Túlu (ou tulu, ou tulú) (ತುಳು ou തുളു) é uma língua dravídica falada na Índia, na região Dakshina Kannada, na parte sul de Udupi, Carnataca e também nas partes nortes do distrito de Kasaragod, Querala, região também conhecida como Tulu Nadu.[2]
A língua túlu é considerada em situação de vulnerabilidade pelo Atlas Mundial das Línguas da Unesco[3] e é falada por 1,846,427 de nativos Tulu na Índia, de acordo com o censo realizado na Índia em 2011.[1] O nome dado aos falantes do túlu é Tuvala, referentes a região de Tulu Nadu.
Etimologia
Uma hipótese da origem da palavra tuluva, explica que essa se originou da palavra turuva (ತುರುವ), em que turu significa 'vaca' e se refere-se ao lugar dominado pelo yadava, que significaria 'vaqueiro'.[4]
Outra interpretação da origem do nome túlu, sugerida pelo linguista Purushottama Bilimale, diz que tulu significa 'aquilo que está relacionado à água', visto que muitas palavras em túlu, como talipu, teli, teLi, teLpu, tuLipu, tulavu e tamel também são relacionadas a água. Além disso, as palavras tuLuku e toLe, no Kannada, significa 'aquilo que tem características da água'.[carece de fontes?]
Distribuição Geográfica
Antigamente, a região que se estende do rio Chandragiri, que hoje faz parte do distrito de Kasaragod em Querala, e que vai até Gokarna, hoje parte do distrito de Uttara Kannada, em Carnataca, conhecida como Alva Kheda, foi governada pelos Alupas e era a terra natal dos falantes de túlu. Atualmente, a região que abrange o maior número de falantes da língua é Tulu Nadu, que compreende os distritos de Dakshina Kannada, Udupi de Carnataca e Kasaragod, em Querala até o rio Payaswani, também conhecido como Chandragiri. As cidades de Mangalor, Udupi e Kasaragod são o centro da cultura Tulu.
A língua túlu está majoritariamente contida na parte sul da Índia, sendo amplamente falado em Dakshina Kannada, parcialmente no distrito de Udupi em Carnataca e, até certo ponto, em Kasaragod de Querala. O estado de Carnataca se destaca e é onde o túlu parece mais prosperar atualmente. Com isso, esforços estão sendo feitos para tornar a língua túlu uma das línguas oficiais da Índia.[5][6]
Dialetos
As diferentes regiões dentro Tulu Nadu acabaram desenvolvendo diferentes dialetos e particularidades da língua túlu. Essas regiões podem ser compreendidas em:
Sudoeste: compreendendo o distrito de Kasargod de Querala
Sudeste: incluindo Sullia e Kodagu
Sul Central: composto por Puttur, Belthangady e Bantwal
Noroeste: compreendendo a área de Mangalor e Udupi
Nordeste: incluindo Karkala
Túlu Comum
É falado pela maioria das pessoas de Tulu Nadu (exceto pelos Brâmanes), e é o dialeto usado no comércio, no entretenimento e na comunicação da comunidade. É dividido em mais cinco grupos: os Bunts, Billavas, Mogaveeras, Gowdas and Kumabaras, que devido a suas semelhanças foram agrupados no título comum de Túlu Comum ou Dialeto Comum. Tem como característica o som das palavras do sânscrito, que soam como palavras não retroflexas.[7]
Túlu Brâmane
Falado por Shivalli e Sthanika Brâmanes (comunidade em Carnataca), é a língua usada na escrita da pouca literatura clássica descoberta até agora. Eles também pegaram emprestadas palavras em sânscrito e a pronúncia de palavras. Até palavras dravídicas foram registradas como palavras retroflexas, assim como são em sânscrito, o que não é comum em línguas dravídicas.[7]
Dialeto Jainista
Falado pelos jainistas na parte norte de Tulu nadu. Algumas características do túlu foram mudadas, como as palavras que têm iniciais com t e s foram substituídos pela letra h. Por exemplo, a palavra tare (cabeça) é pronunciada como hare e saadi (caminho) é pronunciada como haadi.[7]
