José Vicente Barbosa du Bocage

José Vicente Barbosa du Bocage
José Vicente Barbosa du Bocage
Nascimento José Vicente Barbosa du Bocage
2 de maio de 1823
Funchal
Morte 3 de novembro de 1907 (84 anos)
Lisboa
Cidadania Reino de Portugal
Progenitores
  • João José Barbosa du Bocage
  • Josefa Teresa Pestana
Irmão(ã)(s) João Barbosa du Bocage
Alma mater
Ocupação zoólogo, político, escritor, naturalista

José Vicente Barbosa du Bocage (Funchal, 2 de maio de 1823Lisboa, 3 de novembro de 1907) foi um zoólogo, político e professor português. Ele atuou como professor de zoologia e diretor do Museu Nacional de História Natural e da Ciência no IInstituto Politécnico de Lisboa onde desempenhou um papel significativo no desenvolvimento das coleções e da pesquisa zoológica em Portugal. O trabalho científico de Bocage levou à descrição de inúmeras espécies, especialmente da fauna portuguesa e africana. Bocage publicou extensivamente sobre taxonomia, avançando o conhecimento zoológico em Portugal e do seus territórios ultramarinos.

Bocage ocupou cargos públicos, incluindo o de Ministério da Marinha e Ultramar. Ele esteve envolvido em políticas coloniais e geográficas, cofundando a Sociedade de Geografia de Lisboa e representando Portugal na Conferência de Berlim, onde defendeu as reivindicações portuguesas na África. As suas contribuições à ciência e à administração colonial de Portugal são homenageadas nos nomes de várias espécies, como dois lagartos e duas espécies de aves.

Biografia

José nasceu em 2 de maio de 1823, no Funchal, Portugal, na família Du Bocage, de ascendência francesa. O seu pai, João José Barbosa du Bocage, era cadete do exército, mas emigrou para o Brasil em 1830 devido à sua oposição ao regime absolutista do rei Miguel I de Portugal. A família reuniu-se no Rio de Janeiro, onde o tio materno de Bocage, José Ferreira Pestana, tinha estabelecido uma escola na qual ambos os pais de José ensinavam. Após a vitória da causa liberal em 1834, a família retornou ao Funchal, onde João José atuou como oficial de alfândega.[1][2][3]

Em 1839, José matriculou-se na Universidade de Coimbra, inicialmente estudando matemática e depois medicina. Graduou em 1846 com o grau de licenciatura em medicina. Durante a Guerra da Patuleia, ele integrou o batalhão académico, apoiando a causa liberal. Após a guerra, ele estabeleceu uma prática médica em Lisboa e foi nomeado para o Hospital de São José. No entanto, logo mudou o seu foco para a zoologia. Nesse mesmo ano, casou-se com Teresa Roma, com quem teve um filho, Carlos Roma du Bocage.[1][2][3]

Zoologia

Bocage iniciou sua carreira acadêmica em 1849, ao ser nomeado professor substituto de zoologia no Instituto Politécnico de Lisboa. Em 1851, ele tornou-se professor titular, dedicando mais de 30 anos ao ensino de zoologia e à organização da pesquisa científica na instituição, que mais tarde foi integrada à Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa.[1][3][4]

Em 1858, Bocage foi nomeado diretor científico e curador de zoologia do Museu Nacional de História Natural e da Ciência, parte da Escola Politécnica. Sob a sua liderança, o museu tornou-se uma instituição central para o estudo e classificação da fauna de Portugal e de suas colônias. Ele encarregou-se de organizar as coleções zoológicas do museu com uma política de aquisição criteriosa, priorizando espécimes que preenchessem lacunas em grupos taxonômicos específicos, em vez de expandir a coleção indiscriminadamente.[1][2][3][4]

Bocage publicou numerosas obras sobre classificação de espécimes, desempenhando um papel fundamental na estruturação das coleções do museu e no avanço da taxonomia portuguesa. O seu foco principal era a fauna de Portugal e das suas colônias africanas, especialmente Angola. Ele trabalhou em estreita colaboração com coletores de campo, como José de Anchieta, que contribuiu com extensas coleções de Angola.[1][2]

Ao longo de sua carreira, Bocage publicou 177 artigos científicos e descreveu aproximadamente 100 novas espécies, concentrando-se na classificação de mamíferos, aves, répteis, anfíbios, insetos e esponjas. As suas colaborações científicas estenderam-se internacionalmente, incluindo o Museu de História Natural de Paris, onde ele obteve coleções em troca de espécimes portugueses tomados durante a invasão napoleônica da Península Ibérica. Em 1875, Bocage cofundou a Sociedade de Geografia de Lisboa e foi presidente de 1877 a 1883. As suas contribuições para a zoologia portuguesa foram reconhecidas em 1905, quando o museu foi renomeado em sua homenagem por decreto governamental.[1][2][3]

Política

Bocage teve uma ativa participação na vida pública e política. Ele afiliou-se ao Partido Regenerador, um partido político em Portugal, e foi eleito deputado pelo município de Montemor-o-Novo em 1879. Ele atuou em comissões de Instrução Pública, Saúde, Negócios Estrangeiros e Territórios Ultramarinos, defendendo uma política de colonização estruturada e apoiando o conhecimento geográfico e a expansão portuguesa na África.[1]

