A palavra sânscritayoga tem diversos significados;[14] deriva da raizyuj, que significa "controlar", "jungir", "unir"[15] ou "concentração".[16] Algumas das traduções também incluem os significados de "juntando", "unindo", "união", "conjunção" e "meios".[17][18][19]
Um(a) praticante avançado(a) da ioga é chamado de iogue.
Etimologia
No devanágari, alfabeto utilizado no sânscrito, o termo é originalmente escrito desta forma: योग. Provém da raiz sânscrita yuj, que significa "jungir", "cangar", "arrear", "atrelar", "prender", "juntar". Quando se atrela o boi à canga ou jugo, ou ainda quando se junta a parelha de animais, isto significa que se está colocando esses animais em condições para o trabalho. Por isso, a raiz "yuj" também significa "adequar", "preparar" ou "utilizar".
A ideia de que a raiz "yuj" poderia significar "unir" no sentido de "integrar" (física ou misticamente) surge, possivelmente, a partir de uma afirmação vedantina que define o ioga como a "união" entre Jīvātma e Paramātma, que passam a ser um só. Porém, "yuktam" (que é o particípio passado desse verbo) não significa "unido", mas "atrelado", "preparado" ou "adequado".
Alguns acreditam que ioga, interpretado como "união" nos meios vedantinos, carece de sentido , principalmente no Advaita Vedanta, onde tudo é Brahman, o Absoluto que abarca tudo o que existe, então não há a necessidade de "união", pois qualquer desunião, separação é mera ilusão (māyā); por isso, há a descoberta da união sempre existente, a descoberta de Brahman em todas as coisas, inclusive no próprio indivíduo. Entretanto, esta não é a realidade observada no nível evolutivo atual da raça humana, caracterizado pelo individualismo e pela maneira desconectada como os seres humanos se sentem em relação aos de sua espécie e aos demais seres que habitam o planeta Terra.
O entendimento de que no Yoga Sūtra essa interpretação de ioga como "união" também careceria de sentido não é correta. A crença de que somos e sempre fomos, em essência, o Puruṣa, a consciência incondicionada e eterna, que não precisa ser unida a nada, muito pelo contrário, precisa ser desidentificada dos processos fenomenológicos da natureza (Prakrti), ainda não se mostra verdadeira no estágio evolucionário atual da raça humana.
समत्वं योग उच्यते ॥ samatvaṁ yoga ucyate: "É dito que Ioga é equanimidade da mente". (II, 48)
योगः कर्मसु कौशलम् yogaḥ karmasu kauśalam: "Ioga é perfeição na ação". (II, 50)
"Não conhece doença, velhice nem sofrimento aquele que forja seu corpo no fogo do Ioga. Atividade, saúde, libertação dos condicionamentos, circunspecção, eloquência, cheiro agradável e pouca secreção, são os sinais pelos quais o Ioga manifesta seu poder."
Svetāśvatāropaniṣad (II:12-13).
"A unidade da respiração, da consciência e dos sentidos, seguida pela aniquilação de todas as condições da existência: isso é o Ioga."
Maitrī Upaniṣad, VI:25.
"Quando os cinco sentidos e a mente estão parados, e a própria razão descansa em silêncio, então começa o caminho supremo. Essa firmeza calma dos sentidos chama-se Yoga. Mas deve-se estar atento, pois o Yoga vem e vai."
