Manuel da Ressurreição, O.F.M. (Coimbra, Moimenta da Beira ou Casa do Outeiro, São Pedro, Gouveia, 164? - Salvador, 16 de janeiro de 1691) foi um religioso franciscano e prelado português do século XVII, arcebispo de São Salvador da Bahia e primaz do Brasil, além de governador interino do Brasil.[1]
Biografia
Família
D. Frei Manuel da Ressurreição, referido como Manuel Pinheiro da Ressurreição no batismo de seu sobrinho materno homônimo e afilhado,[2] nasceu Manuel Pinheiro Sotomaior, e tomou ordens menores em 1657 com seus irmãos António Furtado Sotomaior (Casa do Outeiro, São Pedro, Gouveia, b. 14 de junho de 1637 - ?),[3] o qual foi Cavaleiro Professo da Ordem de Cristo por Carta de 24 de novembro de 1685,[4] e João Ribeiro Furtado (Casa do Outeiro, São Pedro, Gouveia, b. 26 de fevereiro de 1645 - ?), irmão mais novo homônimo de João (Casa do Outeiro, São Pedro, Gouveia, b. 2 de janeiro de 1644 - Casa do Outeiro, São Pedro, Gouveia, a. 26 de fevereiro de 1645), e de Margarida (Casa do Outeiro, São Pedro, Gouveia, b. 3 de junho de 1638 - ?), solteira e sem descendência.[2]
Foi seu irmão o Padre Doutor Francisco Pinheiro (Casa do Outeiro, São Pedro, Gouveia, b. 11 de outubro de 1639 - Évora, 6 de setembro de 1694), da Companhia de Jesus, Professor em Coimbra e Lente de Teologia Moral no Colégio de Santo Antão, em Lisboa, sendo, ainda, Reitor do Colégio de Santarém, que se habilitou ao Santo Ofício, com diligências aprovadas a 23 de outubro de 1682,[5] e foi, ainda, nomeado Reitor do seu Colégio na Universidade de Évora,[6] falecendo pouco depois. Foi sua irmã Serafina Antónia de Artiaga Sotomaior (Casa do Outeiro, São Pedro, Gouveia - Lisboa), recolhida no Mosteiro do Couto, filha herdeira, Senhora da Casa do Outeiro, em São Pedro, Gouveia, casada em Nabainhos, Gouveia, a 6 de maio de 1665, com seu primo em segundo grau o Doutor Brás Ribeiro da Fonseca (São Martinho, Celorico da Beira, Dia de São Brás, 3 de fevereiro de 1624, b. 12 de fevereiro de 1624 - Lisboa, 28 de abril de 1698), Bacharel em Leis em 1645, Licenciado e Doutor em 1648,[7] Colegial de São Pedro em Coimbra, habilitado em 1654,[8] e Lente de Prima na Faculdade de Leis da mesma Universidade, Proprietário do Ofício de Escrivão das Sisas de Celorico da Beira, por sucessão a seu pai, por Carta de 8 de março de 1649,[9] Cavaleiro Professo da Ordem de Cristo por Carta de 25 de junho de 1675 com tença de 30$000 réis,[10] Familiar do Santo Ofício da Inquisição de Coimbra por Carta de 16 de outubro de 1673,[11] Fidalgo Cavaleiro da Casa Real por Alvará de 13 de agosto de 1684 e Juiz Desembargador do Paço, sendo sepultados no Convento de Nossa Senhora da Luz, em Carnide, com descendência.[2][12]
Era filho de Manuel Pinheiro Furtado (? - Casa do Outeiro, São Pedro, Gouveia, 24 de janeiro de 1653), Senhor da Casa do Outeiro em São Pedro, Gouveia, onde viveu com sua mulher Antónia Botelho Sotomaior (Viseu - Casa do Outeiro, São Pedro, Gouveia, 1650),[13] filha duma Espanhola e bisneta por via matrilineal do Ilustríssimo Senhor 3.° Marquês de Ayamonte.[14]
Carreira eclesiástica
Pertenceu à Comunidade do Convento do Varatojo e professou no Instituto de São Francisco.[1]
Foi matriculado em Cânones na Faculdade de Cânones da Universidade de Coimbra em 1661 com o nome de Manuel Pinheiro Furtado.[15] Graduado pela Faculdade de Cânones, foi Colegial de São Pedro, em Coimbra, habilitado em 1672,[16] sendo ordenado em 1674.[17] Doutorado em Leis e Cânones pelas Faculdades de Leis e de Cânones da Universidade de Coimbra,[1] foi Lente opositor às cadeiras da mesma Universidade,[1] Promotor da Inquisição de Coimbra e Deputado do Santo Ofício[1] da mesma Inquisição por Provisão de 12 de junho de 1674.[18][19]
Arcebispo de São Salvador da Bahia
Cônego Doutoral da Sé de Lamego,[20] a 12 de maio de 1687,[1] foi elevado a 3.º arcebispo da Arquidiocese de São Salvador da Bahia[1] primaz do Brasil, sendo seu nome confirmado em 31 de agosto. Chegou à sua Arquidiocese a Salvador em 13 de maio de 1688,[1] onde ficou até 16 de janeiro de 1691, quando veio a falecer.
