Atualizado em 23h02min, terça-feira, 19 de janeiro de 2021 (UTC)
A epidemia de síndrome respiratória do Oriente Médio(português brasileiro) ou Médio Oriente(português europeu) ou epidemia de MERS (em inglês: MERS – Middle East respiratory syndrome) foi uma epidemia em 2012–2015 propensa a pandemia ocasionada pela síndrome respiratória do Oriente Médio, (MERS) causado pelo vírus MERS-CoV. O primeiro caso relatado foi em um paciente saudita que morreu de pneumonia severa e falha múltiplas nos órgãos em Jidá[2] em junho de 2012.[3] Em setembro de 2012, foi identificado que a doença foi causada por um novo coronavírus,[4] que foi nomeado nCoV e HCoV-EMC e mais tarde também ficou conhecido como MERS-CoV.[2]
Até 31 de janeiro de 2020, haviam 2.506 casos registrados de infectados em 25 países, com 862 mortes associadas à doença.[5] A taxa de mortalidade dos infectados é de aproximadamente 35%.[1]
Coronavírus são uma grande família de vírus que podem causar doenças que vão desde o resfriado comum até a síndrome respiratória aguda grave (SARS, em inglês).[1] Os sete coronavírus conhecidos por infectar humanos pertencem aos gêneros alfacoronavírus e betacoronavírus.
O vírus MERS-CoV foi isolado pela primeira vez em setembro de 2012, com amostras de um paciente que morreu de uma doença respiratória grave em 24 de junho de 2012,[3] em Jidá, Arábia Saudita.[6] Na época, foi inicialmente chamado de NCoV (inglês para Novel Coronavirus)[7] ou HCoV-EMC (inglês para Human Coronavirus – Erasmus Medical Center) e posteriormente, a Organização Mundial da Saúde (OMS) aceitou o nome proposto MERS-CoV, por ser um consenso entre um grande grupo de cientistas, apesar de a OMS preferir que os nomes de vírus não se refiram à região ou local onde o vírus foi detectado inicialmente.[8]
Assim como os vírus causadores da síndrome respiratória aguda grave (SARS) e da COVID-19 (respectivamente, SARS-CoV e SARS-CoV-2), o MERS-CoV é do gênero betacoronavírus.[6]Mais especificamente, análises mostraram que o MERS-CoV pertence a linhagem C do gênero betacoronavirus, junto com os coronavírus dos morcegos Tylonycteris HKU4 e HKU5.[9]
Transmissão
Dromedários
O MERS-CoV é um vírus zoonótico, o que significa que é um vírus transmitido entre animais e pessoas. As suas origens não são totalmente conhecidas, mas de acordo com a análise de diferentes genomas de vírus, acredita-se que possa ter se originado em morcegos e foi transmitido para dromedários (ou camelo árabe – Camelus dromedarius) em algum momento no passado distante.[6] Os dromedários infectados são na maioria assintomáticos ou apresentam sintomas muito leves e como consequência, são difíceis de serem diagnosticados.[9]
O MERS-CoV foi identificado em vários países do Oriente Médio, África e Sul da Ásia. Amostras sorológicas demonstraram que a grande maioria dos dromedários na península Arábica têm anticorpos para MERS-CoV pelo menos desde 1993, mas a fonte exata da infecção nos dromedários não foi identificada.[1]
A transmissão de dromedários para pessoas, por contato direto ou indireto, é a única fonte zoonótica confirmada para a infecção em humanos, apesar de não ser claro como.[6]
Possíveis riscos de transmissão do vírus MERS-CoV de dromedários para humanos:
Contato com fluídos nasais ou saliva, excrementos, derivados de leite ou manuseio de carne podem causar a transmissão.[6]
Entre pessoas
O vírus não passa facilmente de pessoa para pessoa, a menos que haja contato próximo, como fornecer cuidados desprotegidos a um paciente infectado.[1]
Há registros de casos em unidades de saúde, onde a transmissão de pessoa para pessoa parece ter ocorrido, especialmente quando as práticas de prevenção e controle de infecção são inadequadas ou inapropriadas. A transmissão de humano para humano é limitada e foi identificada entre familiares, pacientes e profissionais de saúde.[1]
Embora a maioria dos casos de MERS tenha ocorrido em ambientes de saúde, até agora, nenhuma transmissão sustentada de humano para humano foi documentada em qualquer lugar do mundo.[1] Portanto, seu risco para a população mundial é considerado bastante baixo.[6]
A infecciosidade do MERS-CoV depende do período médio de incubação, que é de aproximadamente cinco dias para transmissão entre humanos, variando de dois a catorze dias para aparecimento dos primeiros sintomas. O tempo aproximado desde o início da doença até a hospitalização é de quatro dias, cinco dias até internação em unidade de tratamento intensivo (UTI) e doze dias do início da infecção até a morte.[9]
