiras.
Teve colaboração, em prosa e em verso, na II série da revista Alma nova[4] (1915-1918), Exílio (1915) e na segunda série de Contemporânea (1922-1924). Em 1921 publicou o manifesto modernista Nós. Em livro, publicou conferências, reportagens, entrevistas, contos, o livro de aforismos e paradoxos Teoria da Indiferença (1920) e o "romance fragmentário" Leviana (1921). Também se encontra colaboração da sua autoria na revista Ilustração[5] iniciada em 1926.
Interessou-se e aprofundou conhecimentos sobre o fascismo e os regimes autoritários da época, como ficou patente na sua colectânea de entrevistas Viagem à Volta das Ditaduras (1927). Entrevistou Benito Mussolini três vezes, em Roma (na última entrevista, Mussolini ofereceu a Ferro dois retratos seus com dedicatória, um deles destinado a Salazar, que o colocou emoldurado sobre a sua secretária). Também Hitler concedeu uma breve entrevista a Ferro (que não se chegou a concretizar, segundo a sua neta Rita Ferro), bem como o ditador espanhol Primo de Rivera.
Sob o Estado Novo, António Ferro abraçou a carreira política, tendo dirigido o Secretariado da Propaganda Nacional (SPN), sob a tutela da presidência do Conselho de Ministros. Foi ele quem sugeriu a Salazar em 1932 a criação de um organismo que fizesse propaganda aos feitos do regime e foi dele, também, a formulação doutrinária, a partir desse ano, da chamada Política do Espírito, nome que teve em Portugal a política de fomento cultural subordinada aos fins políticos do regime. Depois de em Dezembro de 1932 ter publicado no Diário de Notícias uma série de entrevistas com o Presidente do Conselho de Ministros, reunidas em livro em 1933 (Salazar, o Homem e a Obra), Ferro foi chamado a assumir, como director do SPN, criado em Outubro de 1933, as funções simultâneas de chefe da propaganda e de responsável pela política cultural do Estado Novo. O organismo manteve o nome até final da II Guerra Mundial, quando passou a designar-se Secretariado Nacional de Informação (SNI). Ferro foi o seu director até 1949, quando partiu para a legação portuguesa em Berna.
Desenvolveu grande actividade nas áreas da propaganda interna e externa, edição, radiodifusão, cinema, teatro, bailado, jornalismo, turismo e actividades culturais em geral. Foi comissário-geral das exposições internacionais de Paris (1937) e de Nova Iorque (1939), teve um papel determinante na grande realização do Estado Novo que foi a Exposição do Mundo Português (1940), tendo dirigido a Revista dos Centenários[6], órgão de propaganda da mesma. Foi fundador do Museu de Arte Popular, da Companhia Portuguesa de Bailado Verde Gaio (1940) e presidente da Emissora Nacional (1941). No plano do turismo, foi por sua iniciativa que foram criadas as Pousadas a partir de 1941-1942. Foi também fundador, em 1941, da revista de arte e turismo Panorama e dirigiu em parceria com Lourival Fontes a revista luso-brasileira Atlântico[7].
Como homem de cultura desde sempre muito ligado aos meios artísticos, Ferro serviu-se do organismo que dirigiu para defender e divulgar alguns dos artistas mais arrojados do seu tempo. Travou lutas com os conservadores do regime em defesa da arte moderna, mas pessoalmente renegou o "modernismo" literário da sua juventude.[carece de fontes?]
De 1949 a 1954 foi Ministro Plenipotenciário de Portugal na legação em Berna[8] e de 1954 a 1956 em Roma.[9]
António Ferro foi casado com a poetisa Fernanda de Castro, pai de António Gabriel de Quadros e Castro Ferro (o escritor António Quadros); Fernando Manuel de Castro e Quadros Ferro (o editor e tradutor Fernando de Castro Ferro).
António Ferro morreu a 11 de novembro de 1956 em Lisboa.