ऐवं तु द्वान्दजालास्य संयोगो योग उच्यते ॥ evaṁ tu dvandajālasya saṁyogo yoga ucyate:
"Diz-se que o Yoga é a transcendência da conexão com a rede das dualidades" (I:90).
tadīkṣaṇāya svādhyāyaś cakṣuryoga stathāparam | na māṁsacakṣuṣā draṣṭuṁ brahma bhūtaḥ sa śakyate:
"Do estudo deve-se passar ao Yoga. Do Yoga deve-se passar ao estudo. Pela perfeição no estudo e no Yoga, percebe-se a Consciência Suprema. O estudo é um dos olhos com que se percebe o Ser. O Yoga é o outro. Aquele que é uno com o Ilimitado não vê mais com os olhos do corpo".[21]
Grafia
No Brasil, mas também em Portugal e outros países, há uma certa polêmica em relação à ortografia do termo, devido às inúmeras convenções utilizadas para a transliteração de idiomas escritos em caracteres diferentes dos latinos, como o grego, o hebraico e as línguas da Índia. As grafias atualmente propostas aparecem em quase todas as variações possíveis: "yôga", "yoga", "yóga" e, por fim, "ioga", única forma em língua portuguesa que é considerada ortograficamente correta.[22]
A grafia adotada na Wikipédia é "ioga", a forma aportuguesada também utilizada nos dicionários. A exceção é para as citações e nomes próprios de livros ou linhagens, para os quais foram mantidas as grafias originais adotadas na literatura de cada modalidade. Por extensão, é adotada também a forma "iogue" para se designar o praticante de ioga. No entanto, há correntes de estudo que evidenciam que o termo "iogue" deve referir-se apenas àquele que atingiu seu estado mais avançado na prática, ficando o termo "ioguin" reservado a todos os praticantes e aspirantes.
Pronúncia
Na pronúncia do termo sânscrito, ouve-se a primeira e segunda letras (considerando a palavra transliterada para o alfabeto latino) soando rapidamente, o Ô fechado e uma leve prolongação desta letra. O 'ga' é soado rapidamente com o 'g' quase mudo. É possível ouvir a pronúncia ideal da palavra no subcontinente indiano, principalmente na Índia, já que muitos termos derivados do sânscrito estão sendo preservados pelo hindi, idioma indo-ariano comumente utilizado neste país.
Noutros países em que a filosofia vem sendo praticada, observa-se variações. Na Argentina, a variação é encontrada na pronúncia CHôga, garantindo o som chiado do "y" falado nesta região. No Brasil, a divergência fonética é sobre a letra 'O'.
Estilos
Há centenas de estilos diferentes de ioga no mundo, que propõem diversos caminhos para alcançar o mesmo objetivo: o Samádhi, a Iluminação da Consciência e/ou compreensão da existência.
Vários são os métodos e escolas para se atingir esta meta, porém, ela sempre é o referencial. As escolas mais antigas utilizam-se de métodos estritamente técnicos; as escolas mais modernas têm uma conotação tendendo mais ao espiritualismo, fruto da difusão do Vedanta na época medieval. Desenvolveu-se ao longo da história no oriente, particularmente na Índia, e que nos dias de hoje está amplamente difundido no mundo todo, inclusive no ocidente.
A obra Yoga Sūtra de Patañjali (300 a 200 a.C.) é um tratado clássico da filosofia ióguica e contém seus principais aspectos.[23] O sistema filosófico do Ioga, exposto no Ioga Sutra, aceita a psicologia, metafísica e fenomenologia da escola Saṅkhya, por isso, pode-se dizer que são duas escolas irmãs, diferenciando apenas no uso do termo Īśvara ("Senhor", um Puruṣa nunca afetado pela Prakṛti); o ioga usa-o para uma prática chamada Íshvara pranidhána, enquanto o Samkhya não consegue provar ou não provar sua existência.
A obra foi escrita em sânscrito e oferece uma série de desafios, pois os sūtras (literalmente "fio condutor"), são aforismos sintéticos, curtos, que chegam a ser obscuros. Feitos assim, eles deviam ser decorados pelos alunos e discípulos. E, além disso, há no texto o uso de diversos termos chave sem suas formalizações, principalmente provenientes do sistema Saṅkhya que é tomado como base.
Por esses motivos, o Yoga Sūtra se torna de difícil entendimento por aqueles que não fazem parte da cultura do Yoga. Assim, o Yoga Sūtra foi vastamente traduzido e interpretado durante séculos das mais diversas maneiras. O primeiro comentarista do Yoga Sūtra é Vyāsa, em seu Yogabhāṣya, obra de 500 a 850 d.C.[carece de fontes?]