Dialeto das tribos
É falado pelas pessoas de Mera, Mansa e outras tribos de Tulu Nadu. Esse dialeto se assemelha muito com o Comum, embora ainda apresente particularidades. O som das letras t e s nas palavras é substituído pelo som do c, como em tare (cabeça) é pronunciada como care, saadi como caadi e onasu (refeição) como onacu. Além disso, palavras não retroflexas são pronunciadas como retroflexas.[7]
As vogais no túlu, diferentemente da língua portuguesa, são divididas em curtas, longas, ditongais e infinitas. É comum nas línguas dravídicas as cinco vogais curtas e as cinco vogais longas (a, ā, e, ē, u, ū, i, ī, o, ō).[9] Esse alfabeto possui 15 vogais, 34 consoantes e dois "médios".[10]
No túlu há duas letras médias, que adicionam um som a mais para a sílaba. São elas: ૦, que soa como um m ou n; e ః que soa como um ar a mais na fala.[10]
Escrita
Ao longo do tempo, várias inscrições históricas de túlu encontradas em torno de Barkur e Kundapura estão na escrita Tigalari.[2] Por volta do século XI e XII, a escrita túlu foi usada pelos brâmanes de Tulu Nadu em Querala, para escrever mantras védicos e outras obras em sânscrito. A escrita túlu é parente da escrita brami e da malaiala já que todas derivaram do grantha.[11] No entanto, no século XVIII, o uso da escrita canarês para escrever túlu se fortaleceu e, a indisponibilidade de documentação na escrita túlu contribuíram para a marginalização desta, que atualmente é pouco estudada para fins de pesquisa e religião. A escrita canarês tornou-se gradualmente a escrita contemporânea da língua túlu. Todas as obras e literatura moderna são feitas na escrita canarês, ainda que o túlu tenha a própria escrita.[carece de fontes?]
A língua túlu por muito tempo não possuiu um alfabeto próprio, e já usou o alfabeto malaiala e o alfabeto canarês, que até hoje é adotado para a escrita e documentação. No entanto, hoje o túlu possui um alfabeto próprio e está passando por um processo de reconhecimento como uma das línguas oficiais da Índia.[6]
Sílabas (no alfabeto túlu)
Na escrita túlu não há distinções entre vogais longas e curtas e - ē, ou como o - ō'.
Estes pronomes são usado com referência a algum outro substantivo ou pronome da terceira pessoa que o precede. Na voz reflexiva, o sujeito é ao mesmo tempo agente e paciente, ou seja, pratica e recebe a ação ao mesmo tempo.[12]
Pronomes reflexivos (escrita canarês)
Singular
Plural
ತಾನ್ tān
(ele/ela mesmo, em si)
ತನ್ ಕುಳು tankuḷu
(eles/elas mesmos)
Interrogativos
Pronomes interrogativos são aqueles empregados em orações interrogativas diretas ou indiretas.[13][14]
ಯೇರ್ yēr (quem?)
ದಾನೆ dāne / ದಾದವು dādavu / ಯೆಂಚಿತ್ತಿ yen̄citti (o quê?)
ವಾ vā / ದಾ dā / ವೊವು vovu (qual?)
ಯೇತ್ yēt (quanto?)
Indefinidos
Os pronomes indefinidos são aqueles que se aplicam a terceira pessoa gramatical, quando o objeto ou elemento da frase é indicado de um modo vago e indeterminado.[13]
ಒರಿ ori / ಒರ್ತಿ orti / ಒಂಜಿ onji (um)
ಒರಿ ori (um homem)
ಒರ್ತಿ orti (uma mulher)
ಒಂಜಿ onji (uma coisa)
ಯೇರ್ಲಾ yērlā, ಯೇರಾಂಡರ್ಲಾ yērānḍarlā (qualquer um)
ಪಾಕ pāka (alguns)
ಒಂತೆ onte (alguns poucos)
ಮಾತ māta (todos)
ಅನೇಕ anēka / ಬಹಳ bahaḷa (muitos)
ದಿಂಜ dinja (bastante)
Substantivos
No túlu, os substantivos são divididos em três gêneros: masculino, feminino e neutro. Os nomes de homens e de deuses são masculinos, o de mulheres e de deusas são femininos e os de amimais e objetos inanimados são geralmente neutros.
