Em sociologia, uma sociedade (do termo em latimsocietăs,[1] que significa "associação") é um grupo de indivíduos se relacionando, a fim de conseguir e preservar seus objetivos comuns.[2][3] Os objetivos comuns, compartilhados pelos membros da sociedade, são os próprios objetivos da sociedade, ou seja, o bem comum.[3]
Não é um grupo qualquer, mas é um grupo soberano de indivíduos, não dependendo de forças externas, onde existe uma rede (sistema) total e abrangente de relacionamentos, na qual todos os seus indivíduos e comunidades membros estão interligados.[2][3] Uma sociedade é composta por membros que compartilham um princípio fundamental, geral, vinculando todos, dentro do grupo, a uma mesma finalidade ( o bem comum).[3]
Há quem considere que não existam sociedades nem classes sociais, como Margaret Thatcher (a "Dama de Ferro"), política britânica que ascendeu ao lugar de Primeiro-Ministro, e chegou a afirmar que ela mesma (a sociedade) não existe. Conforme disse, só existem os indivíduos e suas comunidades familiares.[4]
A sociedade pode ser institucionalizada ou não.[3] O Estado é uma instituição (ou conjunto de instituições públicas), dedicada ao gerenciamento da sociedade (sociedade com estado).[3] Ao contrário, pode se falar das sociedades apátridas (sociedade sem estado), as quais existiram durante a maior parte da história.
Sociedade, comunidade e indivíduo
É comum haver confusão entre os conceitos distintos (mas próximos) de sociedade e comunidade. Os grupos intermediários, ao individuo e à sociedade, são as comunidades. As comunidades possuem tanto mais características subjetivas e íntimas do que uma sociedade, quanto também possuem mais características objetivas e abrangentes do que as individualidades.
Comunidades possuem um lado impessoal, com normas gerais, mas também possuem características subjetivas e pessoais, comuns entre aqueles que as integram, os diferindo de demais grupos de uma sociedade. As comunidades se constituem em grupos intermediários entre os indivíduos e a sociedade, com normas objetivas e externas aos seus indivíduos, porém estas mesmas normas são encaradas como subjetivas, frente à sociedade a qual determinada(s) comunidade(s) pertença(m).
As comunidades são sociedades menores e "individualizadas", possuindo relações intermediárias, que sirvam de "ponte" entre os indivíduos e a sociedade. Exemplos de comunidades são as famílias, escolas, o local de trabalho, os amigos e a vizinhança.[3] Existem também as comunidades religiosas (institucionalizadas ou não) militares, econômicas, empresariais, dentre outras.
Atualmente, os antropólogos e muitos cientistas sociais se opõem vigorosamente contra a noção de evolução cultural e "etapas" rígidas como essas. Na verdade, muitos dados antropológicos têm sugerido que a complexidade (civilização, crescimento e densidade populacional, especialização etc.) nem sempre toma a forma de organização ou estratificação social hierárquica.
Além disso, o relativismo cultural, como uma abordagem generalizada ou ética, tem substituído as noções de "primitivo", melhor/pior ou "progresso" em relação às culturas (incluindo a sua cultura material/tecnologia e organização social).
Segundo o antropólogo Maurice Godelier, uma novidade importante na sociedade humana, em contraste com os parentes biológicos mais próximos da humanidade (os chimpanzés e os bonobos), é o papel de pai assumido pelos homens, que supostamente está ausente em nossos parentes mais próximos, para os quais a paternidade geralmente não é determinável.[5][6]
Na ciência política
As sociedades também podem ser organizadas de acordo com a sua estrutura política. A fim de crescer em tamanho e complexidade, existem sociedades de bandos, tribos, chefias, e sociedades estatais. Estas estruturas podem ter diferentes graus de poder político, dependendo dos ambientes cultural, geográfico e histórico nos quais essas sociedades estão inseridas. Assim, uma sociedade mais isolada com o mesmo nível de tecnologia e cultura que as outras sociedades tem mais probabilidade de sobreviver do que uma em estreita proximidade com outras sociedades que possam interferir em seus recursos. Uma sociedade que é incapaz de oferecer uma resposta eficaz para outras sociedades que concorram com ela normalmente é subsumida pela cultura da sociedade concorrente.
