Manuel Gonçalves Cerejeira GCC • GCSE • GCIH (Vila Nova de Famalicão, Lousado, Santa Marinha, 29 de Novembro de 1888 – Lisboa, Benfica, 1 de Agosto de 1977), cardeal da Igreja Católica, foi o décimo-quarto Patriarca de Lisboa com o nome de D. Manuel II (nomeado em 18 de Novembro de 1929).
Eleito arcebispo de Mitilene em 1928, tradicional título do principal prelado auxiliar do Patriarcado de Lisboa, foi nomeado Patriarca de Lisboa em 18 de Novembro de 1929 e elevado ao cardinalato em 16 de Dezembro de 1929, pelo Papa Pio XI, com o título de Santos Marcelino e Pedro.
Biografia
Um de quatro filhos e quatro filhas de Avelino Gonçalves Cerejeira (Vila Nova de Famalicão, Lousado, 14 de Abril de 1857[1] - Vila Nova de Famalicão, Lousado, 13 de Junho de 1927), negociante que viveu no lugar da Serra, freguesia de Lousado, concelho de Vila Nova de Famalicão, e de sua primeira mulher (Vila Nova de Famalicão, Lousado, 25 de Janeiro de 1888) Joaquina Gonçalves Rebelo (Fafe, Vila Cova, 30 de Maio de 1864[2] - Vila Nova de Famalicão, Vila Nova de Famalicão, 30 de Setembro de 1918), que residiu desde criança na freguesia do Lousado e quando casou era "lavradeira", ou seja, camponesa, foi baptizado na freguesia do seu nascimento a 3 de Dezembro de 1888, na Igreja Paroquial de Santa Marinha do Lousado, sendo seu Padrinho o Avô Paterno, de quem herdou o nome.[3][4]
Diplomado em Teologia e em Ciências Histórico-Geográficas pela Universidade de Coimbra, na respectiva Faculdade de Letras obteve em 1919 o grau de doutor em Ciências Históricas, com a tese «Clenardo e a Sociedade Portuguesa do seu tempo». Desse ano a 1928 foi professor da Escola onde se graduara.
A 21 de Janeiro de 1930, foi feito Cavaleiro de Grã-Cruz da Ordem Equestre do Santo Sepulcro de Jerusalém,[5] a 5 de Março de 1932 com a Grã-Cruz da Ordem Militar de Nosso Senhor Jesus Cristo e a 14 de Maio de 1936 com a Grã-Cruz da Antiga, Nobilíssima e Esclarecida Ordem Militar de Sant'Iago da Espada, do Mérito Científico, Literário e Artístico.[6]
Foi o Patriarca que dirigiu a Igreja Católica Portuguesa durante o Estado Novo; íntimo de Salazar (conheceram-se no Centro Académico de Democracia Cristã e viveram juntos cerca de 11 anos), procurou salvaguardar e restaurar a condição que o Catolicismo perdera durante o regime republicano (I República). Como tal, e a fim de apaziguar as tensas relações entre o Estado e a Igreja, foi um dos principais concorrentes e apoiantes para a assinatura da Concordata com a Santa Sé em 1940 (Concordata entre a Santa Sé e Portugal de 1940).
Era apoiante do Estado Novo, fundado pelo seu amigo universitário Oliveira Salazar. Apesar dessa ligação, houve ocasionais tensões na defesa das posições de cada um deles: os interesses do Estado Novo, por parte de Salazar, e os da Igreja católica, por Cerejeira.
Participou nos conclaves que elegeram os Papas Pio XII (1939), João XXIII (1958) e Paulo VI (1963), bem como no Concílio Vaticano II (1962–1965).
Outro importante dado do governo deste Patriarca foi a criação do Seminário dos Olivais e da Universidade Católica Portuguesa.