A palavra ಆಣ್ āṇ (macho) costuma ser prefixada em palavras para mostrar que são masculinas, como em ಆಣ್ ಬಾಲೆ āṇbāle (menino) e em ಆಣ್ ಪಿಲಿ āṇpili (tigre). Já a palavra ಪೊಣ್ಣು poṇṇu (fêmea) costuma ser prefixada para mostrar palavras femininas, como em ಪೊಣ್ಣುಬಾಲೆ poṇṇubāle (menina) e ಪೊಣ್ಣುಪಿಲಿ poṇṇupili (tigresa). [15]
Número do substantivo
Os substantivos podem ser ou no singular ou no plural. O que vai definir essa diferença vai ser a partícula final. Para palavras no plural, usa-se "ರ್" r ou "ಳು" ḷu, como em ಕರ್ತವೆ kartave (lorde) - ಕರ್ತವೆರ್ kartaver (lordes); ಮೇಜಿ mēji (mesa) - ಮೇಜಿಳು mējiḷu (mesas). No caso de plural para relações entre pessoas, usa-se a partícula "ಆಡ್ಳು" āḍỊu, como em ಅಮ್ಮಡ್ಳು am'maḍḷu (pais) e em ಸಹೋಡೃಿಯಾಡ್ಳು sahōḍr̥iyāḍḷu (irmãs). Já no singular, usa-se a partícula "ಕುಳು" kuḷu, como em ಕುರಿ kuri (ovelha) - ಕುರಿಕುಳು kurikuḷu (ovelhas).
Quando são usados os números cardinais para se referir a pessoas, coloca-se o numeral na frente do substantivo, como em ಒಂಜಿ ಜನ oji jana (uma pessoa) e em ರಡ್ಡ್ ಮಂದೆ raḍḍ mande (duas pessoas).[15]
Adjetivos
Os adjetivos no túlu são divididos entre adjetivos simples, perifrásticos e negativos. Como a língua possui poucos adjetivos simples, muitos verbos auxiliares são usados no particípio para serem usados no lugar de adjetivos, como em ಆಪಿನಿ āpini (tornar-se) e ಆದುಪ್ಪುನಿ āduppuni (ser/ter se tornado), como também na forma negativa ಡಾಂತಿ dānti (não ser/ter se tornado).[16]
ಗತಿ ದಾಂತಿ ನರಮಾನಿ gati dānti naramāni (homem que não ajuda).
Adjetivos comparativos
Como no túlu não existe especificamente adjetivos comparativos, para construir uma frase em que há a comparação de elementos, usa-se um adjetivo com um substantivo no caso ablativo, que se forma adicionando ಡ್ದ್ ḍd ao substantivo que está sofrendo a comparação. A comparação também pode ser feita usando os casos dativo (ao adicionar ಗ್ g ao substantivo que está sofrendo a comparação) e locativo (ao adicionar ಡ್ ḍ ao substantivo que está sofrendo a comparação).[17]
Exemplo no caso ablativo:
ಈ ನರಮಾನ್ಯಡ್ದ್ ಆ ನರಮಾನಿ ಮಲ್ಲಾಯೆ ī naramān'yaḍd ā naramāni mallāye (aquele homem é maior que esse homem);
ಇಂಬೆ ಮಾತೆರೆಡ್ದ್ ಬುದ್ಧಿವಂತೆ imbe mātereḍd bud'dhivante (ele é o mais sábio de todos).
Exemplo no caso dativo:
ಯೆನ ಕುದುರೆಗ್ ನಿನ ಕುದುರೆ ಮಲ್ಲೆ yena kudureg nina kudure malle (para o meu cavalo, o seu cavalo é maior).
Exemplo no caso locativo:
ಮಾತ ಕುದುರೆಳೆಡ್ ನಿನ ಕುದುರೆ ಮಲ್ಲೆ māta kudureḷeḍ nina kudure malle (entre todos os cavalos, o seu é o maior).
Verbos
Os verbos no túlu apresentam três formas: ativa, causal e reflexiva (ou voz do meio).[18]
Ativa: a forma genérica do verbo, como o verbo aparece no dicionário. Exemplos: ಮಳ್ಪು maḷpu (fazer); ನಡಪು naḍapu (andar).
Causal: os verbos causais são formados ao acrescentar a letra ಆ ā (às vezes ಡು ḍu) ao radical do verbo no tempo verbal presente da forma ativa. Exemplos: ಮಳ್ಪಾ maḷpā (fazer com que); ನಡಪಾ naḍapā (fazer andar).
