Os Incríveis é uma banda brasileira de rock formada em São Paulo, em 1962. Inicialmente, o grupo utilizava o nome The Clevers - seguindo a moda da época de nomes de conjuntos em inglês - e atingiu algum sucesso na época com versões de canções italianas e músicas instrumentais, chegando a comandar um programa de televisão. Em 1964, tocam como banda de apoio em uma apresentação que Rita Pavone fez na TV brasileira e recebem um convite da cantora para acompanhá-la em uma turnê europeia. Ao regressarem, começam uma briga com o seu empresário - o radialista Antônio Aguillar - que os leva a uma temporada na Argentina e a trocar o nome da banda. Continuam fazendo sucesso com o novo nome, lançando álbuns e compactos, participando de programas de tv - como o Jovem Guarda, e chegando a estrelar um filme - Os Incríveis Neste Mundo Louco - dirigido por Brancato Júnior. No final dos anos 1960 e início dos anos 1970, lançam uma série de sucessos de impacto nacional, como "O Milionário", "Minha Oração", "Era Um Garoto Que Como Eu Amava os Beatles e os Rolling Stones" e "Eu Te Amo, Meu Brasil". Entretanto, devido à pressão gerada pelo sucesso desta última canção - por parte da imprensa, do governo e da gravadora, a banda encerra suas atividades no início de 1972.
No ano seguinte, Mingo, Nenê e Risonho retomam o grupo acompanhados de músicos de estúdio e lançam 3 álbuns e diversos compactos. Em 1981, os músicos da formação original se reúnem para lançar um último álbum e se separam novamente. No início da década de 1990, alguns membros da banda chegaram a se apresentar em shows e programas de televisão como Os Incríveis, mas não houve a gravação de nenhum disco novo. Em 1995, Netinho produz o show Novo de Novo - para comemorar trinta anos da estreia do programa Jovem Guarda - e busca reunir a banda, mas, diante da negativa de vários membros, resolve montar o conjunto com novos músicos. A partir desta data, entre períodos mais parados e outros mais movimentados, o grupo continua fazendo apresentações pelo país, lançando um DVD em 2015 em comemoração aos 50 anos da troca do nome da banda. Em 2018, lançam o primeiro álbum com material inédito desde 1981 e continuam tocando pelo país regularmente.
Carreira
O início: The Clevers
Domingos Orlando (Mingo), Waldemar Mozena (Risonho) e Demerval Teixeira Rodrigues (Neno) eram três adolescentes paulistanos que conheceram Antônio Rosas Sanches (Manito) - que morava na mesma cidade, mas que havia nascido em Vigo, na Espanha - e resolveram montar uma banda com ele. O incentivo veio da família de Manito formada por pessoas que estavam sempre tocando instrumentos e cantando. Todos gostavam de rock - e dos estilos derivados que estavam na moda, como o twist. A dificuldade estava em encontrar um baterista, já que Mingo e Risonho tocavam guitarra; Neno tocava baixo e Manito tocava praticamente qualquer instrumento de sopro ou de teclas. Foi então que o quarteto conheceu Luiz Franco Thomaz (Netinho) - que nasceu em Itariri e tinha vindo de Santos para estudar - e, ao descobrir que ele já havia tocado bateria em uma orquestra, convidou-o para entrar no grupo. Mas tinha uma condição: ele precisava ter uma bateria. Netinho ligou para o seu avô pedindo o instrumento de presente e, a partir daí, carregou o apelido para toda a vida.[1]
Assim, em 1962, os cinco começaram a ensaiar e a tocar em festas. O repertório era influenciado pelas músicas que faziam sucesso na época: twist, surf music e outros rocks instrumentais, influenciados por grupos como The Shadows e The Ventures. Nas festas, beneficiavam-se do fato de alguns deles já terem tocado em outros conjuntos que faziam relativo sucesso: The Jet Blacks e The Jordans. Assim, no ano seguinte, em uma dessas apresentações, são ouvidos pelo radialista e apresentador Antônio Aguillar que comandava um programa de TV chamado Ritmos para a Juventude, exibido pela TV Paulista. O apresentador utilizava o programa para promover bandas de rock que ele, então, passava a empresariar. E Aguillar já estava trabalhando justamente com aqueles dois grupos quando conheceu o quinteto. Logo, o apresentador apadrinha o grupo, dando a eles o nome de The Clevers e conseguindo um contrato para gravarem alguns compactos para a gravadora GEL, através do selo Continental, do diretor artístico Diego Mulero - o Palmeira da dupla Palmeira & Biá.[2][3]
