«Uma grande multidão o acompanhava e, virando-se Jesus para ela, lhe disse:
Se alguém vem a mim e não aborrece a seu pai, e mãe, e mulher, e filhos, e irmãos, e irmãs, e ainda a sua própria vida, não pode ser meu discípulo.
Quem não carrega a sua cruz e não me segue, não pode ser meu discípulo. Pois qual de vós, querendo edificar uma torre, não se assenta primeiro a fazer as contas dos gastos, para ver se tem com que a acabar? Para que não aconteça que, depois de haver posto os alicerces, e não a podendo acabar, todos os que a virem comecem a escarnecer dele; Dizendo: Este homem começou a edificar e não pôde acabar. Ou qual é o rei que, indo à guerra a pelejar contra outro rei, não se assenta primeiro a tomar conselho sobre se com dez mil pode sair ao encontro do que vem contra ele com vinte mil? De outra maneira, estando o outro ainda longe, manda embaixadores, e pede condições de paz. Assim, pois, qualquer de vós, que não renuncia a tudo quanto tem, não pode ser meu discípulo.» (Lucas 14:25–35)
”
— Tradução Brasileira.
Interpretação
Joel B. Green sugere que não está claro que tipo de torre está sendo referida na primeira parábola,[6] mas observa que a mensagem é que uma "fidelidade profunda à finalidade salvadora de Deus"[6] é requerida, "aparente na identidade do indivíduo como um discípulo de Jesus". Trata de se colocar a família e os bens em segundo lugar,[7] como em Mateus 8:18 e Lucas 9:57–62.
Intensidade do discurso de Jesus
Craig S. Keener, ao comentar o contexto histórico-cultural desta passagem, enfatiza o profundo exclusivismo da mensagem e do discipulado de Jesus. Ele também relembra que nos versículos anteriores à esta parábola (Lucas 14:7–24), Jesus ensina à seus seguidores que "valorizem os necessitados acima da [própria] respeitabilidade". Levando em consideração que a honra era bastante estimada nos tempos de Jesus, essas palavras eram chocantes.[8]
Enquanto isso, dando prosseguimento ao desenvolvimento da narrativa, Lucas relata no texto da parábola que Jesus também exige que seus seguidores valorizem mais a ele do que a seus familiares ou a si mesmos (conforme Lucas 14:26). Keener ainda observa que os ouvintes de Jesus viviam numa sociedade que valorizava fortemente a honra e os laços familiares. A mensagem de Jesus era, portanto, tida como bastante ofensiva, desagradável e exclusivista, por conta do alto sacrifício que Cristo cobrava de seus seguidores.[8]
"Quem não carrega sua cruz" (v. 27)
A intensidade das palavras de Jesus também se manifesta quando, de acordo com Lucas 14:27, Jesus diz:" Quem não carrega a sua cruz e não me segue, não pode ser meu discípulo". Keener comenta que carregar a própria cruz (ou pelo menos parte dela) era algo feito por criminosos antes de sua crucifixão, e, em suas palavras "geralmente em meio a uma multidão zombeteira". Jesus uma situação humilhante e desagradável para ilustrar a decisão de seus discípulos em segui-lo, tendo em vista também que a cruz era vista como um instrumento de sofrimento e vergonha pública (Como disse Edwards em seu comentário ao Evangelho de Lucas).[8][9]
No século IV depois de Cristo, o Patriarca Cirilo de Alexandria cita esta parábola ao pregar argumentando sobre a importância da convicção e firmeza de espírito necessárias para proceder em empreendimentos honrados e virtuosos. Ao comentar sobre o homem da parábola, que começa a construir a torre porém não termina seu empreendimento, afirma o seguinte:[10]
“
Aquele que assim age torna-se objeto de meramente ridículo: Pois sobre todo empreendimento honrado e virtuoso uma conclusão apropriada deve seguir.
”
— A commentary upon the gospel according to S. Luke: Part I, Sermon LIX..
Quando Cirilo de Alexandria pregou no texto da parábola citada neste artigo, afirmou que a lição transmitida por Cristo nessa parábola é que semelhantemente ao que ele disse em seu Sermão LIX) quem deseja seguir a Cristo deve fazê-lo de forma impetuosa e com severa seriedade, sendo capaz de ignorar as coisas mundanas por amor a Cristo:[11]
“
Para aqueles cuja escolha é levar uma vida gloriosa e irrepreensível, devem armazenar de antemão em sua mente um zelo suficiente para isso e lembrar-se daquele que diz [Citando Eclesiástico]: 'Meu filho, se você se aproximar para servir ao Senhor, prepare-se para toda tentação: Endireite o teu coração e persevera.' Mas aqueles que não têm esse zelo, como poderão alcançar a marca que lhes foi proposta?
”
— A commentary upon the Gospel according to S. Luke, Part II, Sermon CV.