Um dos poucos campeões pelos rivais Juventus e Torino, estando na história do clássico de Turim também pelos três gols marcados pelo Toro em um dérbi seguinte à morte da estrela dos grenás (vencido por 4-0 mesmo nessas circunstâncias),[3] Combin é considerado um dos principais jogadores franceses no futebol italiano,[4] e foi eleito em 2011 para o time dos sonhos do Lyon mesmo após o período ainda mais vitorioso que o time teve no início do século XXI.[5]
Sem ter jogado profissionalmente em seu país de origem, Combin mudou-se aos 17 anos ao futebol europeu.[10] Ingressou nas categorias de base do Lyon, sendo promovido ao time principal em 1959.[10] A estreia na equipe adulta lionesa se deu em circunstâncias curiosas: Combin não teria qualquer documentação consigo e dependeu da cavalheira autorização do técnico adversário para poder jogar. Acabou marcando o gol da vitória, em partida contra o Valenciennes. Chegou a ser colega de dois outros argentinos no OL, primeiramente Roberto Marteleur (de rápida passagem em 1959) e depois Ángel Rambert, que também viria a defender a seleção francesa.[5]
Durante o período em que vestiu a camisa dos Gones, Combin fez uma prolífica dupla também com Fleury Di Nallo, e eles ajudaram o Lyon à 5ª posição no Campeonato Francês - melhor posição do clube até então - além de ter chegado à final da Copa da França de 1962-63.[10] Na edição seguinte da competição, o Lyon foi campeão, em sua primeira grande conquista nacional. Combin fez os dois gols da decisão, contra o Bordeaux de outro argentino da seleção francesa, Héctor de Bourgoing. Em paralelo, o time subiu para 4º lugar na Ligue 1 e foi semifinalista da Recopa Europeia, eliminado no jogo-desempate para o Sporting Clube de Portugal.[5] Naquele ano, Combin foi então convocado pela primeira vez para a seleção e foi vendido à Juventus.[10]
Juventus e Varese
A Juventus vivia um período de reformulação após a saída do galês John Charles e a aposentadoria de Giampiero Boniperti. Combin jogou apenas uma temporada na Vecchia Signora, conquistando apenas uma Copa da Itália, em 1965. Na Serie A, marcou sete vezes, o suficiente para ser o vice-artilheiro do elenco bianconero.[10] Porém, não convenceu o técnico paraguaioHeriberto Herrera e, para desocupar uma vaga de estrangeiro (que ele preenchia mesmo como cidadão francês, ao não existir naquele tempo nem o passaporte comunitário europeu e nem a Lei Bosman),[6] foi vendido ao Varese,[3] onde fez dupla com o jovem Roberto Boninsegna.[3]
Combin jogou pouco no Varese,[10] marcando apenas dois gols na Serie A de 1965-66, ainda que um deles tenha sido na Internazionale.[6] A despeito disso e do rebaixamento do clube, foi à Copa do Mundo FIFA de 1966 e mesmo com a má campanha dos Bleus no mundial, foi contratado pelo Torino.[10][6]
Torino
Em seu regresso a Turim, dessa vez pelo rival do ex-clube, Combin iniciou uma boa fase que lhe renderia o apelido de Il Selvaggio ("O Selvagem"), originado pelo seu espírito incansável.[10] Inicialmente, foram sete gols na temporada 1966-67, ainda que três tenham ocorrido somente na última rodada, contra o Brescia.[6] Na temporada seguinte, teve seu grande momento: foi vice-artilheiro do torneio, com treze gols, em meio a uma tragédia: após o franco-argentino marcar três gols em 4-2 sobre a Sampdoria, seu colega Luigi Meroni, visto como a grande promessa do Toro, morreu atropelado enquanto comemorava a vitória. O jogo seguinte foi justamente o clássico com a Juventus. Combin homenageou o amigo com uma exibição de gala, marcando novamente três gols em um jogo, em vitória grená por 4-0, entrando para a história do chamado Derby della Mole.[10]
À altura de 2013, o Torino seguia sem nunca mais ter voltado a rival por mais de dois gols de diferença. Naquela temporada, o clube pôde ser campeão da Copa da Itália, com gol de Combin na final contra a Internazionale.[11] Na Serie A, também marcou sobre a Inter, além de vazar também o campeão Milan (marcando o gol da vitória por 3-2), o vice-campeão Napoli (em 2-2 fora de casa, diminuindo derrota parcial de 2-0 já nos seis minutos finais antes dos turineses empatarem faltando três) e em vitória de 2-0 visitando a Roma. Na temporada 1968-69, Combin marcou sete vezes, incluindo em novo clássico com a Juve (que venceu por 2-1) e dois em nova vitória visitando a Roma (3-0). Foi o suficiente para ser o artilheiro do elenco granata.[6]