Na sociologia
O sociólogo Gerhard Lenski difere as sociedades com base em seu nível de tecnologia, economia e comunicação: (1) caçadores e coletores, (2) agrícolas simples, (3) agrícolas avançadas (4), industrial, e (5) especial (sociedades, por exemplo, de pesca ou marítima).[7] Esta classificação é semelhante ao sistema anterior desenvolvido pelos antropólogos Morton H. Fried, um teórico do conflito, e Elman Service, uma teórica da integração, que produziram um sistema de classificação para as sociedades para todas as culturas humanas com base na evolução da desigualdade econômica, da desigualdade social e do papel do Estado. Este sistema de classificação contém quatro categorias:
Bandos de caçadores-coletores (categorização de deveres e responsabilidades);
Sociedades Tribais, nas quais existem alguns casos limitados de classe social e prestígio;
Ao longo do tempo, algumas culturas evoluíram para formas mais complexas de organização e controle. Esta evolução sociocultural tem um efeito profundo sobre os padrões da comunidade. Tribos de caçadores-coletores se estabeleceram em torno de fontes de alimentos sazonais para tornarem-se aldeias agrárias. As aldeias cresceram para se tornarem vilas e cidades. As cidades se transformaram em cidades-estados e estados-nação.[8]
Muitas sociedades distribuem generosidade a mando de algum indivíduo ou algum grupo maior de pessoas. Este tipo de generosidade pode ser vista em todas as culturas conhecidas. Normalmente, o indivíduo ou grupo generoso ganha prestígio ao realizar esses atos. Por outro lado, membros de uma sociedade também podem evitar ou excluir os membros que violem as suas normas (ver: Preconceito social). Mecanismos, tais como o ato de dar presentes, relações jocosas e bode expiatório, que podem ser vistos em vários tipos de agrupamentos humanos, tendem a ser institucionalizados em uma sociedade. A evolução social, como um fenômeno, traz, consigo, alguns elementos que poderiam ser prejudiciais para a respectiva população.
Algumas sociedades concedem status a um indivíduo ou um grupo de pessoas, quando esse indivíduo ou grupo executa uma ação admirada ou desejada. Este tipo de reconhecimento é concedido sob a forma de um título, nome, forma de se vestir, ou recompensa monetária. Em muitas sociedades, o status de adultos do sexo masculino ou feminino está sujeito a um ritual ou processo deste tipo. Ações altruístas no interesse da comunidade são vistas em praticamente todas as sociedades. Os fenômenos de ação comunitária, bode expiatório, generosidade, de risco compartilhado e recompensa são comuns a muitas formas de sociedade.
Na Biologia
As sociedades são associações entre indivíduos da mesma espécie, organizados de um modo cooperativo e não ligados anatomicamente. Os indivíduos, denominados sociais, colaboram com a sociedade em que estão integrados graças aos estímulos recíprocos. Sempre é observada a existência de hierarquia, uma divisão de funções para cada membro participante, o que gera indivíduos especialistas em determinadas funções aumentando a eficiência do conjunto e sobrevivência da espécie, a ponto de ocorrerem seleções na escolha da função de acordo com a estrutura do corpo de cada animal. Por exemplo, formigas-soldados são maiores e possuem mais veneno (mais ácido fórmico) que as formigas operárias; a abelha rainha é grande e põe ovos, enquanto que as abelhas operárias são menores e não põem ovos.
Na Educação
É notório e factual que a educação se manifesta enquanto um fenômeno de consciência humana muito mais antigo que a organização social, podendo ser até considerada a ancestral do que conhecemos enquanto sociedade, além de responsável pela produção e manutenção da cultura, como aponta Brandão em sua obra: o que é educação[9]. Porém é possível destacar também, que a partir das organizações sociais surgem as necessidades de se organizar e formalizar o ensino, dessa forma as sociedades, principalmente as modernas, e seus projetos sociais tem interferência direta na função, na atuação e no sentido da escola e do trabalho do docente, como apontam Hypólito e Da Rocha no artigo: Disputas pela escola pública, contribuições históricas para pensar o trabalho docente.[10]
Dessa forma, a sociedade atua na educação de maneira decisiva: legislando, regulamentando e adaptando suas concepções e formas de ensino de acordo com os interesses desta sociedade, mas também de maneira dialética de modo que ambas, educação e sociedade, se influenciam e se alteram em sua existência, trajetória e desenvolvimento a partir de uma relação semelhante a de retroalimentação.
Portanto, a sociedade e a educação são inseparáveis em concepção e prática, ainda mais, devem ser relacionadas diretamente com a formulação política que conhecemos como democracia, e cumpre papel crucial para qualquer projeto social ou de sociedade na modernidade, como defende Galter e Favoreto na publicação John Dewey: um clássico da educação para a democracia. [11]