Filho de Bernardo Marques da Silva (pedreiro lavrista), e Maria Rosa Marques, José Marques da Silva nasceu no n.º 113 da Rua de Costa Cabral, no Porto, a 18 de outubro de 1869.
Frequentou a instrução primária e estudos secundários no Liceu da Ordem da Trindade.[1]
Durante a sua estadia em Paris, Marques da Silva desenvolveu a maior parte dos seus trabalhos académicos, que resultam em desenhos de arquitetura notáveis, num atelier livre externo à escola, sob orientação de Victor Laloux. Este ateliê era então frequentado por uma comunidade internacional de estudantes de arquitetura, onde se destacam nomes como Charles Lemaresquier, futuro sucessor de Victor Laloux, Paul Norman, que viria a ganhar o Grand Prix de 1891, Charles Butler, o primeiro diplomado americano do atelier, em 1897, ou mesmo o do seu conterrâneo Miguel Ventura Terra. Deste período, a Fundação Instituto Arquiteto José Marques da Silva possui um conjunto documental composto por 67 desenhos de arquitetura, que constitui um assinalável registo das práticas arquitetónicas finisseculares no seio das Belas-Artes.
Prática da arquitetura
Marques da Silva regressou a Portugal em 1896 para iniciar uma intensa atividade profissional que rapidamente lhe granjeou o reconhecimento público. Na Exposição Universal de Paris de 1900 obtém a medalha de prata e na Exposição do Rio de Janeiro de 1908 foi premiado com a medalha de ouro. Em 1908 é agraciado com o Grau Oficial da Ordem de S. Tiago de Mérito Científico, Literário e Artístico.
A sua obra, num momento de mudança das práticas construtivas, aliou aos valores da tradição das Beaux-Arts as componentes da razão, traduzindo-se em projetos funcionais e adaptados às mecânicas da vida moderna e na defesa de um modo muito próprio de entender a construção da cidade.
Atividade docente
A atividade docente de Marques da Silva iniciou-se em 1900, na qualidade de Professor de Desenho e Modelação no Instituto Industrial e Comercial do Porto. Em 1906 foi nomeado professor de arquitetura na Academia Portuense de Belas-Artes, vindo a ocupar posteriormente o lugar de diretor da então já designada Escola de Belas-Artes do Porto (1913-1914; 1918-1939). Foi ainda diretor e professor da Escola de Arte Aplicada Soares dos Reis (1914-1930).[2]
O desenho, como instrumento central da prática do projeto e base de transmissão de processos metodológicos estáveis, mas capazes de reagir às múltiplas solicitações da sociedade, foi o motor do seu ensino. Teve uma influência direta na formação de arquitetos como Rogério de Azevedo[3]. A centralidade do desenho manteve-se como característica central do ensino de Arquitetura no Porto nas gerações que se seguiram, continuando a ser transmitida por arquitetos como Carlos Ramos, Fernando Távora e Álvaro Siza Vieira, podendo-se atribuir assim a Marques da Silva o papel de um dos antecedentes da tradição da Escola do Porto.[4]
O legado
Marques da Silva faleceu em 6 de Junho de 1947, na sua residência na Praça Marquês de Pombal, no Porto, tendo sido sepultado no Cemitério da Lapa, em jazigo da sua autoria.
Nas suas múltiplas frentes de atuação, este académico de mérito das Academias de Belas-Artes de Lisboa e Porto, membro do Conselho Superior da Sociedade de Belas-Artes, sócio n.º 1 da Sociedade dos Arquitetos do Norte (encontrando-se colaboração da sua autoria no Anuário da sociedade de arquitetos portugueses[5]), deixou um legado duradouro na cultura arquitetónica portuense, na paisagem da cidade, na cultura de projeto dos arquitetos, nas práticas de ensino, numa certa forma de fazer e pensar a arquitetura que se foi consolidando no Porto ao longo do século XX.
O espólio de Marques da Silva foi legado à Universidade do Porto por Maria José Marques da Silva (1914-1994) e David Moreira da Silva (1909-2002), sua filha e genro, também arquitetos, para criação do Instituto Marques da Silva. Em 1996, a Universidade funda o Instituto Arquitecto José Marques da Silva e em Julho de 2009 é reconhecida a decisão de transformação do instituto em Fundação Instituto Arquitecto José Marques da Silva (FIMS), uma fundação de direito privado que tem como missão a promoção científica, cultural, formativa e artística do património arquitetónico do arquiteto José Marques da Silva, inserido no contexto do seu tempo e aberto à cultura moderna de que foi precursor. A Fundação, sediada na própria Casa-Atelier do arquiteto e no contíguo palacete da família Lopes Martins, e ocupando ainda um pavilhão existente no seu extenso jardim, acolhe igualmente o acervo literário, artístico, arquitetónico e urbanístico dos arquitetos Maria José Marques da Silva Martins e David Moreira da Silva. A FIMS articula as vertentes de conservação, valorização e tratamento da informação com a investigação e divulgação, estando disponível para acolher ou incorporar outros fundos ou unidades documentais de valor patrimonial, histórico, científico, artístico ou documental relativos, preferencialmente ligados à arquitectura e ao urbanismo portuense e português.
Em Maio de 2011, a Sociedade de Transportes Colectivos do Porto, em conjunto com a Fundação Marques da Silva, homenageou este autor, ao providenciar informação aos passageiros da Linha 22 dos Eléctricos do Porto sobre os vários edifícios projectados por Marques da Silva, pelos quais esta linha passa.[6]
↑CARDOSO PINHEIRO DE CARVALHO, ANTONIO (1992). 0 ARQUITECTO JOSE MARQUES DA SILVA. Porto: Dissertação de Doutoramento em História de Arte apresentada à Faculdade de Letras do Porto. pp. VOL I – Pag. 108 – 110
↑ abA República das Artes Tugaland ed. [S.l.]: Tugaland. 2010. ISBN978-989-8179-85-2|nome1= sem |sobrenome1= em Authors list (ajuda)
Bibliografia
CARDOSO, António O Arquitecto José Marques da Silva e a arquitectura no Norte do País na primeira metade do séc. XX, 2.ª edição, Porto, Faculdade de Arquitectura da Universidade do Porto, 1997, 793 pp.
CARDOSO, António, J. Marques da Silva arquitecto 1869-1947, Porto, Secção Regional do Norte da Associação dos Arquitectos Portugueses, 1986.
CARDOSO, António, Estação S. Bento, Marques da Silva, Porto, Instituto Arquitecto José Marques da Silva, 2007.
CARNEIRO, Luís Soares, A Estranheza da Estípite. Marques da Silva e o(s) Teatro(s) de S. João, Porto, FIMS, 2010.
MESQUITA, Mário João (coord.), Marques da Silva, o aluno, o professor, o arquitecto, Porto, IMS-Faup, [2006]
TAVARES, André, Os fantasmas de Serralves, Porto, Dafne Editora, 2007.
TAVARES, André, Em Granito. A arquitectura de Marques da Silva em Guimarães, Porto, FIMS, 2010
VASCONCELOS, Domingas, A Praça do Marquês de Pombal na Cidade do Porto, das suas origens até à construção da Igreja da Senhora da Conceição, Porto, Faup-publicações, 2008, pp. 117–118.