Reflexiva (ou voz do meio): os verbos causais são formados ao acrescentar ಒಣು oṇu no radical do verbo, no tempo verbal imperfeito da forma ativa ou no tempo verbal presente da forma causal. Exemplos: ಮಳ್ತೊಣು maḷtoṇu (fazer você mesmo); ಆಯೆ ತನ್ ಕ್ ಒಂಜಿ ತೋಟೊನು ಮಳ್ಪಾವೊಂಡೆ āye tank on̄ji tōṭonu maḷpāvoṇḍe (ele mesmo fez um jardim).
No túlu, há três tempos verbais principais: Presente, Passado e Futuro. Os tempos de Passado e Futuro têm a forma Perfeita e Imperfeita, 1° e 2° futuro. [20]
Conjugação dos verbos
Os verbos têm duas conjugações principais: aquelas que estão no presente do particípio e terminam em ಉ u, e aquelas que terminam em ಪಿ pi. Cada uma dessas conjugações tem três subdivisões, diferenciados pelas características que aparecem nos tempos presente, passado e futuro do indicativo, a partir do qual todas as demais formas poderão se derivar. Assim existem seis conjugações.[19]
Uma característica dos verbos em túlu é que em suas conjugações, o gênero, o número e a pessoa já são mostrados, sem a frase precisar de um sujeito. É como se o sujeito já fosse "embutido" no verbo. Por exemplo, na frase ಅಡ್ಡ್ಯ ಮಳ್ತೆ aḍḍya maḷte (eu fiz um bolo) não há um sujeito, pois a própria conjugação do verbo já mostra a pessoa que fez o bolo.[21]
Conjugação do verbo ಮಳ್ಪು maḷpu (fazer)
Modo Indicativo no Presente [22]
Pessoa
Positivo
Negativo
Singular
1° pessoa
ಮಳ್ಪುವೆ maḷpuve
(eu faço)
ಮಳ್ಪುಜಿ maḷpuji
(eu não faço)
2° pessoa
ಮಳ್ಪುವ maḷpuva
(você faz)
ಮಳ್ಪುಜ maḷpuja
(você não faz)
3° pessoa
(masculino)
ಮಳ್ಪುವೆ maḷpuve
(ele faz)
ಮಳ್ಪುಜೆ maḷpuje
(ele não faz)
3° pessoa
(feminino)
ಮಳ್ಪುವಳ್ maḷpuvaḷ
(ela faz)
ಮಳ್ಪುಜಳ್ maḷpujaḷ
(ela não faz)
3° pessoa
(neutro)
ಮಳ್ಪುಂಡು maḷpuṇḍu
(- faz)
ಮಳ್ಪುಜಿ maḷpuji
(- não faz)
Plural
1° pessoa
ಮಳ್ಪುವ maḷpuva
(nós fazemos)
ಮಳ್ಪುಜ maḷpuja
(nós não fazemos)
2° pessoa
ಮಳ್ಪುವರ್ maḷpuvar
(vocês fazem)
ಮಳ್ಪುಜರ್ maḷpujar
(vocês não fazem)
3° pessoa
(masculino)
ಮಳ್ಪುವೆರ್ maḷpuver
(eles fazem)
ಮಳ್ಪುಜೆರ್ maḷpujer
(eles não fazem)
3° pessoa
(feminino)
ಮಳ್ಪುವೆರ್ maḷpuver
(elas fazem)
ಮಳ್ಪುಜೆರ್ maḷpujer
(elas não fazem)
3° pessoa
(neutro)
ಮಳ್ಪುವ maḷpuva
(- fazem)
ಮಳ್ಪುಜ maḷpuja
(- não fazem)
Sintaxe
Assim como as demais línguas dravídicas, as frases no tulú são formadas no modelo sujeito-objeto-verbo (SOV). Por exemplo, em uma frase como "ele joga bola", seria traduzida para o túlu, literalmente, na ordem "ele bola joga".
No exemplo 2, pode-se ter a impressão de que a oração não possui sujeito, mesmo ele estando ali. O que acontece é que no túlu, a conjugação dos verbos já determina em que pessoa e número o verbo está. No caso desse exemplo, o sujeito "nós" já está "embutido" no verbo.
Vocabulário
Numeração
Os números em túlu são divididos em numerais substantivos, adjetivos e adverbiais.[25]