Nullarbor é um dos locais mais populares do mundo para procurar meteoritos,[2] com milhares de espécimes encontrados de 332 classes diferentes.[3] De acordo com as estimativas feitas pelo Museu da Austrália Ocidental em parceria com a EUROMET, até 2015, 55% dos meteoritos encontrados na Austrália vieram de Nullarbor.[4]
Muitos dos meteoritos encontrados na região não se encontram mais em território australiano, pois foram comprados por colecionadores particulares ou transferidos para outros museus.[5]
Geografia
Nullarbor é caracterizado por ser plano, árido e com vegetação rasteira
Nullarbor se encontra dentro da Depressão de Eucla, entre a Austrália Ocidental e a Austrália Meridional, que se formou durante o Mioceno.[4] Sua composição geográfica é feita principalmente de rochas de calcário que se estendem por 240 mil km², o que faz com que o terreno seja plano.[4] A vegetação é feita principalmente por arbustos e é considerada no geral constante.[6] O próprio nome "Nullarbor" vem do latim, significando "Sem árvores".[7] O clima é árido, com uma média de chuva que chega ao máximo a 240 mm na região de Mundrabilla.[6]
A grande quantidade de meteoritos encontrados em Nullarbor é explicada pelos fatores geográficos e climáticos da região, que criam uma tendência deles permanecerem no mesmo lugar onde caíram e a se manterem preservados.[4] Na queda, há um grande efeito da atmosfera no meteorito, mas por causa do clima árido, os efeitos do ambiente afetam o meteorito em média por apenas mil anos. Durante o período, desenvolve-se uma crostra de óxidos que protege o interior do meteorito contra os efeitos climáticos.[8] Além disso, a vegetação rasteira facilita a localização de meteoritos. A região também se manteve fisicamente intacta de atividades humanas por 30 mil anos.[8] Por isso, a região é importante para o estudo do clima terrestre[8] e do fluxo de meteoritos na Terra.[4] A única região mais prolífica para se encontrar meteoritos é a Antártica.[4]
Uma importante entidade para a coleção de meteoritos no estado foi o Museu da Austrália Ocidental. Em 1881, o reverendo Charles Grenfell Nicolay, geólogo e estudioso autodidata de história natural, havia se tornado conselheiro científico do governo australiano, e ganhou permissão do governador Sir William Robinson para formar uma coleção pública de rochas, minerais e fósseis, que seria o início do Museu Geológico. Em 1889, sua coleção foi transferida para Perth e combinada com a coleção de Henry Page Woodward, outro geólogo do governo. O Museu Geológico acabou agregando outras áreas do conhecimento e mudou de nome diversas vezes, até ser batizado com o nome atual em 1959.[5]
Primeiras descobertas na Austrália Ocidental
Os primeiros meteoritos da Austrália Ocidental foram encontrados devido a expansão da agricultura e da mineração no estado.[5] O primeiro encontrado foi Youndegin, cuja massa principal pesa 2.628 kg. Ele é um meteorito de ferro cujo primeiro fragmento (11,7 kg) foi descoberto em 5 de janeiro de 1884 por Alfred Eaton, membro da Polícia Montada, e recebeu seu nome em homenagem ao posto policial a 50 km a noroeste do local.[9] A descoberta chamou a atenção de Nicolay, que ordenou a primeira excursão oficial em busca de outros fragmentos e fez a primeira descrição de meteorito do estado.[5]
A partir de então, diversos meteoritos e crateras de grande importância científica foram descobertas, incluindo o meteorito de Bencubbin, a cratera de Wolf Creek e a cratera de Dalgaranga. As descobertas fizeram que houvesse um crescimento do interesse da comunidade científica no fim dos anos 50 e no início dos anos 60. Físicos da Universidade da Austrália Ocidental passaram a colaborar nos estudos de meteoritos e o Museu da Austrália Ocidental criou o Comitê Consultivo de Meteoritos, para supervisionar a coleção e fazer parcerias com outras instituições quando necessário.[5]
A Escola de Minas de Kalgoorlie já possuia meteoritos da Austrália Meridional desde 1915, quando o meteorito Naretha foi descoberto pelo engenheiro surpervisor John Darbyshire, que estava trabalhando na construção do trilho do trem que passaria por Nullarbor.[10]
Devido ao crescimento de interesse pelos meteoritos no estado vizinho, nos anos 60 a Escola de Minas passou a criar sua própria coleção na região, que na época chegou a ter 2% de todos os meteoritos já encontrados no planeta (37 exemplares).[5]
Entre 1963 e 1971, expedições da escola recuperaram 809 meteoritos em Nullarbor.[5]
Família Carlisle
A família Carlisle eram caçadores de coelhos que atuavam na região de Nullarbor e já tinham certa experiência em encontrar meteoritos.[5][11]
Interessado pelas descobertas da Escola de Minas, Harvey Harlow Nininger, renomado colecionador de meteoritos, viajou até o estado para realizar suas buscas. Lá, ele foi introduzido a Albert John Carlisle, que encontrou dois meteoritos para Nininger, sendo um deles o Rawlinna 001, o primeiro meteorito de pallasita encontrado no estado.[5][12]
