Esta interessante cantiga tem diversos pontos de contacto com "Sou cigana", proveniente de Elvas, que é uma localidade próxima. Ambas seriam interpretadas pela personagem "Cigana" em peças de teatro popular.[2]Mário de Sampayo Ribeiro viu na versão de Elvas características que apontam para uma origem espanhola[3] e de facto, este Natal cigano adapta uma popular quadra andaluza:
Original
Tradução
Yo soy un pobre gitano Que vengo de Egipto aquí, Y al niño de Dios le traigo Un gallo quiquiriquí.[4]
Eu sou um pobre cigano Que venho do Egito aqui, E ao Deus Menino trago Um galo corococó.
A tradução amadora por populares dos versos que escutavam além da raia, cria a curiosa expressão "um galho quiriquiqui". É interessante notar que, enquanto que na língua castelhana, quiquiriquí procura representar o som de um galo já adulto[5], quiquiriqui ou quiqueriqui em língua portuguesa é usualmente uma onomatopeia que representa o som de um pintainho, em claro contraste com cocorocó.[6]
A letra da canção deve ter a sua origem entre os séculos séculos XVII ou XVIII, altura em que a "Cigana" passou a ser uma personagem comum nos autos populares. A redundância "cigana do Egito", que começa a cair em desuso a partir do século XVIII, expressa a ideia incorreta, mas enraizada, de que os ciganos eram originários do Egito[2] quando, na verdade, têm uma origem remota no subcontinente indiano.
A letra é muito pequena e simples. Tem uma única copla na qual que a Cigana, derrubando a quarta parede, se identifica e relata diretamente à plateia o propósito da sua viagem (ofertar um galo ao Menino Jesus). Segue-se um refrão em que a personagem apressa o seu burro de forma a chegarem mais rapidamente a Belém.
Na verdade a letra deste refrão não é exclusiva desta canção, existindo também, por exemplo, numa outra composição de Elvas, designada "Olhei para o céu".
Sou cigana do Egito
Cheguei mesmo agora aqui,
Ai, cheguei mesmo agora aqui.
Venho trazer ao Menino
Um galho quiriquiqui,
Ai, um galho quiriquiqui.
Arre burriquito,
Vamos a Belém,
A ver o Menino
Que a Senhora tem.
Que a Senhora tem,
Que a Senhota adora,
Arre burriquito,
Vamo-nos embora.[1]
↑Ribeiro, Mário de Sampayo (1939). «Música do Natal português». Lisboa. Ocidente. 6 e 7
↑Caballero, Fernán (1852). «La Noche de Navidad». Cuadros de costumbres populares andaluces (em espanhol) 1 ed. Sevilha: Librería Española y Extrangera de D. José M. Geofrin. p. 12. 280 páginas
↑«quiquiriquí» (em espanhol). Diccionario de la lengua española. Consultado em 27 de agosto de 2015
↑Coelho, Adolfo (1879). «O gallo e o pinto». Contos Populares Portuguezes 1 ed. Lisboa: P. Plantier. p. 10. 165 páginas