Na matemática, O Teorema da Extensão de Szpilrajn, assim denominado em homenagem a Edward Szpilrajn (1930) (mais tarde chamado Edward Marczewski), é um dos muitos exemplos do uso do axioma da escolha (na forma do Lema de Zorn) para encontrar um conjunto maximal com certas propriedades.
O teorema afirma que, dada uma relação binária R que é irreflexiva e transitiva sempre é possível encontrar uma extensão da relação (ou seja, uma relação T que inclui estritamente R), que é assimétrica, negativamente transitiva e conexa.
Antes de tudo, precisamos de algumas definições de modo que fique claro qual é a terminologia que usaremos quando estivermos falando sobre as relações com propriedades particulares.
Dada uma relação binária R ⊆ X × X {\displaystyle R\subseteq X\times X} em um conjunto genérico X {\displaystyle X} , nós dizemos que R {\displaystyle R} é negativamente transitiva se
Note que a transitividade negativa também pode ser reescrita como : ∀ x , y , z ∈ X ( x R y ) ⇒ ( x R z ) ∨ ( z R y ) {\displaystyle \forall \ x,y,z\in X\ \ (xRy)\Rightarrow (xRz)\lor (zRy)} , simplesmente utilizando do fato de A ⇒ B {\displaystyle A\Rightarrow B} também pode ser escrita como ¬ A ∨ B {\displaystyle \neg A\lor B}
Dada uma relação binária R ⊆ X × X {\displaystyle R\subseteq X\times X} em um conjunto genérico X {\displaystyle X} , dizemos que R é (fracamente) conexa se : ∀ x , y ∈ X : x ≠ y {\displaystyle \forall x,y\in X:x\not =y} então ou x R y {\displaystyle xRy} ou y R x {\displaystyle yRx} .
Estas propriedades sobre as relações binárias podem ser facilmente verificadas pela definição:
Para enunciar precisamente o teorema, precisamos ainda de um par de definições e um lema simples útil.
Seja R uma ordem parcial estrita em X. Então existe uma outra relação binária T em X que ainda é uma ordem parcial estrita e estende R, portanto:
Esse lema é facilmente provado quando se toma x ≠ y ∈ X {\displaystyle x\not =y\in X} de tal modo que ¬ ( x R y ) ∧ ¬ ( y R x ) {\displaystyle \neg (xRy)\land \neg (yRx)} que existe uma vez que a relação não é conexa.
podemos definir outra relação:
Finalmente, o conjunto T = R ∪ S {\displaystyle T=R\cup S} que é trivialmente uma extensão de R e outra ordem parcial estrita em X.
Seja R uma ordem estrita parcial no conjunto de X. Então existe uma relação T que estende R e é uma ordem estrita em X.
Queremos mostrar a existência de um elemento maximal em P {\displaystyle {\mathcal {P}}} com respeito ao conjunto inclusão.
Para fazer isso, iremos utilizar o Lema de Zorn. Primeiramente queremos verificar a hipotese do Lema, daí que qualquer cadeia (com respeito à inclusão) de P {\displaystyle {\mathcal {P}}} admite um limite superior em P {\displaystyle {\mathcal {P}}} .
Seja C {\displaystyle {\mathcal {C}}} uma cadeia em P {\displaystyle {\mathcal {P}}} .
Defina
Claramente M {\displaystyle {\mathcal {M}}} é um limite superior da cadeia, mas temos que mostrar que M ∈ P {\displaystyle {\mathcal {M}}\in {\mathcal {P}}} , dai que M {\displaystyle {\mathcal {M}}} é outra ordem parcial estrita que estende R.
Obviamente ela contem R, como todo C ∈ C {\displaystyle C\in {\mathcal {C}}} contém R, e é irreflexiva, como ( ⋃ C ∈ C C ) ∩ Δ X = ⋃ C ∈ C ( C ∩ Δ X ) = ∅ {\displaystyle (\bigcup _{C\in {\mathcal {C}}}C)\cap \Delta _{X}=\bigcup _{C\in {\mathcal {C}}}(C\cap \Delta _{X})=\emptyset } , já que qualquer
Temos que mostrar que M {\displaystyle {\mathcal {M}}} é transitiva e usaremos aqui a propriedade de cadeia de C {\displaystyle {\mathcal {C}}} .
Seja x , y , z ∈ X {\displaystyle x,y,z\in X} tal que x M y ∧ y M z {\displaystyle x{\mathcal {M}}y\land y{\mathcal {M}}z} sse ( x , y ) , ( y , z ) ∈ M {\displaystyle (x,y),(y,z)\in {\mathcal {M}}} .
Como M {\displaystyle {\mathcal {M}}} é definida como uma união de conjuntos, existe
Mas C {\displaystyle {\mathcal {C}}} é uma cadeia com respeito à inclusão, portanto ela assume que P 1 ⊆ P 2 {\displaystyle P_{1}\subseteq P_{2}} ou vice versa, de modo que os dois casais de elementos de X ambos pertencem ao mesmo conjunto da união, e esse conjunto é uma relação transitiva; então ( x , z ) {\displaystyle (x,z)} também está neste conjunto, portanto em M {\displaystyle {\mathcal {M}}} .
Aplicando o Lema de Zorn, deduzimos que P {\displaystyle {\mathcal {P}}} admite um limite superior com respeito ao conjunto de inclusões; vamos chamar T esse limite.
T tem que ser uma relação completa, já que s
Tem que haver uma relação completa, já que se não fosse, poderíamos construir (exatamente como no Lema anterior) outra relação binária que se estende estritamente (inclui estritamente) T e é uma ordem parcial estrita, de modo ainda mais um elemento de P {\displaystyle {\mathcal {P}}} , contradizendo que T é um maximal de P {\displaystyle {\mathcal {P}}} .
Então T é uma relação binária irreflexiva, transitiva e completa em X. Mas como observamos acima, irreflexividade e transitividade dão assimetria que, com transitividade e completividade, dão a negatividade transitiva.
Portanto T é uma ordem estrita em X que estende a ordem parcial R.