Filha única de Germaine Guye, uma preceptorasuíçaprotestante, e de Siegfried Haas, um engenheiro húngarojudeu, Claudia passou a infância em Orádea (em húngaro, Nagyvárad, hoje pertencente à Romênia). O casal se separou quando Claudia tinha 8 anos. A menina fica com o pai e, depois, é internada num convento católico. A Segunda Guerra Mundial começava, e a Hungria se unira à Alemanha, integrando as Forças do Eixo. Os judeus, incluindo o pai de Claudia, são tirados de suas casas e enviados a um gueto. Siegfried Haas é depois deportado para o campo de concentração de Dachau, onde acabaria morrendo, assim como quase toda a sua família.[3] No mesmo período, também o convento onde Claudia morava, é fechado. Ela vai morar com a mãe, que então mantinha um relacionamento com um policial militar ligado aos nazistas, o que significava certa garantia de segurança para ambas, sobretudo para a menina, considerada judia.[3] Em março de 1944, o território húngaro foi ocupado pela Alemanha. No final do mesmo ano, agora na iminência da ofensiva de Budapeste e invasão da Hungria pelo Exército Vermelho, Germaine Guye decide deixar o país. Com muita dificuldade, mãe e filha conseguem escapar, passando pela Áustria, e afinal chegar à Suíça. Após o fim da guerra, a convite do tio paterno (único remanescente da família do pai), que vivia nos Estados Unidos, Claudia se transfere para Nova York, em 1948.[4][3][1]
Ainda em Nova York, estudou Humanidades no Hunter College, à noite, pois precisava trabalhar para viver. Mas não conseguiu concluir os estudos. Foi vendedora de roupas femininas na Macy's, trabalhou num escritório e foi guia de visitantes nas Nações Unidas. "Me empregaram porque eu falava várias línguas: húngaro, alemão, francês e inglês." No Hunter, conhecera Julio Andujar, um refugiado da Guerra Civil Espanhola, com quem viria a se casar logo no ano seguinte, aos dezoito anos.[5] Mas, poucos meses depois do casamento, Julio se apresenta como voluntário para ir à Guerra da Coreia (1950-1953), esperando ser posteriormente recompensado com a cidadania americana. Julio ficou três anos em combate. Claudia não o perdoou: "Fiquei furiosa quando ele se alistou, não queria recomeçar a vida com guerras. Nunca voltamos a viver juntos. Quando ele voltou, nos separamos".[3][6] Nessa época, Claudine se tornou Claudia, mantendo o sobrenome do primeiro marido: "Por tudo que aconteceu, quis eliminar meu nome de infância, Claudine Haas. Queria começar uma vida nova."[3]
Em 1955, Claudia chegou a São Paulo, onde já vivia sua mãe, naturalizando-se brasileira em 1976.[7] Comprou sua primeira câmera, uma Rolleiflex. Nunca fez curso de fotografia.[3] Começou a viajar pelo Brasil e pela América Latina, fotografando essencialmente para si mesma, como uma forma de estabelecer contato com a população local, já que, na época, ainda não dominava a língua portuguesa. Progressivamente, começou a publicar suas imagens, tanto em revistas brasileiras (Quatro Rodas, Setenta, Claudia, Goodyear Brasil) como estrangeiras (Life, Look, Fortune, IBM, Horizon USA, Aperture).
Entre 1966 e 1971, colaborou com a revista Realidade, da Editora Abril, junto com seu segundo marido, o fotógrafo norte-americanoGeorge Love (1937 - 1995), com quem se casara em 1968.[10][3][5] Em 1971, uma edição especial da revista Realidade sobre a Amazônia a conduziu até os Yanomami.[11] Essa viagem representou o grande divisor de águas em sua carreira e em sua vida. No intuito de se aprofundar no entendimento dessa cultura, Claudia decidiu então abandonar São Paulo e o fotojornalismo, indo viver entre Roraima e Amazonas em tempo integral. Para isso, contou com o apoio de duas bolsas da Fundação Guggenheim de Nova York, em 1971 e 1974.[12] Separa-se de George Love em 1974. Em 1976, obtém uma nova bolsa, dessa vez da Fapesp, para prosseguir seu trabalho com os Yanomami.[1][13]
Em 1978, após ser enquadrada na lei de Segurança Nacional pelo governo militar e ser expulsa do território indígena pela Funai, retornou a São Paulo e organizou um grupo de estudos em defesa da criação de uma área indígenaYanomami.[14][3] Este foi o embrião da ONG Comissão pela Criação do Parque Yanomami, CCPY (depois denominada Comissão Pró-Yanomami[15]), criada por Claudia e pelo missionário leigo italiano Carlo Zacquini,[16] denunciou as ameaças à sobrevivência dos índios, em consequência do contato com os brancos, e promoveu uma forte campanha pela demarcação da terra indígena Yanomami, o que finalmente ocorre em 1992.[17] Não fosse pela atuação da Comissão, possivelmente a etnia yanomami não teria tido saúde, voz e dignidade para lutar por seus direitos - novamente ameaçados atualmente. Ao assumir o ativismo político em prol da causa Yanomami, Claudia foi diminuindo progressivamente sua atividade fotográfica ao longo dos anos 1980, justamente quando a mobilização em torno da demarcação foi ganhando força.
2017 - Morgen darf nicht gestern sein / Tomorrow must not be like yesterday (Museum für Moderne Kunst, Frankfurt, Alemanha)
2018 - Claudia Andujar: a luta Yanomami. Organização: Thyago Nogueira. Projeto gráfico: Elisa von Randow, Julia Masagão. Texto: Thyago Nogueira, Claudia Andujar, Bruce Albert.
1972 - Povo da Lua, Povo do Sangue: Yanomami (documentário)
Principais exposições
Claudia Andujar teve seus trabalhos expostos em várias mostras coletivas e individuais. Em janeiro de 2005, expôs na Pinacoteca do Estado de São Paulo a leitura mais completa já realizada sobre sua obra, ns mostra Vulnerabilidade do Ser. Em outubro de 2015, o Instituto Moreira Salles do Rio de Janeiro [22] apresentou a exposição Claudia Andujar: no lugar do outro, mostra de trabalhos pouco conhecidos da primeira parte de sua carreira. Em novembro de 2015, o Instituto Inhotim[23] inaugurou sua 19ª galeria permanente, dedicada ao trabalho da fotógrafa.[24]
Individuais
2024 - Claudia Andujar: Cosmovisão (3 de abril de 2024 a 30 de junho de 2024), Itaú Cultural, São Paulo [25]
2018 - Claudia Andujar: a luta Yanomami (15 de dezembro de 2018 a 7 de abril de 2019), Instituto Moreira Salles (São Paulo) [26]
2016 - Individual Claudia Andujar, Galeria Vermelho, São Paulo.[27][28]
↑Como uma flecha. Claudia Andujar ganha exposição permanente no Instituto Inhotim. A força e a radicalidade de suas imagens alertam sobre a ameaça que ainda ronda os Yanomami. Por Paula Alzugaray. IstoÉ, 4 de dezembro de 2015.