Glicério (bairro de São Paulo)

Glicério
Baixada do Glicério
Várzea do Glicério
Bairro de São Paulo
Fundação dezembro de 1905 (119 anos)
Imigração predominante Haiti, Síria Síria
Distrito Liberdade e
Subprefeitura
Região Administrativa Centro

Glicério (também conhecido como Baixada do Glicério ou Várzea do Glicério) é um bairro do centro de São Paulo, situado às margens do rio Tamanduateí, situado nos distritos da e Liberdade, administrado pela Subprefeitura da Sé. Seu nome é uma homenagem a Francisco Glicério, político e advogado brasileiro do século XIX.[1] Sua localização é estratégica, próxima a importantes vias como a Avenida do Estado e a Radial Leste, facilitando o acesso a várias partes da cidade. A proximidade com o centro torna o Glicério um ponto de passagem e residência para muitas pessoas que trabalham na região central.

Histórico

Pintura de 1870 que representa o convento (Igreja do Carmo) e a Várzea de mesmo nome.
Mapa que mostra os terrenos da região
Quadro de Benedito Calixto que mostra uma inundação na região.

Historicamente era conhecido no século XIX como Várzea do Carmo, por causa da Igreja do Carmo e da rua do Carmo.[2]A história do Glicério começa no final do século XIX e início do século XX, quando a região era predominantemente rural, com grandes chácaras e sítios. Com o crescimento da cidade, o bairro passou por um processo de urbanização e começou a abrigar imigrantes, principalmente italianos, que buscavam oportunidades de trabalho e moradia nas proximidades do centro.[3]

O bairro se tornou um ponto de concentração de trabalhadores que vieram para São Paulo durante o processo de industrialização. A região atraiu uma população diversa, incluindo muitos imigrantes, devido à sua proximidade com o centro e às opções de moradia barata.[4]

Ao longo do século XX, o Glicério passou por grandes transformações urbanas. A construção de viadutos, como o Viaduto do Glicério, e a expansão das linhas de trem e ônibus contribuíram para a integração do bairro à malha urbana de São Paulo. No entanto, essas transformações também trouxeram desafios, como a deterioração de algumas áreas e a crescente desigualdade social.[5]

A partir das décadas de 1960 e 1970, a região começou a enfrentar problemas relacionados à urbanização acelerada, como a falta de infraestrutura adequada, habitação precária e aumento da população em situação de rua. A proximidade com o centro da cidade e a oferta de moradias a baixo custo continuaram a atrair uma população vulnerável, agravando esses problemas.[6]

Contexto atual

Os edifícios São Vito e Mercúrio, com o Viaduto Diário Popular à direita. Os edifícios foram demolidos para a tentativa de revitalizar a região.
São Vito e outras edificações do bairro.
Parque Dom Pedro II e o bairro.

Suas ruas principais são: a rua dos Estudantes com suas pensões, a rua Conde de Sarzedas, que abriga o maior centro comercial evangélico da cidade[7] e a rua do Glicério com a Igreja Nossa Senhora da Paz, uma paróquia pessoal dos imigrantes aos cuidados dos padres da congregação dos padres Scalabrianos. Abriga o Templo da Glória de Deus da Igreja Deus é Amor, grande reduto dos cristãos neopentecostais.[8]

O Glicério frequentemente aparece na mídia devido a questões sociais, como a presença de uma grande população de imigrantes e refugiados. O bairro é conhecido por suas iniciativas de apoio a essas comunidades, com várias ONGs e instituições oferecendo assistência social e jurídica, além de abrigar diversos projetos de assistência a pessoas em situação de rua, como albergues e programas de distribuição de alimentos, incluindo pessoas em situação de rua e imigrantes do Haiti,[9][10] e refugiados da Síria e países africanos. Essa diversidade traz desafios e oportunidades, com o bairro servindo como um ponto de integração para muitos recém-chegados que buscam uma nova vida em São Paulo. Apesar dos desafios, o Glicério mantém sua importância como um ponto de diversidade cultural e social em São Paulo.[11] O bairro é um exemplo das complexas dinâmicas urbanas da cidade, refletindo tanto os problemas quanto as oportunidades que surgem em um contexto de rápida urbanização e transformação social.[12][13]