Em sua época, havia grave pestilência de febre amarela, daí o Senado da Câmara ter elegido e proclamado, no seu tempo, São Francisco Xavier orago e padroeiro de Salvador, e fixou o dia 10 de maio para a festa e procissão solene do mesmo Santo.[1]
Dele se refere nas Memórias Históricas e Genealógicas da Casa de Santa Eulália e seu Solar, divididas em duas partes, que fazem outras tantas épocas do estabelecimento e duração da dita Casa que, tendo abandonado o século se retirou no Colégio do Varatojo, sendo o primeiro noviço que lá entrou. Missionário apostólico, foi nomeado Arcebispo da Metrópole da Bahia, servindo também de Presidente da Relação e Governador na mesma cidade, na qual morreu no ano de 1694 em cheiro de santidade.[20]
Governador interino do Brasil
Por ocasião da morte do 29.° governador-geral do Brasil Matias da Cunha, vitimado pela peste, em 24 de outubro de 1688, substituiu-o[1] e assumiu o Governo interinamente com o chanceler do Tribunal da Relação Manuel Carneiro de Sá, como Presidente da 5.ª Junta Governativa, de 24 de outubro de 1688 a 8 de outubro de 1690 e foi quem, efetivamente, governou, tendo sido indicado pelo próprio Matias da Cunha. Com o seu prestígio e autoridade moral, conseguiu pacificar as tropas que se haviam revoltado por falta de pagamento dos seus soldos.[1]
Teve de enfrentar levantes indígenas no Nordeste. Junto com o vice-governador em exercício como governador de Pernambuco D. Matias de Figueiredo e Melo, bispo de Olinda, e com a ajuda de Domingos Jorge Velho, encabeçou a "Guerra dos Bárbaros".
Enviou em 30 de novembro de 1688 uma carta à Câmara da vila de São Paulo e ao capitão-mor de São Vicente, Tomás Fernandes de Oliveira, pois os índios, em defesa mútua, haviam formado uma confederação: estavam unidos os sucurus, paiacus, icós e ariús. Na carta, pedia os melhores cabos paulistas «para exterminar o flagelo». O portador da carta foi João Amaro Maciel Parente, filho de Estêvão Ribeiro Baião Parente, morto antes de novembro de 1679.
"João Amaro levantou em São Paulo uma companhia e, com o posto de capitão-mor lugar-tenente de Matias Cardoso de Almeida, seguiu para a Bahia por mar e dirigu-se pelo sertão para as margens do rio São Francisco, na planície do rio Verde, onde o esperava Matias. Formaram-se então em meados de 1692 numerosas companhias e a de João Amaro partiu para a barra do rio Jaguaribe, onde ergueu arraial, e de lá para o Rio Grande do Norte atual, onde permaneceu quatro anos destruindo tribos indígenas, queimando aldeias, aprisionando o gentio, pelo que teve a recompensa do posto de coronel e uma grande sesmaria na Bahia (que vendeu depois ao coronel Manuel de Araújo Aragão, pois em 1703 estava no rio das Velhas), com o senhorio da vila que o pai erguera sob a invocação de Santo Antônio. João Amaro em 1693 abriu uma estrada pelas matas de Ilhéus, que vinha cortando pelo rio Pardo, Jequitinhonha e Salsa, a qual, infletindo depois para o Norte, ia ter ao rio Paraguaçu e dai às margens do rio São Francisco - foi a primeira e maior via que se obteve no sertão baiano.
