Os pastores, em Belém

"Os pastores, em Belém" é uma canção de Natal tradicional portuguesa originária de Vila Nova de Foz Coa na região do Alto Douro.[1]

História

Bartolomé Esteban Murillo: Adoração dos pastores (c. 1657) no Museu do Prado.

A cantiga foi publicada no ano de 1926 pelo etnógrafo português Edmundo Correia Lopes no seu Cancioneirinho de Foz Coa.[1][2] Em 1939 outro etnógrafo português, Luís Chaves, na Revista Lusitana, estudou a composição, destacando o seu "estribilho animador" e as evidências de castelhanismos.[1]

De facto, a primeira quadra é uma tradução da conhecida trova espanhola:

Los pastores de Belén
Todos juntos van por leña,
Para calentar al Niño
Que nació la Nochebuena.[3]

O último verso, que em português se traduz como: "Que nasceu na noite de Natal", foi adaptado, segundo Edmundo Correia Lopes por analogia a conjuntos como lentejuela e lentejoila, como "noite boina".[2]

A segunda quadra, por sua vez, não apresenta castelhanismos óbvios, mas reproduz um tema bem conhecido em Espanha, tome-se como exemplo a seguinte quadra:

La Virgen estaba lavando
Y tendiendo en el romero,
Los pajaritos cantaban
Adoremos el misterio.[4]

A Virgem estava lavando
E estendendo no rosmaninho[Nota 1]
Os passarinhos cantavam
Adoremos o mistério.

O compositor português Fernando Lopes-Graça harmonizou a melodia, que incluiu na sua Primeira Cantata do Natal, terminada em 1950.[5]

Letra

Rosmaninho (Lavandula stoechas).

O tema de Os pastores, em Belém é, como o nome indica, a adoração dos pastores.[1] Segundo a narrativa bíblica, os pastores nos arredores de Belém que guardavam os seus rebanhos em vigília noturna são informados do nascimento de Jesus por um anjo, tendo ido, de seguida, adorar o Menino.

Estes pastores recolhem lenha pelo caminho para aquecer o recém-nascido que nasceu pobre e numa noite fria. Contudo, são advertidos a não queimar o rosmaninho, uma planta que, segundo a tradição ibérica, foi abençoada por Maria com poderes medicinais por ter servido de estendal à roupa do seu filho.[4]

Os pastores, em Belém,
Todos juntos vão à lenha,
Pra aquecer o Deus Menino,
Que nasceu na noite boina.

Vamos a Belém, a Belém, a Belenzinho,
Vamos a Belém adorar o Deus Menino.

Pastores, que andais à lenha,
Não queimais o rosmaninho,
Que é donde a Virgem 'stendia
Os cueiros do Menino.

Vamos a Belém, a Belém, a Belenzinho,
Vamos a Belém adorar o Deus Menino.[1]

Discografia

  • 1956Cantos Tradicionais Portugueses da Natividade. Coro de Câmara da Academia de Amadores de Música. Radertz. Faixa 13.
  • 1970Natal. Coral dos Estudantes de Letras da Universidade de Coimbra. Ofir. Faixa 4.
  • 1978Primeira Cantata do Natal. Grupo de Música Vocal Contemporânea. A Voz do Dono / Valentim de Carvalho. Faixa 13.
  • 1994Lopes Graça. Grupo de Música Vocal Contemporânea. EMI / Valentim de Carvalho. Faixa 13.
  • 20001ª Cantata do Natal Sobre Cantos Tradicionais Portugueses de Natividade. Coral Públia Hortênsia. Edição de autor. Faixa 13.
  • 2012Fernando Lopes-Graça - Obra Coral a capella - Volume II. Lisboa Cantat. Numérica. Faixa 16.
  • 2013Fernando Lopes-Graça - Primeira Cantata de Natal. Coro da Academia de Música de Viana do Castelo. Numérica. Faixa 13.[5]

Ver também

Notas e referências

Notas

  1. Na verdade, o romero espanhol (Rosmarinus officinalis) corresponde ao alecrim português. O rosmaninho português (Lavandula stoechas) chama-se cantueso em castelhano.

Referências

  1. a b c d e Chaves, Luís (1939). Revista Lusitana: O Natal no folclore e na arte popular. 37 1 ed. Lisboa: Livraria Clássica Editora. p. 92 
  2. a b Lopes, Edmundo Arménio Correia (1926). Cancioneirinho de Fozcoa. Contribuição para a história e crítica da música do povo português 1 ed. Coimbra: Imprensa da Universidade. p. 215 
  3. Hare, Augustus John Cuthbert (1873). «Navarre and Arragon». Wanderings in Spain. With Seventeen Illustrations (em inglês) 1 ed. Londres: Strahan and Co. p. 19 
  4. a b Caballero, Fernán (1855). «VIII». La estrella de Vandalia. cuadro de costumbres (em espanhol) 1 ed. Madrid: Imprensa de Antonio Andrés Babi. p. 69-70. 135 páginas 
  5. a b Paula de Castro; Miguel Azguime, et al. «Primeira Cantata do Natal». Centro de Investigação & Informação da Música Portuguesa. Consultado em 7 de agosto de 2015 

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