João César Monteiro Santos (Figueira da Foz, São Julião da Figueira da Foz, 2 de fevereiro de 1939 — Lisboa, 3 de fevereiro de 2003) foi um cineasta português. Integrou o grupo de jovens realizadores que se lançaram no movimento do Novo Cinema. Irreverente e imprevisível, fez-se notar como crítico mordaz de cinema nos anos 1960.
Prosseguiu a tradição iniciada por Manoel de Oliveira (Acto da Primavera) ao introduzir no cinema português de ficção o conceito de antropologia visual — Veredas e Silvestre —, tradição amplamente explorada no documentário por outros cineastas portugueses como António Campos, António Reis, Ricardo Costa, Noémia Delgado ou, mais tarde e noutro registo, Pedro Costa.
Segue um percurso original que lhe facilita o reconhecimento internacional. Várias das suas obras são representadas e premiadas em festivais internacionais como o Festival de Cannes e o Festival de Veneza (Leão de Prata: Recordações da Casa Amarela).
Biografia
Filho ilegítimo de Arménio Santos, de 46 anos de idade, proprietário, divorciado, natural de Tavarede, de uma família da burguesia rural,
anticlerical e anti-salazarista, e de Maria Clementina Monteiro Varela, de 30 anos, doméstica, solteira, natural de Alcochete. Aos 15 anos João César Monteiro transferiu-se para Lisboa — a «capital do Império», como gostava de lhe chamar —, a fim de prosseguir os estudos liceais.
Expulso do Colégio Moderno, alegadamente por contrair uma doença venérea, afirma numa entrevista, em 1973:[1]
Nasci aos 2 de Fevereiro de 1939, na Figueira da Foz.
Tive infância caprichosa e bem nutrida, no seio de uma família fortemente dominada pelo espírito, chamemos-lhe assim, da 1 ª República.
Por volta dos 16 anos, fixei-me com a família em Lisboa, para poder prosseguir a minha medíocre odisseia liceal. Instalado no colégio do dr. Mário Soares, acabei por ser expulso ao contrair perigosíssima doença venérea. Pensei, então, que entre a política e as fraquezas da carne devia existir qualquer obscena incompatibilidade e nunca mais fui visto na companhia de políticos.
É dos poucos cineastas associados ao movimento do Novo Cinema que não prossegue estudos universitários. A propósito, o seu alter-ego no filme Fragmentos de um Filme Esmola (1973), explica-se assim: «A escola é a retrete cultural do opressor».
Depois de trabalhar para o produtor Castello Lopes, torna-se assistente de realização de Perdigão Queiroga quando este roda o filme O Milionário (1962).
Em 1963, graças a uma bolsa da Fundação Calouste Gulbenkian, vai para a Grã-Bretanha estudar na London School of Film Technique.
De volta a Portugal, em 1965, inicia a rodagem daquela que viria a ser a sua primeira obra: Quem espera por sapatos de defunto morre descalço. O filme só será concluído cinco anos depois, como média-metragem.
A sua obra, polémica e dificilmente classificável, caracteriza-se pelo lirismo, em forma de filmes-poema. A sua veia satírica como realizador tem sido objecto de estudo para portugueses e estrangeiros, críticos e académicos. João César Monteiro, que tem sérios detractores, é conhecido como um dos mais importantes realizadores portugueses.
Foi no entanto um dos realizadores que obteve mais reconhecimento internacional: foi duas vezes premiado no Festival de Veneza, a primeira vez com o Leão de Prata, por Recordações da Casa Amarela, de 1989, e a segunda vez com o Grande Prémio do Júri, por A Comédia de Deus, em 1995.
Protagonizou a maior polémica do cinema nacional, em 2000, com Branca de Neve.
O seu último filme, estreado em 2003, intitula-se Vai e Vem.
Morreu de cancro no pulmão em 2003.[2]
Homenagens
Em 2005 foi atribuído o seu nome a uma rua na Azinhaga da Salgada, em Lisboa.
Filmografia
Longas-metragens
Curtas e médias-metragens
Como produtor
Como actor
- Vai e Vem (2003)
- As Bodas de Deus (1999)
- Le Bassin de J.W. (1997)
- A Comédia de Deus (1995)
- O Bestiário ou o Cortejo de Orpheu (1995)
- Lettera Amorosa (1995)
- Passeio com Johnny Guitar (1995)
- Rosa Negra, de Margarida Gil (1992)
- Paroles, de Anne Benhaïem (1992)
- Conserva Acabada (1990)
- Recordações da Casa Amarela (1989)
- Relação Fiel e Verdadeira, de Margarida Gil (1989)
- Doc's Kingdom, de Robert Kramer (1987)
- À Flor do Mar (1986)
- A Estrangeira, de João Mário Grilo (1983)
- Amor de Perdição, de Manoel de Oliveira (1979)
Colaboradores recorrentes
Escritos
Livros
- Corpo Submerso (ed. Autor, 1959)
- Morituri te Salutant (& etc, 1974)
- Le Bassin de John Wayne/As Bodas de Deus (& etc, 1998)
- Uma Semana Noutra Cidade (& etc, 1999)
Revistas e jornais
- Imagem
- O Tempo e o Modo
- A República
- Diário de Notícias
- Trafic
- Les Cahiers du Cinéma
- O Cinéfilo
- & ETC.
Retrospectivas
Ver também
Referências
Ligações externas