Aṣṭāṅga: os oito pilares da ioga clássica
Referidos como membros ou etapas, são passos que se sobrepõem à medida que se avança no caminho. São:
Patañjali enumera nove obstáculos ao yoga (sūtra 1.30) que são dispersões ou oscilações mentais, embora outros fatos não enumerados também possam ser considerados obstáculos.
8 - Alabdhabhūmikatva = inconstância, dificuldade para praticar consistentemente
9 - Ānavasthitatvān = instabilidade, incapacidade de manter o foco ou concentrar-se
Aparecem, junto com essas dispersões (sūtra 1.31):
1 - Sofrimento
2 - Angústia, devido à não satisfação de um desejo
3 - Agitação do corpo
4 - Inspiração, uma respiração agitada, sem ritmo, não profunda, rápida, irregular, sintoma de uma mente ainda dispersa
5 - Expiração
Para preveni-las, deve-se praticar disciplina (abhyāsa) sobre um princípio (tattva) qualquer (sūtra 1.32).
Ioga e religiões
Hinduísmo
O Ioga é um dos Ástika Purusha Darśanā (escolas filosóficas autorizadas espiritualistas) do Hinduísmo. Geralmente está associado com uma filosofia de pensamento (mais comumente com o Samkhya ou o Vedanta) e a uma filosofia de comportamento (Tantra ou Brahmachárya).[24]
Cristianismo
Jean-Marie Déchanet, um monge beneditino francês, buscou curar-se da epilepsia com exercícios, e descobriu o Hatha Yoga. Após curar-se, Déchanet foi o pioneiro em abrir o mundo cristão para a prática do Ioga. Escreveu nove livros sobre Ioga para cristãos, entre eles o livro "Ioga para Cristãos", em 1959, traduzido para o português e lançado no Brasil em 1962, com 220 páginas.[25][26]
A Igreja Católica emitiu em 1989 um documento a respeito de práticas de meditação, onde a ioga é mencionada.[27]
Paramahansa Yogananda, grande difusor da ioga no ocidente, traz diversas relações do Cristianismo com a filosofia iogue. Em seu livro A Ioga de Jesus, ele demonstra diversas relações dos ensinamentos de Jesus com a milenar filosofia indiana.
Reconhecimentos
ONU
O Ioga foi declarado como Patrimônio Imaterial da Humanidade pela Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e a Cultura (Unesco) no dia 01/12/2016. A Unesco considerou que essa prática e a filosofia a ela ligada "influenciou numerosos aspectos da sociedade, que abrangem desde a saúde e a medicina até a educação e as artes".[28]
↑Para o uso da palavra na literatura páli, veja Thomas William Rhys David, William Stede, Pali-English dictionary. Motilal Banarsidass Publ., 1993, page 558: [1]
↑Lardner Carmody, Denise e Carmody, John. Serene Compassion. Oxford University Press US, 1996, page 68.
↑Sarbacker, Stuart Ray. Samadhi: The Numinous and Cessative in Indo-Tibetan Yoga. SUNY Press, 2005, pages 1-2.
↑"O ioga tem cinco significados principais: 1) ioga como método disciplinar para atingir uma meta; 2) ioga como técnica para controlar o corpo e a mente; 3) ioga como nome de uma das escolas ou sistemas de filosofia/formar cidadãos conscientes(darśana); 4) ioga aliada a outros termos, como hatha-, mantra-, and laya-, referindo-se às tradições especializadas em técnicas específicas do ioga; 5) ioga como meta da prática de ioga." Jacobsen, p. 4.
↑Monier-Williams inclui "é o segundo dos dois sistemas Sāṃkhya," e "abstração mental praticada como um sistema (tal como foi ensinado por Patañjali, e chamado de filosofia ioga)" em suas definições de "ioga".
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