Uma missão cristã é um esforço organizado para realizar, em nome da fé cristã, evangelismo ou outras atividades, como trabalho educacional ou hospitalar.[1] As missões envolvem o envio de indivíduos e grupos para além de fronteiras geográficas.[2] Os indivíduos enviados em missões são comumente chamados de missionários.
Os missionários pregam a fé cristã e, às vezes, administram os sacramentos e prestam ajuda ou serviços humanitários. As doutrinas cristãs permitem o fornecimento de ajuda sem exigir conversão religiosa. Entretanto, alguns missionários cristãos foram implicados no genocídio de povos indígenas. É estimado que cerca de 100 000 nativos, ou 1/3 da população nativa da Califórnia, EUA, morreram devido a missões.[3]
Uma contribuição importante dos missionários cristãos na África[4], China[5], Guatemala[6], Índia[7], Indonésia[8], Coreia[9] e outros lugares foi a melhoria dos cuidados de saúde das pessoas por meio da higiene e da introdução e distribuição de sabão[4], e "limpeza e higiene tornaram-se um marcador importante de ser identificado como cristão".[10]
A partir da Antiguidade Tardia, muita atividade missionária foi realizada por membros de ordens religiosas. Mosteiros seguiam disciplinas e apoiavam missões, bibliotecas e pesquisas práticas, todas vistas como obras para reduzir o sofrimento humano e difundir o Deus cristão. Por exemplo, comunidades nestorianas evangelizaram partes da Ásia Central, Tibete, China e Índia.[14] Os cistercienses evangelizaram grande parte da Europa do Norte e desenvolveram muitas técnicas agrícolas clássicas europeias.[carece de fontes?]São Patrício evangelizou muitos na Irlanda; [15]São Davi foi ativo no País de Gales.[16]
O Pacto de Lausanne de 1974 deu origem a um movimento que apoia a missão evangélica entre não cristãos e cristãos nominais. Durante o evento, quase 2.700 líderes cristãos evangélicos participaram da conferência no Palais de Beaulieu em Lausanne, Suíça, para discutir o progresso, os recursos e os métodos de evangelização do mundo.[22] Os relatórios e documentos do congresso ajudaram a ilustrar a mudança do centro de gravidade do cristianismo da Europa e da América do Norte para a África, Ásia e América Latina. O objetivo do pacto é o de reforçar a necessidade de envio de missionários ao redor do mundo e foi traduzido para 20 línguas.[23]
Uso de mídia impressa e de novas mídias
As organizações missionárias cristãs há muito tempo utilizaram a palavra impressa como um canal para realizar missões. Em épocas em que os países estavam "fechados" aos cristãos, foram feitos grandes esforços para contrabandear Bíblias e outras publicações para esses países. O holandês Anne van der Bijl, fundador da Portas Abertas, começou a contrabandear Bíblias para os países comunistas na década de 1950.[24] Diversas editoras cristãs fornecem livros gratuitos para pessoas no Reino Unido e nos Estados Unidos como forma de missão.[25] A Sociedade Bíblia traduz e imprime Bíblias, em uma tentativa de alcançar todos os países do mundo.[26]
Após a Segunda Guerra Mundial, surgiram as "emissoras missionárias", influenciadas pela lógica da propaganda ideológica da Guerra Fria. Essas emissoras utilizavam as ondas de rádio para ultrapassar fronteiras e disseminar suas mensagens. Criadas principalmente por norte-americanos, o objetivo dessas emissoras era levar o evangelho a diversas regiões do mundo, incluindo Europa, América Latina, Ásia e Oriente Médio.[27]
A CNBB, em nota do arcebispo Leomar Antônio Brustolin, indica que a fé cristã atualmente é divulgada e vivenciada por meio de plataformas multimídia, criando uma nova forma de experiência religiosa, de modo que o desafio missionário reside em equilibrar o sagrado presencial com o sagrado mediado pela tecnologia, numa sociedade plural e altamente informada, onde a verdade é subjetiva e a escolha pessoal é valorizada.[28]
Missões interorganizacionais
A globalização do século XXI serviu como uma plataforma de oportunidade para que organizações cristãs independentes se unissem em cooperação para missões de alcance e discipulado.