[10]
Obra publicada e inédita
1912: Missal de Trovas, em colaboração com Augusto Cunha. Prefácios de João de Barros, Fernando Pessoa, Mário de Sá-Carneiro, Afonso Lopes Vieira, João Lúcio, Júlio Dantas, Alberto Osório de Castro, Augusto Gil. Capa: Rodríguez Castañé. Lisboa: Livraria Ferreira, 1912.
1917: As Grandes Trágicas do Silêncio. Capa: Armando Basto. Lisboa: edição do autor, 1917.
1918: O Ritmo da Paisagem.
Lisboa: edição do autor, 1918.
1920: Teoria da Indiferença.
Capa: Armando Basto.
Lisboa: Portugália Editora, 1920. Árvore de Natal.
Capa: Jorge Barradas.
Lisboa: Portugália Editora, 1920.
1921: Teoria da Indiferença.
Capa: Armando Basto.
Lisboa: Portugália Editora, 1921. Colette, Willy, Colette.
Capa: António Soares.
Lisboa/Rio de Janeiro: H. Antunes-Editor, 1921. Leviana. Novela em fragmentos.
Capa e ilustrações: António Soares.
Lisboa/Rio de Janeiro: H. Antunes & Cª Editores, 1921. Nós.
Lisboa: edição do autor, [1921].
1922: Gabriel d’Annunzio e Eu.
Capa: Bernardo Marques.
Lisboa: Portugália Editora, 1922.
1923: A Arte de Bem Morrer.
Prefácio de Menotti del Picchia.
Capa: Almada Negreiros.
Rio de Janeiro: H. Antunes & Cª Editores, 1923. A Idade do Jazz-Band.
Prefácios de Carlos Malheiro Dias, Guilherme de Almeida, Ronald de Carvalho.
Rio de Janeiro: H. Antunes & Cª Editores, 1923. Batalha de Flores.
Capa: António Soares.
Rio de Janeiro: H. Antunes & Cª Editores, 1923.
Leviana. Novela em fragmentos.
Capa e ilustrações: António Soares.
Lisboa: Roger Delraux, 1923.
1924: Mar Alto.
Lisboa: Portugália Editora, 1924.
1925: A Amadora dos Fenómenos.
Capa: Bernardo Marques.
Porto: Livraria Civilização, 1925.
1927: Viagem à Volta das Ditaduras.
Prefácio de Filomeno da Câmara.
Capa: Bernardo Marques.
Lisboa: Empresa «Diário de Notícias», 1927.
1929: Praça da Concórdia.
Prefácio do autor.
Capa: Bernardo Marques.
Lisboa: Empresa Nacional de Publicidade, 1929.
Leviana. Novela em fragmentos.
Capa e ilustrações: António Soares.
Lisboa: Roger Delraux, 1929.
1930: Novo Mundo, Mundo Novo.
Capa: Bernardo Marques.
Lisboa: Portugal/Brasil, 1930.
1931: Hollywood, Capital das Imagens.
Prólogo do autor.
Capa: Bernardo Marques.
Lisboa: Portugal/Brasil, 1931.
1933: Salazar: O Homem e a sua Obra.
Prefácio de Oliveira Salazar.
Lisboa: Empresa Nacional de Publicidade, 1933.
[com edições publicadas posteriormente em francês, inglês, italiano, espanhol, polaco e concani].
Prefácio da República Espanhola.
Prefácio do autor.
Lisboa: Empresa Nacional de Publicidade, 1933.
1934: Salazar: Le Portugal et son Chef.
Prefácio de Oliveira Salazar.
Paris : Éditions Bernard Grasset, 1934.
1935: Salazar y su Jefe.
Prefácio de Oliveira Salazar.
Santiago de Chile: Biblioteca Ercilla, 1935.
1939: Salazar; Portugal and her Leader.
Prefácio de Oliveira Salazar.
London: Faber and Faber Limited, 1939.
1941: Homens e Multidões.
Prólogo do autor.
Lisboa: Bertrand, 1941.
1943: Dez Anos de Política do Espírito 1933 1943.
Lisboa: Edições SNI, 1943.
1949: Apontamentos para uma Exposição.
Colecção “Politica do Espírito”.
Lisboa: Edições SNI, 1949.
Arte Moderna.
Colecção “Politica do Espírito”.
