Reino de Benguela

Reino de Benguela
Sec. XVI — 1869 
Primeiro brasão de armas de Benguela, fim do século XVII
Primeiro brasão de armas de Benguela, fim do século XVII
Primeiro brasão de armas de Benguela, fim do século XVII

Pormenor do Atlas Van der Hagen de 1662, representando o Reino de Benguela
Região África Central
Capital Ombaca (Sec. XV-1869)
Países atuais Angola

Línguas oficiais Umbundo
Religião Animismo

Soba
• 1590–1620  Mbegela
• 1869   ?

Período histórico
• Sec. XVI  Fundação
• 1869  Dissolução

O reino de Benguela foi uma nação africana, centrada na região da baía das Vacas, que teve como capital a localidade de Ombaca (actual Benguela).[1]

O seu território compreendia boa parte da província do Benguela e o sul do Cuanza Sul, sendo uma das quatro grandes entidades nacionais dos ovimbundos.

Com um curta vida como reino livre e independente, após a vassalagem ao reino de Portugal, torna-se um importante elemento colonial fantoche para o centro e oeste de Angola. O nome "Benguela" deriva de Mbegela, governante daquele reino à altura da chegada portuguesa.[2]

Histórico

A formação do reino de Benguela deu-se com a mesma dinâmica dos demais reinos ovimbundos: frentes migratórias de povos caçadores nômades fundiram-se com populações semi-nômades que já habitavam no território (no caso, a baía das Vacas). No caso do reino de Benguela, os povos nômades estavam deslocando-se das terras sob influência do reino do Dongo em direção ao sul.[1]

A formação política do reino deu-se no século XV, instalando capital na localidade de Ombaca (actual cidade de Benguela), porém ainda um entidade diminuta em tamanho e importância. Possivelmente o primeiro soba (rei) foi Mbegela, reinando entre 1580/1590 até 1620.[1]

Domínio português

Em fins do século XVI e início do século XVII, a costa do chamado reino de Benguela começava a ser cobiçada pelas potências coloniais. Assim, o rei Filipe I de Portugal deu ordem ao governador de Angola para que aí enviasse "uma pessoa de muita confiança e prática das cousas daquelas partes", com a finalidade de averiguar sobre as condições da costa, para ali fazerem escala as naus da Índia.[3]

Em 1615 Portugal estabelece seus primeiros acordos comerciais com o reino de Benguela, tendo Filipe II constituído a capitania de Benguela como entidade portuguesa administrativa, militar e de negócios junto aos governantes tradicionais para aquela porção do litoral angolano.[4] Segundo a Provisão Régia: "De meu poder real e absoluto, me praz e hei por bem, por esta presente provisão, a capitania, conquista e governo das províncias do dito Reino de Benguela (...) e por ela as erijo e ao dito reino em novo governo, para que de hoje em diante tenham separada a jurisdição e governador." [5] Assim, criava-se uma nova capitania tornando-a administradora dos negócios coloniais de Portugal diante do reino de Benguela.

Portugal inicialmente (1615) manteve-se longe do centro do reino de Benguela, fixando-se em Benguela-a-Velha (actual Porto Amboim) até que, em 1617, ocupa a capital nativa Ombaca, transformando-a na povoação de São Filipe de Benguela. Tal ato faz com que o reino de Benguela, ainda uma pequena entidade política ovimbunda com domínio sobre a região da baía das Vacas, torne-se vassalo de Portugal, anexando várias ombalas do litoral e interior próximo. A constituição desse reino expandido vinha como resposta ao contexto vigente e necessidade na época, então identificada pela coroa lusa, de fazer a ligação por terra entre a costa ocidental africana e Moçambique, visando a fortificação e consolidação do reino de Portugal. Mesmo com o reino de Benguela anexando várias ombalas, a organização política dos ovimbundos no litoral sempre foi mais fraca do que aquela observada no Planalto Central de Angola.[2]

A configuração de São Filipe de Benguela, que transformou-se de uma ombala nativa para um entreposto colonial, ficou a cargo de Manuel Cerveira Pereira, que partiu de Luanda em 11 de abril de 1617, à frente de uma força de 130 homens e rumou para sul, ao longo da costa até à baía das Vacas, que alcançou em 17 de maio. Além das moradas portuguesas, Cerveira Pereira ergueu também o Forte de São Filipe de Benguela.[2] Após tal empreitada, Cerveira Pereira foi nomeado como Governador, Conquistador e Povoador de Benguela, e simultaneamente Governador de Angola.

O primeiro ciclo económico da nova colónia foi a exploração das minas de cobre do Sumbe Ambela, a norte da foz do rio Cuvo (ou Queve), e a sul de Benguela-Velha, a primeira povoação portuguesa na região (fundada em 1587 e depois extinta), próximo da actual Porto Amboim.

Em 1779 a capitania foi substituída pelo distrito de Benguela como entidade administrativa. O reino subsistiu até o ano de 1869, quando foi finalmente extinto.

Autonomia plena

Após seu período inicial de quase 40 anos de autonomia (que em seguida tornou-se vassalagem), em pelo menos dois outros períodos históricos curtos o reino de Benguela obteve autonomia total e ameaçou seriamente as autoridades portuguesas na cidade de Benguela; o reino de Benguela a atacou em 1718 e 1760.[6]

Panorama geral

O Reino de Benguela permaneceu como fantoche português por mais de 200 anos, entre 1617 a 1869, porém havendo certo grau de autonomia ao soba durante todo este período. Somente por curtos períodos de existência foi inteiramente autônomo.[1] Sua economia baseava-se na produção agrícola e no comércio com os reinos ovimbundos do planalto.[7]

Referências

  1. a b c d Carvalho, Flávia Maria de. Os homens do rei em Angola: sobas, governadores e capitães mores, séculos XVII e XVIII. Niterói: Universidade Federal Fluminense, 2013.
  2. a b c Menezes, Bernardo Kessongo. Harmonização gráfica da toponímia do município de Benguela. Lisboa: Universidade Nova de Lisboa, 2015.
  3. Maria Emília Madeira Santos (1984). O problema da segurança das rotas e a concorrência Luso-Holandesa antes de 1620. [S.l.: s.n.] p. 143 
  4. Pires, Carlos. «Resumo da História de Benguela». Angola Saiago. Consultado em 23 de julho de 2013. Arquivado do original em 4 de março de 2016 
  5. Provisão Régia: DIAS, Gastão Sousa. Os Portugueses em Angola. Lisboa: Agência Geral do Ultramar, 1959. p. 99 e 100.
  6. Freudenthal, Aida.; Fernandes, José Manuel . Benguela, Angola: Enquadramento Histórico e Urbanismo. Heritage of Portuguese Influence/Património de Influência Portuguesa. 2020.
  7. Pires, Carlos (31 de outubro de 2008). «Benguela - Alguns Mapas e um pouco de História». CPires. Consultado em 22 de julho de 2013 

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