Em outra carta de 18 de dezembro de 1688, como governador interino, o arcebispo escreveu a Matias Cardoso de Almeida, para o encarregar da guerra ao que chamava "bárbaros do Rio Grande do Norte". Dizia-se informado pelo mestre-de-campo Antônio Guedes de Brito que, do arraial da Manga, Matias Cardoso seguira viagem para a vila de São Paulo, de onde pretendia trazer grande quantidade de mantimentos e de armas. Por esse motivo o arcebispo lhe escrevia para São Paulo, pedindo-lhe para aceitar a incumbência.
É curiosa a carta à Corte do arcebispo da Bahia, que governava juntamente com o desembargador Manuel Carneiro de Sá, pois entre ambos havia constantes atritos e falta de harmonia. O chanceler retirou-se do governo e não deu mais sinal de vida. O arcebispo escreveu à Corte para perguntar como publicar a lei de 1688 - tinha dúvida se podia se aplicar ao Brasil lei relativa a moedas que aqui não corriam, e mandava que as patacas de menos de sete oitavas de prata fossem pesadas e valessem a tostão a oitava. Ora, a generalidade das patacas da Bahia não passava de 4 oitavas e meia, valiam 640; cada moeda perderia portanto, levada à balança, 190 réis. O prejuízo total seria 300 mil cruzados. Resolvera, por isso, participar às Cortes tal inconveniente, e esperar.
Recém chegado à terra, o arcebispo tinha escrúpulos, pois se haviam antecipado em Pernambuco. Mandou, assim, ao som de caixas e tambores, proceder à publicação. Na carta enviada, estava satisfeito da sua obra.
Ora, apenas divulgada a lei, a câmara se encheu de povo descontente, redigindo papel contrário. O arcebispo convocou uma Junta de Governo e o desembargador Carneiro de Sá não compareceu. Votaram-se resoluções: eliminou-se a balança, fixou-se em dois cruzados o valor da pataca (2 patacas) que pesasse 6 oitavas e meia e daí para cima; em 700 rs a de 6 oitavas perfeitas até 6 e meia; as de 4 e meia até 6 continuariam a valer 640 rs. Antes da Junta, só se tratava de reunir as moedas de maior peso e conduzi-las a bordo, mas muitos navios não tinham lastro, outros só meia carga.
Depois da Junta apareceu dinheiro de peso, e espertavam-se as compras de açúcar, já embarcado, a frota pronta a seguir. A elevação da prata, que devia vigorar apenas na Bahia, se estendeu pelo Brasil e se firmou como uma conquista irrevogável. Como navegavam por monções, havia longa, incerta e intermitente navegação, a notícia do levantamento feito na Bahia apenas chegou a São Paulo em agosto de 1690.
No mesmo mês de junho de 1689, por ofício, o chanceler Carneiro de Sá explica à Corte sua relutância: lembrava que, para tolher o açambarcamento das moedas de peso, bastaria vistoria nos navios, pois levantar dinheiro era regalia de príncipe e não invejava as glórias do autor, se o ato fosse aprovado.
Em 8 de outubro de 1690, entregou o governo ao 3.° Almotacé-Mor do Reino de Portugal Antônio Luís Coutinho da Câmara, que foi o 30.° governador-geral do Brasil, e foi visitar as vilas de Carnamu, Cairu e Boipeba, no Sul da Bahia, onde a sua missão obteve resultados prodigiosos. Ali morreu, a 16 de janeiro de 1691.[1]
Ver também
Referências
- ↑ a b c d e f g h i j k l Vários. Grande Enciclopédia Portuguesa e Brasileira. Volume 25. [S.l.]: Editorial Enciclopédia, L.da. 314
- ↑ a b c Eduardo Manuel Osório Dias Gonçalves (2006). Raízes da Beira - Genealogia e Património da Serra da Estrela ao Vale do Mondego. Volume II 1.ª ed. Lisboa: Dislivro Histórica. 662
- ↑ Arquivo da Universidade de Coimbra, Ordenações Sacerdotais, Caixa 114
- ↑ Chancelaria da Ordem de Cristo, Livro 42, fólio 5v