Lisboa: Edições SNI, 1949.
Artes Decorativas.
Colecção “Politica do Espírito”.
Lisboa: Edições SNI, 1949.
Eça de Queiroz e o Centenário do seu Nascimento.
Colecção “Politica do Espírito”.
Lisboa: Edições SNI, 1949.
Estados Unidos da Saudade.
Colecção “Política de Espírito”.
Lisboa: Edições SNI, 1949.
Imprensa Estrangeira.
Colecção “Politica do Espírito”.
Lisboa: Edições SNI, 1949.
Jogos Florais.
Colecção “Politica do Espírito”.
Lisboa: Emissora Nacional, 1949.
Museu de Arte Popular.
Colecção “Politica do Espírito”.
Lisboa: Edições SNI, 1949.
Panorama dos Centenários 1140-1640.
Colecção “Politica do Espírito”.
Lisboa: Edições SNI, 1949.
Turismo Fonte de Riqueza e de Poesia.
Colecção “Politica do Espírito”.
Lisboa: Edições SNI, 1949.
1950: Prémios Literários 1934 1947.
Colecção “Politica do Espírito”.
Lisboa: Edições SNI, 1950.
Problemas da Rádio.
Colecção “Politica do Espírito”.
Lisboa: Edições SNI, 1950.
Sociedades de Recreio.
Colecção “Politica do Espírito”.
Lisboa: Edições SNI, 1950.
Teatro e Cinema 1936-1949.
Colecção “Politica do Espírito”.
Lisboa: Edições SNI, 1950.
1954: D. Manuel II, o Desventurado.
Lisboa: Livraria Bertrand, 1954.
1957: Saudades de Mim.
Prefácio de António Quadros.
Lisboa: Livraria Bertrand, 1957.
1978: Salazar: o homem e a sua obra.
Prefácio de Oliveira Salazar.
Lisboa: Edições do Tempo, 1978.
1979: Leviana. Novela em fragmentos.
Capa e ilustrações: António Soares.
Lisboa: Roger Delraux, 1979.
Teoria da Indiferença.
Capa: Armando Basto.
Lisboa: Portugália Editora, 1979.
1982: Salazar: o homem e a sua obra.
Prefácio de Oliveira Salazar.
Lisboa: Edições Fernando Pereira, 1982.
1989: Batalha de Flores.
Prefácio de António Quadros.
Capa: António Soares.
Lisboa: Europress, 1989.
2003: Entrevistas de António Ferro a Salazar.
Prefácio de Fernando Rosas.
Lisboa: Parceria A. M. Pereira, 2003.
2007: Entrevistas a Salazar.
Prefácio de Fernando Rosas.
Lisboa: Parceria A. M. Pereira, 2007.
2016: Novo Mundo, Mundo Novo (fac-simile).
Capa: Bernardo Marques.
Lisboa: A Bela e Monstro, Editores/Jornal Público, 2016.
2018: Algumas Memórias do Bom Jesus do Monte
Coautoria: Camilo Castelo Branco, Raul Brandão, António Ferro, António Manuel Couto Viana.
Coordenação: Eduardo Jorge Madureira Lopes.
Braga: Fundação Bracara Augusta, 2018.
Inéditos: A suspeita (episódio dramático em um acto e dois quadros, assinado com o pseudónimo «João Simples», terminado a 4 de Setembro de 1912).
Confissão Pública (diário).
Eu não sei dançar (peça em 3 actos).
O Estandarte (peça em 3 actos).[11]
A 4 de Março de 1941 foi elevado a Grande-Oficial da Antiga, Nobilíssima e Esclarecida Ordem Militar de Sant'Iago da Espada, do Mérito Científico, Literário e Artístico[12]
Ferro, Mafalda; Ferro, Rita (1999). Retrato de uma família: Fernanda de Castro, António Ferro, António Quadros. Lisboa: Círculo de Leitores. ISBN972-42-1910-0
Guedes, Fernando (1997). António Ferro e a sua Política do Espírito. Inclui antologia de textos de António Ferro. Lisboa: Academia Portuguesa da História. ISBN978-972-624-111-9