Sucesso
Em agosto de 1963, lançam o seu primeiro single, um 78 RPM com "Afrika" e "El Relicario", imediatamente estourando com o lado B. Após o sucesso inicial, a gravadora e o empresário pressionaram os rapazes para que gravassem alguma coisa cantando também. Assim, foi lançado em outubro "I Want You Baby" / "Look at My Eyes", com Mingo assumindo os vocais. Seguiu, ainda, mais um 78 RPM em novembro - com "El Novillero" e "Maria Cristina" - e um LP em outubro: Encontro com The Clevers (Twist). No final de novembro, a Folha de S.Paulo já está congratulando Aguillar por ter descoberto o grupo que mais fazia sucesso no momento.[4] No início de janeiro de 1964, embarcam como atração principal em um cruzeiro marítimo - o Princesa Leopoldina - que percorreu diversas cidades do Brasil, como Santos, Rio de Janeiro, Belém e Manaus.[5]
No início de 1964, enquanto estão no cruzeiro, a gravadora faz diversos lançamentos para aproveitar o sucesso. Logo, saem mais três 78 RPM: "Jalousie" / "Veneno", em janeiro; "Il Tancaccio" / "Clever's Surf", em abril; e "Menina dos Sonhos Meus" / "Se mi Vuoi Lasciari", em maio. Além disso, ocorre o lançamento de dois compactos duplos: Encontro com The Clevers (Twist), contendo material do primeiro álbum, sai em fevereiro; e The Clevers com Hully Gully - em que a gravadora busca pegar uma carona com a dança da moda, em maio. Finalmente, saiu também, no começo do ano, o segundo álbum de estúdio do grupo: Os Incríveis. Com a volta do quinteto após o cruzeiro e a continuidade do sucesso, gravam, em junho,[6] o seu terceiro disco - Os Incriveis Vol. 2 - que é lançado no mês seguinte e rende críticas favoráveis ao grupo.[7]
Rita Pavone
Em junho, sai a notícia de que Rita Pavone - cantora italiana que estava fazendo imenso sucesso no Brasil com sua canção "Datemi un Martello" - viria ao país para se apresentar em São Paulo como parte de sua turnê mundial que passaria pela América do Sul - apresentaria-se antes, também, em Buenos Aires.[8] Ao saber da notícia, Antônio Aguillar - cujo programa já se chamava Reino da Juventude e era exibido pela TV Record, após breve passagem pela TV Excelsior - foi falar com Paulo Machado de Carvalho, seu chefe, para conseguir uma aparição da cantora no seu programa. O dono da TV Record foi falar com Teddy Reno assim que a cantora desembarcou no Brasil, em 19 de junho, e ficou acertado uma aparição de Rita no programa de Aguillar e outra na TV Rio, associada da Record na capital da Guanabara. Assim, no dia seguinte, Rita comparece à gravação do programa - que seria exibido na tarde de domingo, cantando acompanhada do quinteto. A cantora e seu empresário gostam tanto da performance da banda que os convidam para serem a banda de apoio nos shows que Rita faria no Teatro Record. Desse modo, os Clevers ensaiam com a cantora na segunda-feira e a acompanham nos shows realizados em São Paulo - bem como a uma apresentação relâmpago em frente ao prédio da TV Rio, no dia 25 de junho, e em uma festa no Clube Atlético Monte Líbano, no dia 26.[9]
Após as apresentações, o conjunto foi convidado por Rita e seu empresário para realizarem uma turnê por mais de 30 cidades europeias, começando em agosto e terminando com o show de encerramento do 25º Festival Internacional de Cinema de Veneza, em 10 de setembro. Viajaram à Europa na companhia de Brancato Júnior, que seria o representante da banda por lá. Enquanto estavam na Europa, compraram equipamento de primeira linha para o grupo.[10][11][12][13] Enquanto o grupo se encontrava na Europa, sua gravadora não ficou parada e tratou de lançar um compacto simples - o primeiro da carreira da banda - com "Datemi un Martello" e "Sul Cucuzzolo", já em agosto, e um compacto duplo, em setembro: The Clevers Internacional.[14] Após a volta da banda, saiu também o compacto duplo Veneno.[15]