Nereo Rocco havia treinado Combin no Torino e o requisitou para o Milan, que contratou o franco-argentino.[10] Ele deixou o Toro após 31 gols em 106 partidas,[3] para jogar na equipe campeã da Liga dos Campeões da UEFA naquela temporada de 1968-69.[6]
Milan e o "massacre da Bombonera"
Combin chegou para substituir Kurt Hamrin, vendido ao Napoli, assumindo logo a titularidade de um ataque que já tinha Gianni Rivera, Pierino Prati e Ângelo Sormani. O time não fez uma boa temporada europeia, caindo ainda nas oitavas de final da Liga dos Campeões da UEFA, eliminado ainda na primeira fase da Copa da Itália e apenas na 4ª colocação da Serie A,[10] em que o franco-argentino marcou somente cinco vezes. Em meio a essas campanhas, porém, o Milan venceu o Mundial Interclubes de 1969,[10] na primeira conquista do clube na competição.[6] Combin terminaria involuntariamente como o protagonista da façanha.[10][12]
Aquela edição foi a primeira em que o critério do gol fora de casa teria peso de desempate. O primeiro jogo foi em Milão e os argentinos do Estudiantes de La Plata, embora pretendessem defender-se, teriam dominado sessenta dos noventa minutos, sem impedir uma derrota de 3-0 nos poucos instantes de desatenção. Em um deles, nos acréscimos do primeiro tempo, Combin aproveitou de falha de Ramón Aguirre Suárez e ficou frente a frente com o goleiro Alberto José Poletti,[12] driblando-o antes de marcar o segundo gol.[10] Em 2015, outro adversário, Raúl Madero, que seria o médico da seleção argentina na Copa do Mundo FIFA de 1986, declarou à revista El Gráfico que "toda a confusão foi armada por Néstor Combin, o camisa 9 do Milan, que era argentino. No jogo na Itália, que eles ganharam por 3-0, veio zombar. Disse em um momento a Aguirre Suárez: 'negro, não se aqueças mais porque em um mês eu ganho o mesmo que você em dois anos'. Disse isso justo ao Negro. 'Ali arrebento tua cabeça', lhe respondeu. E em La Bombonera lhe meteu um socão e lhe disse 'agora vá se danar', e armou-se a confusão generalizada. Eu fui um dos poucos que separei porque se não, íamos todos à cadeia, mas a confusão começou com a provocação de Combin lá".[13]
Duas semanas depois, em La Bombonera, Combin interceptou um passe mal dado e serviu para Rivera driblar Poletti e abrir o placar. Ainda no primeiro tempo, os argentinos conseguiram virar para 2-1 com dois gols-relâmpago, o segundo deles marcado pelo próprio Aguirre Suárez. O descontrole começou na segunda etapa, à medida que não conseguiam mais criar chances,[12] contidos pela retranca catenaccio italiana.[10] Poletti e Aguirre Suárez foram os mais descontrolados, com este fraturando o nariz e inchando o olho de Combin ao desferir-lhe uma cotovelada.[12]
A maioria dos jogadores do Estudiantes, bem como seu técnico Osvaldo Zubeldía, não coadunaram com as agressões, mas a própria mídia argentina não poupou o time da "página mais negra do futebol argentino". O infortúnio para Combin não terminou ao fim do jogo: foi detido pela polícia local, acusado de desertor do Exército Argentino,[12] cujo serviço militar era obrigatório na época.[14] Posteriormente, o próprio ditador argentino Juan Carlos Onganía interveio pela liberação, dada à repercussão negativa do jogo, transmitido via satélite ao vivo para a Europa, e ao esclarecimento de que Combin servira às Forças armadas da França, havendo tratado entre os dois países dispensando do serviço os cidadãos de um que se alistassem em outro.[12]
As imagens desfiguradas de Combin ajudaram a afugentar europeus do torneio ao longo da década de 1970 e estigmatizaram o Estudiantes como um clube violento, a ponto de tornar-se lugar comum que os argentinos teriam vencido com suas agressões o Manchester United no ano anterior quando na realidade os britânicos é que iniciaram as hostilidades dentro e fora de campo.[15] O goleiro Poletti relataria que os argentinos entraram na partida de 1969 pressionados até por um sacerdote local para servirem de válvula de escape à desclassificação da seleção à Copa do Mundo FIFA de 1970 e a convulsões sociais no país, esclarecendo que não houve rancores mútuos em conversa posterior com Combin.[12] Na temporada 1970-71, ele e o Milan terminaram a Serie A e a Copa da Itália no vice-campeonato em ambas, com dez gols de Il Selvaggio, que deixou a Itália ao fim da temporada; como milanista, marcou vinte vezes em 70 jogos.[10]
