Kim Young-sik - em coreano, 김용식 (Sinchon, 25 de julho de 1910 — Seul, 8 de março de 1985) foi um futebolista e treinador de futebol coreano que defendeu as seleções japonesa e sul-coreana.[1]
Carreira
No mês seguinte a seu nascimento, o Império Coreano foi invadido e anexado ao Japão. Ele teve seu nome niponizado para Kin Yoshoku (金容植, em japonês) e estreou pela seleção japonesa em 1936,[1] participando das duas partidas do Japão nas Olimpíadas daquele ano, na vitória por 3-2 sobre a Suécia e na derrota de 8-0 para a Itália, que terminaria com a medalha de ouro.[2] Kim jogou pelo Japão uma outra vez, em 1940.[1]
A ocupação se encerrou com o fim da Segunda Guerra Mundial. Kim voltou às Olimpíadas na edição de 1948, dessa vez pela seleção da Coreia, já separada entre um comitê popular provisório no norte e um governo militar dos Estados Unidos no sul. A divisão da Coreia seria efetivada pouco depois - com a criação da Coreia do Sul no fim de agosto e da Coreia do Norte em setembro. Nas Olimpíadas, realizadas entre em julho e o início de agosto, Kim voltou a estar nas duas partidas da sua seleção: 5-3 sobre o México e derrota de 12-0, novamente para a seleção que ficaria com o ouro, dessa vez a Suécia.[3]
Kim passou a treinar a seleção sul-coreana e nela esteve na Copa do Mundo de 1954, a primeira dos coreanos. A classificação veio em vitória nas eliminatórias sobre o próprio Japão, derrotado por 5-1 e depois empatado em 2-2,[4] a despeito das duas partidas se realizarem em Tóquio, já no mês de março de 1954; o ditador Syngman Rhee negara vistos de entrada aos japoneses, em retaliação pela ocupação nipônica na península coreana até 1945, o que levara a federação local a aceitar realizar as duas partidas na casa adversária.[5]
Os jogadores de Kim superaram isso e o fato de até o ano anterior o país estar em combate na Guerra da Coreia. Não houve outro oponente: China e Taiwan não participaram por não se reconhecerem mutuamente e Índia, Vietnã e Irã não foram aceitos por perderem o prazo de inscrição.[5] A viagem à Suíça começou seis dias antes da estreia, com a delegação tomando um trem de Busan até Seul, de onde rumou de barco ao Japão. Lá, uma parte conseguiu embarcar em voo regular da Air France e o restante veio de carona em outro avião, chegando na véspera da estreia. Kim ordenou exercícios no hotel e sono até a hora de entrar em campo.[6]
Na competição, a Coreia do Sul jogou duas vezes, sem marcar gols e levando dezesseis. Primeiramente, no 9-0 na estreia contra a Hungria, que temia um confronto potencialmente perigoso, imaginando jogo violento; os sul-coreanos, porém, foram reconhecidos por praticarem um jogo leal, havendo apenas cinco faltas marcadas, declarando-se privilegiados por poderem enfrentar os "mágicos magiares".[4] Depois, no no 7-0 para a Turquia, para o qual Kim havia realizado oito alterações, permitindo que a maioria dos jogadores que haviam vivenciado a longa viagem pudessem jogar o torneio.[7]
Referências
- ↑ a b c MAMRUD, Roberto; STOKKERMANS, Karel (8 de março de 2018). «Players Appearing for Two or More Countries». RSSSF. Consultado em 20 de março de 2018
- ↑ REYES, Macario (21 de julho de 2011). «XI. Olympiad Berlin 1936 Football Tournament». RSSSF. Consultado em 20 de março de 2018
- ↑ REYES, Macario (20 de julho de 2015). «XIV. Olympiad London 1948 Football Tournament». RSSSF. Consultado em 20 de março de 2018
- ↑ a b CASTRO, Robert (2014). Capítulo VI - Suiza 1954. Historia de los Mundiales. Montevidéu: Editorial Fín de Siglo, pp. 106-139
- ↑ a b GEHRINGER, Max (janeiro de 2006). Como sempre, deserções. Placar: A Saga da Jules Rimet, fascículo 5 - 1954 Suíça. São Paulo: Editora Abril, pp. 10-13
- ↑ GEHRINGER, Max (janeiro de 2006). Longa viagem. Placar: A Saga da Jules Rimet, fascículo 5 - 1954 Suíça. São Paulo: Editora Abril, p. 28
- ↑ GEHRINGER, Max (janeiro de 2006). Massacre previsível. Placar: A Saga da Jules Rimet, fascículo 5 - 1954 Suíça. São Paulo: Editora Abril, p. 30