Algumas organizações são consórcios cristãos que se unem organizacionalmente, como as 50.000 pessoas da organização Missio Nexus, com sede em Illinois.[29] Outras organizações são unidas por uma fonte comum de financiamento, cooperação em projetos de alcance e comunicações digitais entre o pessoal de missões internas em todo o mundo e seus parceiros, como as 25.000 pessoas unidas na Global Mission Society.[30]
Críticas
Os exploradores europeus nas Américas introduziram doenças contra as quais os povos ameríndios não tinham imunidade, causando dezenas de milhões de mortes.[31] Os missionários, juntamente com outros viajantes, trouxeram doenças para as populações nativa, como varíola, o sarampo e o resfriado comum.[32] David Igler, da Universidade da Califórnia, indica que a atividade missionária foi causa de disseminação de germes na América e no Pacífico, ressaltando, contudo, que entre 1770 e 1840, os principais agentes de doenças eram comerciantes.[33]
Em termos de preservação de patrimônio cultural, em 2011, historiadores indicaram que as missões católicas do século XVI da Ordem dos Frades Menores contribuíram para o desaparecimento de certos manuscritos, tradições orais religiosas e artefatos de civilizações indígenas da Mesoamérica.[34]
No tocante ao evangelismo e à ajuda humanitária, embora a prática não seja generalizada, algumas organizações veem em um desastre/catástrofe uma oportunidade útil para divulgar sua mensagem.[35] Uma dessas ocorrências foi o tsunâmi que devastou partes da Ásia em 26 de dezembro de 2004. Após o desastre, dezenas de grupos religiosos se mudaram para o local para tentar converter vítimas do desastre, causando conflitos locais.[36] O presidente da Gospel for Asia, organização sediada no Texas, disse em uma entrevista que "esse (desastre) é uma das maiores oportunidades que Deus nos deu para compartilhar seu amor com as pessoas", afirmando que seus 14.500 "missionários nativos" na Índia, no Sri Lanka e nas Ilhas Andamão estão dando aos sobreviventes Bíblias e folhetos sobre "como encontrar esperança neste momento por meio da palavra de Deus".[36]
O Christian Science Monitor aponta como uma preocupação a mistura entre evangelismo e ajuda humanitária: "'Acho que os evangelistas fazem isso com a melhor das intenções, mas há a responsabilidade de tentar entender outros grupos religiosos e sua cultura', diz Vince Isner, diretor do FaithfulAmerica.org, um programa do Conselho Nacional de Igrejas dos EUA". [37]
↑O'Neill, Kevin Lewis; Thomas, Kedron (2011). Securing the city: neoliberalism, space, and insecurity in postwar Guatemala (em inglês). Durham [NC]: Duke University Press. p. 180–181
↑Bauman, Chad M. (2008). Christian identity and Dalit religion in Hindu India, 1868 - 1947. Col: Studies in the history of Christian missions (em inglês). Grand Rapids, Mich.: Eerdmans. p. 160
↑Toke, Leslie Alexander St. Lawrence. «St. David (1913)». en.wikisource.org (em inglês). Catholic Encyclopedia. Consultado em 13 de maio de 2024
↑Lawrence, C. H. (2001). Medieval monasticism: forms of religious life in Western Europe in the Middle Ages (em inglês) 3rd ed ed. Harlow, England ; New York: Longman. p. 24-25 !CS1 manut: Texto extra (link)
↑Mershman, Francis. «St. Boniface (1913)». en.wikisource.org (em inglês). Catholic Encyclopedia. Consultado em 13 de maio de 2024