Final da carreira
Combin voltou à França para defender o Metz. Mesmo já descuidando abertamente da forma física, conseguiu em suas duas temporadas auxiliar ativamente com mais de meio gol por jogo a luta dos lorenenses contra o rebaixamento; na temporada de 1971-72, foram 16 gols em 27 jogos e na seguinte, 18 gols em 34 partidas. Rebaixado na luta contra o Metz, o tradicional Red Star era treinado por outro argentino de carreira francesa, José Farías, que convenceu Combin a atuar na segunda divisão e eventualmente aposentar-se no clube da capital Paris.[6]
O veterano atacante marcou época no Stade Bauer, sendo o artilheiro da Divison 2 de 1973-74; foram 24 gols na campanha que permitiu ao time de Jules Rimet regressar pela última vez à primeira divisão.[10] Curiosamente, o acesso à elite deu-se juntamente com o do vizinho Paris Saint-Germain, então um clube iniciante e que recomeçava nas divisões após o desfazimento de sua união com o Paris FC. As duas equipes da capital precisaram lutar contra o rebaixamento na Ligue 1 (então Division 1) de 1974-75 e, embora Combin permanecesse no Red Star e contribuísse com 15 gols em 31 partidas, não evitou a última colocação e imediata queda dos alviverdes. O PSG eventualmente fortaleceu-se e se sedimentou na primeira divisão como o único representante da capital.[16]
Por fim, Combin jogou pelos amadores do Hyéres. Seguiu no país após parar de jogar, radicando-se na Riviera Francesa.[10]
Seleção Francesa
Crescido na França desde os 17 anos,[10] Combin, embora pudesse adquirir cidadania francesa por ser neto de uma cidadã desse país e por eventualmente ter se casado com outra cidadã francesa, demorou a poder ser convocado; após a FIFA permitir livremente naturalizações até a sua Copa do Mundo de 1962, estabeleceu que a partir dela só seriam permitidos naturalizados que ainda não houvessem defendido seus países de nascença (encerrando assim, com o fim do Mundial, as trajetórias de Alfredo Di Stéfano e Omar Sívori, ambos também argentinos, por Espanha e Itália; bem como as do uruguaioJosé Santamaría e do húngaroFerenc Puskás com a seleção espanhola e do brasileiroJosé "Mazzola" Altafini com a italiana) e que fossem filhos de cidadãos do país adotivo. Combin cumpria o primeiro requisito, mas não o segundo. A seleção da Argentina, por sua vez, ainda não admitia convocar quem jogasse fora do país, algo só alterado a partir da década de 1970.[6]
O franco-argentino, então figura cada vez mais destacada no Lyon, começou a ser visto como sucessor potencial de Just Fontaine, levando a Federação Francesa de Futebol a iniciar tratativas por um relaxamento do segundo requisito - a fim de permitir que estrangeiros netos (e não mais apenas filhos) de cidadãos locais também pudessem ser aproveitados. Essa mudança permitiria a inclusão de Combin e foi aprovada em congresso da FIFA realizado em 1964.[6] Combin estreou como francês exatamente naquele ano, inicialmente pela seleção juvenil dos Bleus, em 8 de abril, em empate em 2-2 com a Inglaterra. No dia 25 do mesmo mês, estreou pelo time principal; foi pelas quartas-de-final das qualificações à Eurocopa 1964, atuando nos dois jogos da eliminação frente a Hungria.[17]
Após atuar em quatro partidas das eliminatórias da Copa do Mundo FIFA de 1966, entre 1964 e 1965, figurou em apenas uma partida do mundial, no empate em 1-1 com o México;[17] à altura da Copa do Mundo, Combin vinha de uma temporada ruim no Varese.[6] Após essa partida, só defendeu a seleção francesa uma vez mais, no empate em 1-1 com a Iugoslávia nas quartas-de-final das qualificações à Eurocopa 1968.[17] Foram ao todo oito jogos e quatro gols pela seleção francesa,[10] na qual chegou a atuar ao lado dos também argentinos Ángel Rambert (colega seu também no Lyon) e Héctor de Bourgoing (com quem terminou convocado conjuntamente à Copa de 1966).[2]