Esta viagem fez surgir um boato sobre um namoro entre a cantora e o baterista da banda, o Netinho. O namoro sempre foi confirmado pelo brasileiro - que chegou até a falar em casamento na época,[13] mas Pavone nunca comentou o relacionamento. O que é certo é que a história rendeu - e rende até hoje[16] - muita cobertura de imprensa para o grupo.[17] Além disso, Rita Pavone acabaria casando quatro anos mais tarde, em 1968, com o seu empresário.[18]
Mudança de nome
Com a volta do grupo para São Paulo, em setembro,[13] os músicos decidem trocar de empresário, separando-se de Antônio Aguillar e escolhendo Brancato Júnior para ser seu novo representante. Isto provoca uma briga, com Aguillar acusando Brancato de "envenenar" os músicos para "roubar" a banda dele. Como resultado, Aguillar proíbe-os de utilizar o nome The Clevers que ele havia registrado em julho como sua propriedade. Inicialmente, a banda e Brancato aceitam trocar o nome para Os Incríveis, fazendo o anúncio para a imprensa em novembro.[19] Entretanto, a gravadora resiste à ideia de mudar o nome do grupo que estava gravando material para o lançamento de um novo disco em janeiro.[20][21] Além disso, após o desentendimento, Aguillar também havia registrado a marca Os Incríveis através da qual produzia os LP's que eram lançados pelo grupo. Assim, inicia-se uma batalha judicial pelo nome da banda que teria fim apenas em julho de 1965, quando as partes concordam com Aguillar manter a marca "The Clevers" e ceder a marca "Os Incríveis" ao grupo e seu novo empresário.[22][23][24]
Enquanto ainda estava acontecendo a briga judicial, a gravadora lançou um novo compacto simples, em janeiro - com "In Ginocchio da Te" e "Raunchy", e o quarto álbum da banda, no mesmo mês: Dançando com The Clevers - Os Incríveis Vol. 3. O álbum recebeu, novamente, resenha na Folha, mas o grupo chamava mais atenção pela briga judicial do que pelo conteúdo do disco.[25] Ainda, em abril, sai o último compacto duplo com o antigo nome da banda: Sensacional.[15] A banda, por outro lado, acompanhou a cantora italiana Stella Dizzy em sua apresentação na TV Rio em dezembro e viajou para a Argentina para cumprir compromissos por lá.[26] O que deveria ser uma curta temporada, durou até o fim de maio, quando voltaram para o Brasil. Em Buenos Aires, tocaram, promoveram a banda e assinaram um contrato com a CBS Argentina para a gravação e lançamento de um disco por lá: Los Increíbles, que seria lançado no Brasil somente em fevereiro de 2019.[27]
A Jovem Guarda e o sucesso
O sucesso veio durante o período da Jovem Guarda, com canções populares como "O Milionário", "Minha Oração", "Era um Garoto Que, Como Eu, Amava os Beatles e os Rolling Stones" - uma versão brasileira da música italiana "C’e come um regazzo me amava Beatles e Rolling Stones", de Gianni Morandi - e "Eu Te Amo, Meu Brasil", sendo esta última uma canção de exaltação da pátria brasileira que fez um enorme sucesso popular durante o Governo Emílio Médici.
O fim da banda
Ao longo dos anos de 1970, ex-integrantes dos Incríveis formariam outras importantes bandas do rock brasileiro, Netinho montou a banda Casa das Máquinas e Manito juntamente com Pedro Baldanza e Pedro Pereira da Silva formaram o famoso grupo progressivo Som Nosso de Cada Dia.[28][29][30]
Mingo, Nenê e Risonho
Reunião e novo fim
A volta
Entre 2001 e 2005 o grupo voltou a se reunir em algumas ocasiões.[31]
Legado
Em 2005, "Os Incríveis" foi uma das bandas escolhidas para serem homenageadas no álbum "Um barzinho, um violão", onde foram regravadas músicas de bandas de grande sucesso das décadas de 1960 e 1970. Foi escolhida a música "O Vagabundo", interpretada pela banda Engenheiros do Hawaii.[32]
Integrantes
Outros integrantes