A radiografia de tórax de pacientes infectados mostram fibrose no pulmão, opacidade em vidro fosco e espessamento de pleural, mas as anormalidades podem nem sempre estar presente em indivíduos infectados com MERS-CoV. Febre, calafrios, tosse, falta de ar (com provável insuficiência respiratória hipoxêmica grave) e mialgia também são sintomas relatados em casos de MERS.[9]
Casos leves são mais frequentes em entre crianças e jovens. Esses incluem febre baixa, coriza, dor de garganta, dor de cabeça e dor abdominal.[9] Pacientes sem doenças subjacentes também podem ser infectados, apesar de a maioria desenvolver sintomas leves ou assintomáticos.[6]
Prevenção e tratamento
Atualmente, não existem vacinas ou tratamento disponíveis para a MERS, no entanto, há diversos tratamentos e vacinas em desenvolvimento.[1][9][10][11][12]
A terapia depende das funções clínicas do paciente[1] e pode requerer suporte respiratório e circulatório, preservação da função renal hepática, prevenção de infecções secundárias.[9]
Como há suspeitas de dromedários serem fonte de transmissão de MERS-CoV para humanos, particularmente na Península Arábica, as autoridades de saúde recomendam práticas gerais de higiene, incluindo lavar as mãos regularmente antes e depois de tocar nos animais e se abster de contato direto com dromedários.[1]
A OMS indica que carne de camelo e leite de camelo são produtos nutritivos que podem continuar a ser consumidos após pasteurização, cozimento ou outros tratamentos térmicos, pois o consumo de produtos de origem animal crus ou mal cozidos acarretam um alto risco de infecção por uma variedade de organismos que podem causar doenças em humanos.[1][13]
Epidemiologia
Em novembro de 2012, o virologista egípcio Dr. Ali Mohamed Zaki enviou uma amostra de material do primeiro caso confirmado na Arábia Saudita para o virologista Ron Fouchier, um importante pesquisador de coronavírus do Erasmus Medical Center (EMC) em Rotterdam, nos Países Baixos, onde o testado, sequenciado e identificado como um novo vírus.[14] O segundo caso confirmado em laboratório foi em Londres, Reino Unido, relatado pela Agência de Proteção à Saúde (HPA) do país.[7]
“
Nós entendemos muito pouco sobre este vírus quando visto em comparação com a magnitude de sua ameaça potencial. Qualquer nova doença que esteja surgindo mais rápido do que nosso entendimento nunca está sob controle. São sinais de alarme e devemos responder. O novo coronavírus não é um problema que qualquer país afetado possa manter para si mesmo ou administrar sozinho. O novo coronavírus é uma ameaça para o mundo inteiro.[15]
”
— Dra. Margaret Chan, diretora-geral da Organização Mundial da Saúde (2007–2017).
Em 27 de maio de 2013, a então diretora-geral da Organização Mundial da Saúde, Dra. Margaret Chan, disse em Genebra, na Suíça que sua "maior preocupação neste momento é o novo coronavírus" e que "o novo coronavírus é uma ameaça para o mundo inteiro."[15]
Em 29 de maio de 2013, já haviam 49 pessoas infectadas em x países e destes, 27 tinham falecido.[16]
Em 2 de maio de 2014, o Centro de Controle e Prevenção de Doenças (CDC) relatou o primeiro caso da doença nos Estados Unidos, de um trabalhador da saúde que veio de viagem da Arábia Saudita.[17]
Em 19 de maio de 2014, já haviam 169 mortes relacionadas ao MERS na Arábia Saudita.[18]
Até maio de 2013, 22 dos 44 casos de infecção e 10 das 22 mortes registradas eram da Arábia Saudita e 80% eram homens.[19] Acredita-se que essa disparidade de gênero se deva ao fato de a maioria das mulheres na Arábia Saudita usar véus que cobrem a boca e o nariz, diminuindo suas chances de exposição ao vírus.[20]
Em junho de 2013, já haviam pelo menos 60 pessoas infectadas com o MERS-CoV em países da Europa, norte da África e Oriente Médio, com um total de 38 mortes. As autoridades sauditas expressaram preocupação de que milhões de muçulmanos de todo o mundo ficariam potencialmente expostos ao vírus durante o Haje, que é a peregrinação a Meca e Medina feita anualmente por devotos.[21]
Estima-se que o número básico de reprodução () do MERS-CoV seja menos que 0,7, substancialmente menor do que o valor 1,0 que é associado com potenciais epidêmicos, o que faz com que a transmissão do vírus não se sustente a não ser que sofra mutação. Em comparação, o do SARS-CoV durante a epidemia de SARS era maior que 1,[6] e o do vírus SARS-CoV-2, causador da COVID-19 está entre 3,3 e 5,7.[22][23]