- ↑ Arquivo Nacional da Torre do Tombo, Habilitações ao Santo Ofício, Maço 16, Diligência 477
- ↑ António Franco, Synopsis Annalium Societatis Jesu in Lusitania, ab anno 1540 usque ad annum 1725, Viena : Philippi, Martini et Joannis Veith, 1726, p. 394
- ↑ Arquivo da Universidade de Coimbra, Registo de Exames na Universidade de Coimbra, Autos e Graus
- ↑ Arquivo da Universidade de Coimbra, Habilitações ao Colégio de São Pedro, Caixa 17, N.° 15
- ↑ Arquivo Nacional da Torre do Tombo, Chancelaria de D. João IV, Livro 20, fólio 165v
- ↑ Arquivo Nacional da Torre do Tombo, Chancelaria da Ordem de Cristo, Livro 46, fólio 299v
- ↑ Arquivo Nacional da Torre do Tombo, Habilitações ao Santo Ofício, Maço 1, Diligência 19
- ↑ Eduardo Manuel Osório Dias Gonçalves (2006). Raízes da Beira - Genealogia e Património da Serra da Estrela ao Vale do Mondego. Volume II 1.ª ed. Lisboa: Dislivro Histórica. 651-2
- ↑ Irmã de António de Artiaga Botelho Sotomaior, de quem descende Francisco Coelho Sotomaior, Senhor da Casa de Marzuvelos e do Prazo do Fojo, ambos filhos de Diogo Botelho da Costa Homem, natural de Viseu, Fidalgo de Cota de Armas, Senhor do Prazo do Fojo, e de sua mulher, casados em Viseu, Inés de Arteaga Sotomayor y Gamboa, depois Inês de Artiaga Sotomaior e Gamboa, fidalga castelhana, natural de Béjar, netos paternos de António da Costa Homem, dos da Costa e Homem de Viseu, Senhores do Prazo da Lajeosa, e de sua mulher Antónia Botelho de Proença e neta materna de Rodrigo de Arteaga y Gamboa e de sua mulher D. Ana de Sotomayor y Zúñiga, filha do Ilustríssimo Senhor D. Antonio de Zúñiga Guzmán y Sotomayor, 3.° Marquês de Ayamonte, e de sua mulher Ana Pacheco de Córdoba y la Cerda. Acerca daquela Inés de Arteaga Sotomayor y Gamboa, depois Inês de Artiaga Sotomaior e Gamboa, nas Inquirições do mesmo Doutor Manuel Pinheiro Sotomaior, adiante referidas, que se estendem até Béjar, a testemunha don Diego de Ledesma y Paredes, informa que não conheceu a Dona Inês de Artiaga, mas sabe ser natural de Béjar e ido casar a Portugal à cidade de Viseu com um João [aliás Diogo] Botelho, e que era filha de fidalgos mui notórios e conhecidos por tais, e ouviu dizer ao duque de Béjar Dom Juan em uma ocasião, fazendo-se umas provas para Don Antonio de Texeda Artiaga e Sotomayor para um hábito de Santiago, parente desses cavalheiros, que era parente do dito duque pelo Sotomayor, e por ser tão nobre se prezava disso. Da mesma Inés de Arteaga Sotomayor y Gamboa, depois Inês de Artiaga Sotomaior e Gamboa, se acrescenta que depois de ter muitos filhos, casou novamente com Pedro Ferrão de Castelo Branco, de quem não houve geração.
- ↑ Eduardo Manuel Osório Dias Gonçalves (2006). Raízes da Beira - Genealogia e Património da Serra da Estrela ao Vale do Mondego. Volume II 1.ª ed. Lisboa: Dislivro Histórica. 661
- ↑ Arquivo da Universidade de Coimbra, Registo de Matrículas na Universidade de Coimbra
- ↑ Arquivo da Universidade de Coimbra, Habilitações ao Colégio de São Pedro, Cx. 17, N.º 7
- ↑ Arquivo da Universidade de Coimbra, Ordenações Sacerdotais, Cx. 1456
- ↑ Arquivo Nacional da Torre do Tombo, Habilitações ao Santo Ofício, M. 22, Dil. 529
- ↑ Eduardo Manuel Osório Dias Gonçalves (2006). Raízes da Beira - Genealogia e Património da Serra da Estrela ao Vale do Mondego. Volume II 1.ª ed. Lisboa: Dislivro Histórica. 662-3
- ↑ a b Eduardo Manuel Osório Dias Gonçalves (2006). Raízes da Beira - Genealogia e Património da Serra da Estrela ao Vale do Mondego. Volume II 1.ª ed. Lisboa: Dislivro Histórica. 663
Bibliografia
Ligações externas