Inspirados por Nininger, nos anos seguintes a família doou grandes quantidades de meteoritos, sendo vários deles raros e únicos, para a Escola de Minas de Kalgoorlie, e depois para o Museu da Austrália Ocidental, por causa do Museum Act (1969), lei que transferiu todos os Meteoritos do estado para a coleção real no museu.[5]
O número de meteoritos descobertos cresceu, até que houve uma explosão nos anos 90, com a maioria deles sendo encontrados na região de Nullarbor.[8]
Então, em 1986, o Museu da Austrália Ocidental, junto com parceiros como a EUROMET, lançaram o Programa de Recuperação de Meteoritos. O programa foi bem-sucedido e, apenas entre 1992 e 1994, recuperou 600 espécimes.[5]
Em 2007, a Universidade Curtin instalou um protótipo de uma rede de câmeras conhecidas como Desert Fireball Network na região de Nullarbor[13] com o objetivo de registrar a queda de meteoritos[14] e procurar por um meteorito cometário, para avançar nos estudos sobre a formação do Sistema Solar.[15] O protótipo foi um sucesso, e um meteorito foi encontrado logo no primeiro dia de funcionamento a apenas 100 m do local previsto.[16] Atualmente, o projeto conta com 50 câmeras que cobrem um terço do céu australiano e colabora com projetos como o Observatório Global de Bolas de Fogo.[17]
Em 2022, um meteorito da região foi recuperado pela equipe utilizando um drone e inteligência artificial, sendo um marco tecnológico para a área.[18][19]
Devido ao grande fluxo de meteoritos encontrados em Nullarbor, os cientistas A. W. R. Bevan, do Departamento de Mineralogia do Museu da Austrália Ocidental, e R. A. Binns, da Divisão de Exploração da Geociência do SCIRO, criaram um sistema de nomenclatura para meteoritos na região localizada na Austrália Ocidental. Nele, a região foi dividida em 47 áreas, e os meteoritos encontrados são denominados com o nome da região e um número. Os meteoritos recuperados antes de 1970 sofreram no máximo pequenas auterações em seus nomes, como no caso de Forrest (a) e (b), que viraram Forrest 001 e 002.[2]
Em junho de 1993, o sistema de nomenclatura foi expandido para a Austrália Meridional por A. W. R. Bevan, do Departamento de Ciências Planetárias do Museu da Austrália Ocidental, e A. Pring, do Departamento de Mineralogia do Museu da Austrália Meridional. Meteoritos encontrados antes de 1989 não foram renomeados.[1]
Meteorito de mais de uma tonelada, cujo primeiro fragmento foi descoberto em 1911 por Harry Kent e a massa principal foi descoberta em Mundrabilla em 1966. Estima-se que ele tenha caído há um milhão de anos.[20][21] Ele é o meteorito mais pesado encontrado na Austrália, com a massa principal tendo 12,4 toneladas.[22] Desde então, mais de 12 fragmentos foram encontrados, totalizando uma massa de 20 toneladas.[8] O meteorito é o mais antigo já encontrado em Nullarbor.[8]
Dingo Pup Donga
Meteorito encontrado em 1966 por Albert John Carlisle há 20 km de Sleeper Camp, perto de um esqueleto de um filhote de Dingo. É um meteorito raro de 122.7 g, com sua composição feita de ureilita e interior contendo fenocristais vítreos e com brecha contendo olivina e clinopiroxena. Possui fases de carbono elemental, como diamantes isométricos e lonsdaleíta.[23][24]
↑ abcdefBEVAN, Alex W. R. (Março de 1996). «Meteorites recovered from Australia». Museu da Austrália Ocidental. Journal of the Royal Society of Western Australia (1): 79. Consultado em 18 de dezembro de 2022
↑Bland, P. A.; Towner, M. C.; Sansom, E. K.; Devillepoix, H.; Howie, R. M.; Paxman, J. P.; Cupak, M.; Benedix, G. K.; Cox, M. A. (1 de agosto de 2016). «Fall and Recovery of the Murrili Meteorite, and an Update on the Desert Fireball Network». 79th Annual Meeting of the Meteoritical Society. 79 (1921). 6265 páginas. Bibcode:2016LPICo1921.6265B. 6265
↑Weisberg, Micheal K; McCoy, Timothy J; Krot, Alexander N (2006). «Systematics and evaluation of meteorite classification». Meteorites and the early solar system. [S.l.: s.n.]
↑Howie, Robert M.; Paxman, Jonathan; Bland, Philip A.; Towner, Martin C.; Cupak, Martin; Sansom, Eleanor K.; Devillepoix, Hadrien A. R. (1 de junho de 2017). «How to Build a Sontinental scale Fireball Camera Network». Experimental Astronomy (em inglês). 43 (3): 237–266. Bibcode:2017ExA....43..237H. ISSN0922-6435. doi:10.1007/s10686-017-9532-7
↑Bland, Philip A.; Spurný, Pavel; Towner, Martin C.; Bevan, Alex W. R.; Singleton, Andrew T.; Bottke, William F.; Greenwood, Richard C.; Chesley, Steven R.; Shrbený, Lukas (18 de setembro de 2009). «An Anomalous Basaltic Meteorite from the Innermost Main Belt». Science (em inglês). 325 (5947): 1525–1527. Bibcode:2009Sci...325.1525B. ISSN0036-8075. PMID19762639. doi:10.1126/science.1174787