O Desastre Ferroviário de Moimenta-Alcafache ou Desastre Ferroviário de Alcafache foi um grave acidente ferroviário ocorrido na Linha da Beira Alta, em Portugal, em 11 de Setembro de 1985. Este acidente foi o pior desastre ferroviário ocorrido no país.[1]
O acidente deu-se junto ao Apeadeiro de Moimenta-Alcafache,[2] na freguesia de Moimenta de Maceira Dão, no concelho de Mangualde. Este apeadeiro situa-se entre as estações de Nelas e Mangualde, numa zona de via única.
O acidente envolveu duas composições de passageiros, o "Rápido Internacional 314/315" (complemento ao Sud Expresso), efetuando o serviço internacional entre o Porto e Paris,[3] que circulava com 18 minutos de atraso; a outra fazia o serviço regional 1324, na direcção de Coimbra.[2] A composição regional 1324 era composta pela locomotiva número 1439, da Série 1400 dos Caminhos de Ferro Portugueses, e por seis ou sete carros, construídas pela companhia das Sociedades Reunidas de Fabricações Metálicas; o rápido internacional era formado por uma locomotiva Série 1960, com o número 1961, e por cerca de doze carruagens. No total, viajavam cerca de 460 passageiros.[2]
O serviço regional 1324, com paragem em todas as estações e apeadeiros, chegou à estação de Mangualde, onde deveria permanecer até fazer o cruzamento com o Internacional. No entanto, e não obstante o facto de se terem dado ordens para que a prioridade na circulação fosse atribuída ao serviço internacional, o regional continuou viagem, estimando que o atraso na marcha do Internacional fosse suficiente para a chegada à estação de Nelas, onde, então, se poderia fazer o cruzamento.[2] No entanto, o outro serviço estava circulando com um atraso menor do que o esperado; considerando, erroneamente, que a via estava livre até à estação de Mangualde, também continuou viagem. Após a partida, o chefe da estação de Nelas telefonou para a estação de Moimenta-Alcafache, para avisar da partida do Internacional, sendo, então, informado, que o serviço Regional já se encontrava a caminho. Prevendo que as composições iriam colidir, tentou avisar a guarda-barreira de uma passagem de nível entre ambas as estações, de modo a que esta parasse a composição através da ostentação de uma bandeira ou da colocação de petardos na via; no entanto, esta manobra não foi possível, porque o comboio já ali tinha passado.[3]
Por volta das 18h37m houve a colisão entre as duas composições, a uma velocidade aproximada de 100 quilómetros/hora.[3] O choque destruiu as locomotivas e alguns vagões em ambas as composições, e provocou vários incêndios devido ao combustível presente nas locomotivas e nos sistemas de aquecimento dos carros de passageiros.[3] Devido ao facto de os materiais utilizados nas vagões não serem à prova de chamas, o fogo propagou-se rapidamente, produzindo grandes quantidades de fumaça.[4]
Logo após o acidente, gerou-se o pânico entre os passageiros, que tentaram sair da composição. Várias pessoas, entre elas crianças, ficaram presas nos destroços, tendo sido socorridos por outros passageiros; outros não conseguiram sair a tempo, morrendo carbonizados [4] ou asfixiados.
O alerta foi dado por uma ambulância dos Bombeiros Voluntários de Aguiar da Beira que se encontrava a circular na Estrada Nacional 234, nas proximidades do local do acidente. Apesar de os serviços de salvamento terem chegado apenas escassos minutos após o acidente, a situação no local era caótica, com incêndios no material circulante e na floresta em redor, vários feridos e passageiros em pânico.[1]
Estima-se que, neste acidente, tenham falecido cerca de 150 pessoas, embora as circunstâncias do acidente e a falta de controlo sobre o número de passageiros em ambos os serviços impeçam uma contagem exacta do número de vítimas mortais. A estimativa oficial aponta para 49 mortos, dos quais apenas catorze foram identificados, continuando ainda 64 passageiros oficialmente desaparecidos.[2][5]
A maior parte dos restos mortais que não foram identificados foi sepultada numa vala comum junto ao local do desastre, aonde também foi erguido um monumento em memória das vítimas e das equipas de salvamento.
Apurou-se que os chefes das estações não comunicaram entre si, e ao posto de comando de Coimbra, como estava regulamentado, a alteração do local de cruzamento de Mangualde para Nelas; tivesse isto sido feito, a discrepância na circulação teria sido notada, e uma das composições teria ficado parada na estação, de modo a se fazer o cruzamento em segurança.[5]
Por outro lado, devido à falta de um equipamento próprio, revelou-se impossível comunicar com os comboios envolvidos; a única forma de avisar os condutores era através da sinalização, e da instalação de petardos na via, o que, neste caso, não se revelou suficiente.[3] Tivesse isto sido realizado, as composições poderiam ter sido paradas nas estações. O sistema de comunicação utilizado na altura naquele troço, denominado Cantonamento Telefónico, dependia do uso de telefones para transmitir informações entre as estações e o centro de comando.[6]
Após o acidente, foram instalados sistemas mais avançados de segurança, sinalização e controlo de tráfego, como o Controlo de Velocidade, permitindo uma maior eficiência e segurança nas operações ferroviárias, e fazendo com que acidentes como este sejam praticamente impossíveis de acontecer;[6] por outro lado, a introdução de sistemas de rádio-solo permitiu uma comunicação directa entre os maquinistas e as centrais de controlo, e foi proibida a utilização de materiais que facilitem a propagação de chamas nos comboios.[7]