A 27 de Dezembro de 1960 foi agraciado com a Grã-Cruz da Ordem do Infante D. Henrique.[6]
Resignou ao governo do Patriarcado em 10 de Maio de 1971, sendo substituído por D. António Ribeiro. Morreu a 1 de agosto de 1977, na Quinta do Bom Pastor, situada na Rua da Buraca, freguesia de Benfica, em Lisboa, onde residia desde a cessação de funções no Patriarcado de Lisboa.[4] Foi sepultado no Panteão dos Patriarcas de Lisboa.[7]
Em 1914 dirigiu, juntamente com Francisco Gomes Velloso, a revista Lusitânia[8] e colaborou com a revista Nação Portuguesa.[9]
Bibliografia
- CARVALHO, Rita Almeida. António Oliveira Salazar, Manuel Gonçalves Cerejeira: Correspondência 1928–1968. Lisboa: Círculo de Leitores e Temas e Debates, 2010.
- «Fundação Cardeal Cerejeira». www.fccerejeira.com
- MAFRA, Luís de Azevedo. Lisboa no tempo do Cardeal Cerejeira: um testemunho[ligação inativa]. Lisboa: Centro de Estudos de História Religiosa da Universidade Católica Portuguesa, 1997. ISBN 972-8361-11-4
- MARTINS, José Vitorino de Pina. «Manuel Gonçalves Cerejeira e os estudos humanísticos em Portugal», in Lusitania Sacra, 2.ª série, n.º 2, 1990.
- MATOS, Luís Salgado de. «Cerejeira: universitário, militante, místico» in Análise Social, vol. XXXVI (160), 2001, pgs. 803–837.
- PIMENTEL, Irene Flunser. Cardeal Cerejeira: O Príncipe da Igreja. Lisboa: A Esfera dos Livros, 2010.
- POLICARPO, José da Cruz. Cardeal Cerejeira: fotobiografia. Lisboa: Editorial Notícias, 2002. ISBN 972-46-1408-5.
- SOUSA, João António de. «Cerejeira, pai e amigo do seu clero» in Lusitania Sacra, 2.ª série, n.º 2, 1990.
Imagens
-
Casa onde nasceu Manuel Gonçalves Cerejeira, em Lousado Famalicão
-
Busto de Manuel Gonçalves Cerejeira em Lousado, Famalicão
-
Manuel Gonçalves Cerejeira em
Mafra - 1930 (Arquivo
RVISSM)
Notas
- ↑ Baptizado em Vila Nova de Famalicão, Lousado, a 16 de Abril de 1857
- ↑ Baptizada em Fafe, Vila Cova, a 1 de Junho de 1864
- ↑ Fotobiografias do Século XX, Fotobiografia do Cardeal Cerejeira, Círculo de Leitores.
- ↑ a b «Livro de registo de batismos da Paróquia de Lousado (1885-1898)». adb.uminho.pt. Arquivo Distrital de Braga. p. fls. 34 e 34v, assento 28
- ↑ «Portugal». Hemeroteca Digital brasileira. Jornal do Commercio. 22 de janeiro de 1932. p. 1. Consultado em 5 de março de 2018
- ↑ a b «Cidadãos Nacionais Agraciados com Ordens Portuguesas». Presidência da República Portuguesa. Resultado da busca de "Manuel Gonçalves Cerejeira". Presidência da República Portuguesa. Consultado em 1 de setembro de 2015
- ↑ Biografia do Cardeal Cerejeira, Fundação Cardeal Cerejeira
- ↑ Alda Anastácio (4 de novembro de 2016). «Ficha histórica:Lusitânia: revista católica mensal (1914)» (pdf). Hemeroteca Municipal de Lisboa. Consultado em 22 de dezembro de 2016
- ↑ Nação Portuguesa, Coimbra (1914 – 1938), por Nuno Simão Ferreira, Dicionário de Historiadores Portugueses da Academia Real de Ciências ao Final do Estado Novo (consulta em 5.5.2022)
Ligações externas