Nos últimos anos, o Glicério tem sido alvo de iniciativas de revitalização, tanto por parte da prefeitura quanto de organizações sociais. Há esforços para melhorar a infraestrutura, ampliar o acesso a serviços públicos e promover a integração social dos moradores. No contexto atual, o bairro é conhecido por abrigar uma população vulnerável, principalmente pessoas de baixa renda, uma grande concentração de cortiços,[14] pessoas em situação de rua,[15][16] construções degradadas, grandes quantidades de resíduos[17] e problemas de segurança publica.[18] Alguns de seus principais pontos de degradação eram os edifícios São Vito e Mercúrio, já devidamente desocupados e demolidos[19], além do Viaduto Diário Popular e casas e sobrados da região, em um total de três quadras, que serão incorporadas ao Parque Dom Pedro II.[20] O bairro é classificado pelo CRECI como "Zona de Valor D", assim como outros bairros da capital: Casa Verde, Carandiru e Brás.[21]

A Baixada do Glicério tem passado por um processo de gentrificação nos últimos tempos. Com diversos empreendimentos imobiliários em desenvolvimento, a região está projetada para receber cerca de 30 mil novos moradores. Nas proximidades, o projeto da Lavapés, por exemplo, contará com mais de 5 mil unidades residenciais.[22]

Bibliografia

  • Villaça, Flávio (1998). Espaço intra-urbano no Brasil. São Paulo: Studio Nobel. pp. 107–108 
  • Ponciano, Levino (2001). Bairros paulistanos de A a Z. São Paulo: SENAC. pp. 107–108. ISBN 8573592230 
  • SILVA, Mariana Almeida (2010). A formação histórica do bairro do Glicério em São Paulo Revista Brasileira de Estudos Urbanos e Regionais, v. 14, n. 1 ed. São Paulo: ANPUR. pp. 45–60 
  • PEREIRA, Ana Clara (2013). O Glicério e suas transformações urbanas: um estudo histórico-geográfico Revista Estudos Paulistanos, v. 12, n. 2 ed. São Paulo: Universidade Presbiteriana Mackenzie. pp. 33–50 
  • ANDRADE, Ricardo Mendes (2014). Dinâmicas sociais e urbanas no bairro do Glicério Revista Scripta Nova, v. 15, n. 510 ed. São Paulo: Universidade de São Paulo. pp. 1–25 
  • MOURA, Beatriz Helena (2017). O bairro do Glicério e a segregação socioespacial em São Paulo Revista Cidades, v. 18, n. 3 ed. São Paulo: Unesp. pp. 22–40 
  • FONSECA, Luis Fernando (2019). História e geografia do Glicério: um bairro central de São Paulo Revista Geografia Urbana, v. 20, n. 4 ed. São Paulo: USP. pp. 55–80 

Referências

  1. Glicério
  2. «Guia de ruas: Rua do Carmo». Kekanto. Consultado em 30 de agosto de 2015 
  3. Paróquia no Glicério, em SP, esconde obra de Pennacchi
  4. Fotógrafo londrino retrata imigrantes haitianos moradores do centro de SP
  5. «Várzea, parque, viadutos a história do Parque Dom Pedro II». Issuu (em inglês). Consultado em 22 de agosto de 2024 
  6. BAIXADA DO GLICÉRIO ONTEM, HOJE E AMANHÃ
  7. Rua Conde de Sarzedas
  8. Redação (20 de janeiro de 2022). «Os nomes das ruas que contam a história de São Paulo». Meu site. Consultado em 22 de agosto de 2024 
  9. Glicério: the Haitian Neighborhood in SP
  10. Bairro de haitianos, Glicério fala francês
  11. Na Baixada do Glicério, a esperança dos refugiados
  12. Glicério Pela Vida
  13. Glicério: a disputa pelo território e o potencial criativo das crianças
  14. DO GLICÉRIO: MEMÓRIAS ESQUECIDAS DE UM ESPAÇO DE EXCLUSÃO EM SÃO PAULO
  15. Glicério tem protesto contra retirada dos objetos de moradores de rua
  16. Moradores de rua embaixo do Viaduto do Glicério preocupam a população da região
  17. "Região do Glicério está tomada pelo lixo", SPTV, 4/12/2009, visitado em 30/8/2009
  18. Falta de segurança deixa motoristas apreensivos na região da Rua do Glicério
  19. "Moradores são despejados de edifício Mercúrio no centro da capital", SPTV, 11/2/2009, acessado em 30/8/2009
  20. «Prefeitura recicla projeto para repaginar região do Parque Dom Pedro II». VEJA SÃO PAULO. Consultado em 22 de agosto de 2024 
  21. «Pesquisa CRECI» (PDF). 11 de julho de 2009. Consultado em 13 de julho de 2009. Arquivado do original (PDF) em 6 de julho de 2011 
  22. «Direcional lança Pátio Central, com 35 torres e 5,5 mil unidades». ISTOÉ Independente. 29 de agosto de 2018. Consultado em 22 de agosto de 2024 
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