Em 23 de Março de 1878, uma lei abriu o concurso para a construção da Linha da Beira Alta, e em 3 de Agosto desse ano foi assinado um acordo com a Société Financière de Paris, que fundou a Companhia dos Caminhos de Ferro Portugueses da Beira Alta para construir e explorar a Linha.[1] O primeiro troço da Linha da Beira Alta entrou ao serviço, de forma provisória, em 1 de Julho de 1882, tendo a linha sido inaugurada na sua totalidade, de Vilar Formoso à Figueira da Foz, no dia 3 de Agosto do mesmo ano.[1][3]
As previsões que inicialmente se fizeram do tráfego internacional para a Linha da Beira Alta, devido à circunstância de ser a principal ligação ferroviária com Espanha, revelaram-se demasiado optimistas, uma vez que o movimento dos comboios sempre se revelou diminuto.[6] De igual forma, o trânsito interno também não foi muito intenso, tendo a receita quilométrica atingido, em 1913, apenas o valor de 2.231$00.[6] As dificuldades exacerbaram-se com o início da Primeira Guerra Mundial, pelo que a operadora teve de exercer uma cuidadosa gestão económica para garantir a exploração da Linha, sem menosprezar as condições das infra-estruturas e do material circulante.[6] Ainda assim, o processo do melhoramento do serviço foi muito limitado devido aos escassos recursos da Companhia e à falta de apoio do Estado, que não permitiam empreendimentos de maior vulto, como as obras no Porto da Figueira da Foz.[7] Em finais de 1914, a Companhia estava a fabricar várias carruagens de terceira classe nas suas instalações oficinais na Figueira da Foz, onde já tinham sido produzidas outras carruagens de primeira e segunda classes, que já estavam em circulação, e já tinha feito a renovação da via entre Nelas e Mangualde.[7] Também nesse período, a companhia tinha enviado vários automóveis a França para modificar os motores, que no entanto foram apreendidos pelo estado francês devido à Primeira Guerra Mundial.[7] A situação da Companhia agravou-se em 1917, com grandes dificuldades no fornecimento do carvão devido ao bloqueio germânico, tendo sido forçada a suprimir alguns comboios.[8]
Declínio e encerramento
Já em 1913, tinha surgido a intenção de resgatar as concessões da CP e da Companhia da Beira Alta, de forma a entregá-las a uma só empresa.[5] No final da década de 1920, o engenheiro Duarte Pacheco promoveu a aquisição, pelo Fundo de Desemprego, de grandes lotes de acções e obrigações, que se encontravam na posse de financeiros e especuladores, que tinham influência no conselho de administração da Companhia da Beira Alta e noutras empresas ferroviárias; desta forma, Duarte Pacheco procurou iniciar o processo de nacionalização das principais operadoras ferroviárias em Portugal.[2]
Em 1933, as receitas de exploração líquidas de impostos e reembolsos atingiram o valor de 12.748,671$00, um incremento de 186.582$00 em relação ao ano anterior; no entanto, as despesas também aumentaram, tendo atingido os 10.994,801$00, mais 560.014$00 do que em 1932.[6] As receitas líquidas de passageiros, grande velocidade e de fora do tráfego caíram, mas foram compensadas por um considerável acréscimo nas receitas de pequena velocidade.[6] Em termos de passageiros, os movimentos das primeira e segundas classes caíram de 1932 para 1933, mas houve um grande aumento na terceira classe.[6] Em relação às mercadorias, verificou-se um apreciável crescimento na pequena velocidade.[6] Em meados da década a situação de declínio dos caminhos de ferro nacionais agravou-se, devido à crise económica, e ao desenvolvimento dos transportes rodoviários e da rede telefónica, tendo a Companhia da Beira Alta sofrido uma forte regressão no tráfego internacional.[9]
↑«Linhas Portuguezas»(PDF). Gazeta dos Caminhos de Ferro. Ano 15 (337). Lisboa. 1 de Janeiro de 1902. p. 11. Consultado em 13 de Março de 2015 – via Hemeroteca Municipal de Lisboa
↑ abc«Linhas Portuguesas»(PDF). Gazeta dos Caminhos de Ferro. Ano 27 (647). 1 de Dezembro de 1914. p. 363. Consultado em 13 de Março de 2015 – via Hemeroteca Municipal de Lisboa
↑«A Crise do Carvão»(PDF). Gazeta dos Caminhos de Ferro. Ano 30 (700). Lisboa. 16 de Fevereiro de 1917. p. 49-50. Consultado em 13 de Março de 2015 – via Hemeroteca Municipal de Lisboa
↑SOUSA, José Fernando de (1 de Fevereiro de 1935). «A Crise dos nossos Caminhos de Ferro»(PDF). Gazeta dos Caminhos de Ferro. Ano 47 (1131). p. 57-58. Consultado em 13 de Março de 2015
MARTINS, João Paulo, BRION, Madalena, SOUSA, Miguel de, LEVY, Maurício, AMORIM, Óscar (1996). O Caminho de Ferro Revisitado. O Caminho de Ferro em Portugal de 1856 a 1996. [S.l.]: Caminhos de Ferro Portugueses. 446 páginas !CS1 manut: Nomes múltiplos: lista de autores (link)
REIS, Francisco Cardoso dos; GOMES, Rosa Maria; GOMES, Gilberto; et al. (2006). Os Caminhos de Ferro Portugueses 1856-2006. [S.l.]: CP-Comboios de Portugal e Público-Comunicação Social S. A. 238 páginas. ISBN989-619-078-X !CS1 manut: Nomes múltiplos: lista de autores (link)
Legenda: †entidade extinta ‡entidade extante mas sem gestão atual *apenas afluentes à rede geral da operadora Infraestruturas de Portugal, excl. sistemas isolados q.v. apud operadores