- Domingos Orlando (Mingo): guitarra e vocal (1962 - 1970; 1973 - 1981)
- Aroldo Santarosa: guitarra e vocal (1970 - 1972)
- Waldemar Mozena (Risonho): guitarra (1962 - 1972; 1973 - 1981)
- Manito: teclados e saxofone (1962 - 1972; 1995 - 2010)
- Nenê Benvenuti: baixo e vocais (1962 - 1972; 1973 - 1981)
- Demerval Teixeira Rodrigues (Neno): baixo (1962 - 1965)
Discografia
Álbuns de estúdio
Como The Clevers
- 1963 - Encontro com The Clevers (Twist) (Continental)
- 1964 - Os Incriveis (Continental)
- 1964 - Os Incriveis Vol. 2 (Continental)
- 1965 - Dançando com The Clevers - Os Incríveis Vol. 3 (Continental)
Como Os Incríveis
Álbuns ao vivo
Trilha sonora
- 1967 - Os Incriveis Neste Mundo Louco (Continental)
Ver também
Referências
- ↑ Jeison Silva (14 de setembro de 2018). «Netinho: os anos Incríveis do batera de Itariri». Diário de Canoas. Consultado em 11 de maio de 2020
- ↑ Reis 2011, pp. 28-29
- ↑ Reis 2011, pp. 87-91
- ↑ Folha de S.Paulo 1963
- ↑ Folha de S.Paulo 1964a
- ↑ Valentini 1964a
- ↑ Valentini 1964b
- ↑ Folha de S.Paulo 1964b
- ↑ Carlos 2009, p. cap. 1
- ↑ Folha de S.Paulo 1964c
- ↑ Folha de S.Paulo 1964d
- ↑ Folha de S.Paulo 1964e
- ↑ a b c Folha de S.Paulo 1964g
- ↑ Folha de S.Paulo 1964f
- ↑ a b Marcelo Fróes (n.d.). «Discografia The Clevers». Portal Jovem Guarda. Consultado em 15 de maio de 2020
- ↑ «Netinho, ex-baterista de Os Incríveis, lança livro em SP». Estadão. 2 de abril de 2009. Consultado em 15 de maio de 2020
- ↑ Fróes 2000, p. 50
- ↑ Carlos Bozzo Junior (21 de agosto de 2015). «Baterista de Os Incríveis bota a boca no trombone e lança DVD». Folha de S.Paulo. Consultado em 15 de maio de 2020
- ↑ Folha de S.Paulo 1964i
- ↑ Folha de S.Paulo 1964j
- ↑ Revista Intervalo 1964b
- ↑ Aguillar, Aguillar & Ribeiro 2005, p. cap. O Fim
- ↑ Revista Intervalo 1965
- ↑ Fróes 2000, pp. 57 e 58
- ↑ Folha de S.Paulo 1965
- ↑ Revista Intervalo 1964a
- ↑ Mauro Ferreira (19 de fevereiro de 2019). «Banda Os Incríveis tem editado em CD o álbum que gravou na Argentina em 1965». G1. Consultado em 14 de maio de 2020
- ↑ Souto Maior & Schott 2014, pp. 146-147
- ↑ Saggiorato 2008, p. 118
- ↑ Resende 2016, p. 3
- ↑ «Os Incríveis - dados artísticos». Dicionário Cravo Albin da Música Popular Brasileira. N.d. Consultado em 13 de maio de 2020
- ↑ Alexandre Nagado (28 de abril de 2005). «Um barzinho, um violão e a Jovem Guarda». Omelete. Consultado em 13 de maio de 2020
Bibliografia
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- Folha de S.Paulo (1964c). The Clevers no exterior. São Paulo: Folha de S.Paulo, 20 de julho de 1964
- Folha de S.Paulo (1964d). Show & Noite. São Paulo: Folha de S.Paulo, 25 de julho de 1964
- Folha de S.Paulo (1964e). Show & Noite. São Paulo: Folha de S.Paulo, 29 de julho de 1964
- Folha de S.Paulo (1964f). CS do The Clevers. São Paulo: Folha de S.Paulo, 9 de agosto de 1964
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- Folha de S.Paulo (1964i). Os Incríveis. São Paulo: Folha de S.Paulo, 27 de novembro de 1964
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- Carlos, Erasmo (2009). Minha fama de mau. São Paulo: Objetiva. ISBN 8539000008
- Fróes, Marcelo (2000). Jovem Guarda: em ritmo de aventura. São Paulo: Editora 34. ISBN 9788573261875
- Reis, Edu (2011). The Jet Black's. São Paulo: Biblioteca24horas. ISBN 193610847X
- Resende, Vítor Henrique de (2016). Performances musicais no rock brasileiro dos anos 1970, por meio de análises de capas de discos. Curitiba: Revista Vórtex, Curitiba, v. 4, n. 1. p. pp. 1-13
- Saggiorato, Alexandre (2008). Anos de chumbo: rock e repressão durante o AI-5 Dissertação de mestrado ed. Passo Fundo: Universidade de Passo Fundo
- Souto Maior, Leandro; Schott, Ricardo (2014). Heróis da guitarra brasileira: Literatura musical. São Paulo: Irmãos Vitale
- Valentini (1964a). Os Clevers de novo incríveis. São Paulo: Folha de S.Paulo, 15 de junho de 1964
- Valentini (1964b). Os incríveis The Clevers. São Paulo: Folha de S.Paulo, 16 de julho de 1964
Ligações externas