Em 1881, Bocage foi nomeado par do reino e, posteriormente, serviu como Ministro da Marinha e Ultramar no governo de Fontes Pereira de Melo. O seu mandato foi marcado por importantes avanços na política colonial portuguesa, incluindo o estabelecimento de uma linha regular de vapores entre Lisboa e Moçambique. Bocage ajudou a organizar a Conferência de Berlim, que definiu princípios para as reivindicações territoriais na África. Ele defendeu o controlo português de territórios que conectassem Angola e Moçambique, visão parcialmente articulada no Mapa Cor-de-Rosa, embora posteriormente contestada pelos interesses britânicos.[1][5]

Honras

Bocage recebeu várias honrarias, incluindo a Ordem Militar de Sant'Iago da Espada de Portugal, a Cruzes do Mérito Naval de Espanha, a Ordem de Francisco José da Áustria, a Ordem da Rosa do Brasil e o título de oficial da Legião de Honra da França. Em 1903, a Sociedade de Geografia de Lisboa realizou uma cerimônia em sua homenagem, na qual o rei Carlos I de Portugal o condecorou com uma medalha de honra em reconhecimento às suas contribuições para a ciência e a nação portuguesa.[1]

Taxa em sua homenagem

Bocage é homenageado nos nomes científicos de várias espécies. Entre os répteis, os lagartos, lagartixa-de-bocage e trachylepis bocagii levam o seu nome.[6] Além disso, duas espécies de aves são nomeadas em sua honra: o beija-flor-de-bocage e o shheppardia bocagei.[7]

Obras seleccionadas

  • "A ornitologia dos Açores", Jorn. Scien. Math. Phys. Natur 1: 89-92, 1866.
  • "Natural history of the Azores by F. Du Cane Godman, London 1870", Jorn. Scien. Math. Phys. Natur 4: 279-280, 1873.
  • Aves das possessões portuguesas d'África occidental que existem no Museu de Lisboa, da 1ª à 24ª lista, 1868 a 1882
  • Lista dos répteis das possessões portuguesas d'África occidental que existem no Museu de Lisboa, 1866
  • Notice sur un batracien nouveau du Portugal, 1864
  • Diagnose de algumas espécies inéditas da família Squalidae que frequentam os nossos mares, 1864
  • Peixes plagiostomos, 1866
  • Ornithologie d'Angola, 1881 and 1877
  • Herpethologie d'Angola et du Congo, 1895.

Referências gerais

  • Almaça, C.,1987. A Zoologia e a Antropologia na Escola Politécnica e na Faculdade de Ciências (até 1983). In: Fac.Ciências da Univ.Lisboa. Passado/Presente e Perspectivas Futuras, 150º aniversário da Escola Politécnica, 75º aniv.Fac. Ciências, 293-312.
  • Burnay E., 1903. Comemorações Sociaes – O conselheiro Barboza du Bocage. Boletim da Sociedade de Geographia de Lisboa, 21ª. Série, nº7:245-253.
  • Osório, B., 1915. Elogio Histórico do Illustre Naturalista e Professor J.V.Barboza du Bocage. Memórias do Museu Bocage: 1-42

Ligações externas

  1. a b c d e f g h i Pires de Almeida, Maria (2023). «Bocage, José Vicente Barbosa du» (em inglês). doi:10.58277/ZXFL8158. Consultado em 10 de novembro de 2024 
  2. a b c d e Ferreira, Emilia; Monteiro, Joana d’Oliva; Silva, Raquel Henriques da; Pereira, Elisabete (2022). Dicionário Quem é Quem na Museologia Portuguesa. [S.l.]: NOVA FCSH. pp. 44–46. ISBN 978-989-54405-5-9. doi:10.34619/oelt-t7xq 
  3. a b c d e Catalans, Institut d'Estudis; Tècnica, Societat Catalana d'Història de la Ciència i de la (27 de abril de 2012). The Circulation of science and technology: Proceedings of the 4th International Conference of the European Society for the History of Science : Barcelona, 18-20 november 2010 (em inglês). [S.l.]: Institut d'Estudis Catalans. ISBN 978-84-9965-108-8 
  4. a b «Um museu à medida». AR Magazine (em inglês). 7 de fevereiro de 2019. Consultado em 10 de novembro de 2024 
  5. «A partilha de África na Conferência de Berlim - TELMA». Descolonização Portuguesa. Consultado em 10 de novembro de 2024 
  6. Beolens, Bo; Watkins, Michael; Grayson, Michael (2011). The Eponym Dictionary of Reptiles. Baltimore: Johns Hopkins University Press. xiii + 296 pp. ISBN 978-1-4214-0135-5. ("Bocage", p. 28).
  7. Beolens, Bo; Watkins, Michael (2003). Whose Bird? Men and Women Commemorated in the Common Names of Birds. London: Christopher Helm. pp. 57–58 

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