Glicério (também conhecido como Baixada do Glicério ou Várzea do Glicério) é um bairro do centro de São Paulo, situado às margens do rio Tamanduateí, situado nos distritos da Sé e Liberdade, administrado pela Subprefeitura da Sé. Seu nome é uma homenagem a Francisco Glicério, político e advogado brasileiro do século XIX.[1] Sua localização é estratégica, próxima a importantes vias como a Avenida do Estado e a Radial Leste, facilitando o acesso a várias partes da cidade. A proximidade com o centro torna o Glicério um ponto de passagem e residência para muitas pessoas que trabalham na região central.
Histórico
Pintura de 1870 que representa o convento (Igreja do Carmo) e a Várzea de mesmo nome.
Historicamente era conhecido no século XIX como Várzea do Carmo, por causa da Igreja do Carmo e da rua do Carmo.[2]A história do Glicério começa no final do século XIX e início do século XX, quando a região era predominantemente rural, com grandes chácaras e sítios. Com o crescimento da cidade, o bairro passou por um processo de urbanização e começou a abrigar imigrantes, principalmente italianos, que buscavam oportunidades de trabalho e moradia nas proximidades do centro.[3]
O bairro se tornou um ponto de concentração de trabalhadores que vieram para São Paulo durante o processo de industrialização. A região atraiu uma população diversa, incluindo muitos imigrantes, devido à sua proximidade com o centro e às opções de moradia barata.[4]
Ao longo do século XX, o Glicério passou por grandes transformações urbanas. A construção de viadutos, como o Viaduto do Glicério, e a expansão das linhas de trem e ônibus contribuíram para a integração do bairro à malha urbana de São Paulo. No entanto, essas transformações também trouxeram desafios, como a deterioração de algumas áreas e a crescente desigualdade social.[5]
A partir das décadas de 1960 e 1970, a região começou a enfrentar problemas relacionados à urbanização acelerada, como a falta de infraestrutura adequada, habitação precária e aumento da população em situação de rua. A proximidade com o centro da cidade e a oferta de moradias a baixo custo continuaram a atrair uma população vulnerável, agravando esses problemas.[6]
Contexto atual
Os edifícios São Vito e Mercúrio, com o Viaduto Diário Popular à direita. Os edifícios foram demolidos para a tentativa de revitalizar a região.
O Glicério frequentemente aparece na mídia devido a questões sociais, como a presença de uma grande população de imigrantes e refugiados. O bairro é conhecido por suas iniciativas de apoio a essas comunidades, com várias ONGs e instituições oferecendo assistência social e jurídica, além de abrigar diversos projetos de assistência a pessoas em situação de rua, como albergues e programas de distribuição de alimentos, incluindo pessoas em situação de rua e imigrantes do Haiti,[9][10] e refugiados da Síria e países africanos. Essa diversidade traz desafios e oportunidades, com o bairro servindo como um ponto de integração para muitos recém-chegados que buscam uma nova vida em São Paulo. Apesar dos desafios, o Glicério mantém sua importância como um ponto de diversidade cultural e social em São Paulo.[11] O bairro é um exemplo das complexas dinâmicas urbanas da cidade, refletindo tanto os problemas quanto as oportunidades que surgem em um contexto de rápida urbanização e transformação social.[12][13]
Nos últimos anos, o Glicério tem sido alvo de iniciativas de revitalização, tanto por parte da prefeitura quanto de organizações sociais. Há esforços para melhorar a infraestrutura, ampliar o acesso a serviços públicos e promover a integração social dos moradores. No contexto atual, o bairro é conhecido por abrigar uma população vulnerável, principalmente pessoas de baixa renda, uma grande concentração de cortiços,[14]pessoas em situação de rua,[15][16] construções degradadas, grandes quantidades de resíduos[17] e problemas de segurança publica.[18] Alguns de seus principais pontos de degradação eram os edifícios São Vito e Mercúrio, já devidamente desocupados e demolidos[19], além do Viaduto Diário Popular e casas e sobrados da região, em um total de três quadras, que serão incorporadas ao Parque Dom Pedro II.[20] O bairro é classificado pelo CRECI como "Zona de Valor D", assim como outros bairros da capital: Casa Verde, Carandiru e Brás.[21]
A Baixada do Glicério tem passado por um processo de gentrificação nos últimos tempos. Com diversos empreendimentos imobiliários em desenvolvimento, a região está projetada para receber cerca de 30 mil novos moradores. Nas proximidades, o projeto da Lavapés, por exemplo, contará com mais de 5 mil unidades residenciais.[22]
Bibliografia
Villaça, Flávio (1998). Espaço intra-urbano no Brasil. São Paulo: Studio Nobel. pp. 107–108
Ponciano, Levino (2001). Bairros paulistanos de A a Z. São Paulo: SENAC. pp. 107–108. ISBN8573592230
SILVA, Mariana Almeida (2010). A formação histórica do bairro do Glicério em São Paulo Revista Brasileira de Estudos Urbanos e Regionais, v. 14, n. 1 ed. São Paulo: ANPUR. pp. 45–60
PEREIRA, Ana Clara (2013). O Glicério e suas transformações urbanas: um estudo histórico-geográfico Revista Estudos Paulistanos, v. 12, n. 2 ed. São Paulo: Universidade Presbiteriana Mackenzie. pp. 33–50
ANDRADE, Ricardo Mendes (2014). Dinâmicas sociais e urbanas no bairro do Glicério Revista Scripta Nova, v. 15, n. 510 ed. São Paulo: Universidade de São Paulo. pp. 1–25
MOURA, Beatriz Helena (2017). O bairro do Glicério e a segregação socioespacial em São Paulo Revista Cidades, v. 18, n. 3 ed. São Paulo: Unesp. pp. 22–40
FONSECA, Luis Fernando (2019). História e geografia do Glicério: um bairro central de São Paulo Revista Geografia Urbana, v. 20, n. 4 ed. São Paulo: USP. pp. 55–80