Embora a caça tenha se iniciado de fato em 1911, quando o então cônsul dos Países Baixos para o Nordeste, Julius von Söhsten, teve a iniciativa de estabelecer uma base terreste em costinha,[4] o boom da produção aconteceu após a implantação da Copesbra, fábrica de capital japonês, em 1958.[4]
A Companhia de Pesca do Norte do Brasil, conhecida pela sigla Copesbra, embora oficialmente considerada brasileira, era uma subsidiária da Nippon Reizo KK, de Tóquio, Japão.[2] Sua única fábrica esteve situada em Costinha, no município paraibano de Lucena. A empresa tinha escritório na rua Cardoso Vieira, 17, centro de João Pessoa, e a diretoria geral das atividades brasileiras estava em Recife. Possuia ainda filial em Belém, Pará, cujo foco era a pesca em grande escala de camarões e peixe da espécie piramutaba.[5]
A Nippon Reizo Kabushiki Kaisha detinha 40% das ações, enquanto que o controle acionário brasileiro ocorreu em 1957, quando Sr. Samuel Galvão, seu primeiro proprietário, adquiriu os 60% restante das ações.[5] Nesse ano, a captura se restringia a algo em torno de 50 baleias por temporada, que durava seis meses do ano (que começava em 20 de junho e ia até 19 de dezembro).[5] Em 1958 a empresa operava com dois navios modernos e capturava 500 baleias por temporada.[5] Já os dados de anos posteriores revelam-se mais incisivos: em 1968, 560 baleias foram caçadas, e em 1969 mais de 750. Já em 1970, mais de 800. Até o fim de setembro, a Copesbra havia pescado quase 450 baleias-minke.[8]
Em 1974 a Copesbra havia pescado um total de 793 baleias, das quais 761 foram da espécie minke, 3 espadarte e 29 cachalote, das quais foram retirados o óleo, a carne (que também servia para fazer charque e toucinho), a farinha de osso e as barbatanas. A farinha de osso era utilizada na agricultura para adubar as plantações sobretudo de pimenta-do-reino no Pará.[5] Já o óleo e a carne eram exportadas para o Japão, já que nunca foram muito apreciados pela população local, apesar do preço competitivo em relação à carne do boi (custava dois terços desta).[5]
Tal informação é corroborada pelo parecer contido no relatório da Câmara dos Deputados de 1986:
Nas feiras livres dos 171 municípios paraibanos não havia, em 1982, sequer dez pontos de venda de carne de baleia; além disso, no município de Costinha, onde se encontra instalada a fábrica de beneficiamento da empresa, uma pesquisa feita em 400 residências mostrou que apenas eventualmente a carne do cetáceo fazia parte da dieta alimentar dos moradores.[9]
A Copesbra foi a única empresa a operar no país que se dedicava exclusivamente à caça à baleia. Encerrou suas atividades no país após o decreto proibindo a pesca do cetáceo, em 1985.[2]
Proibição à caça
Assinatura de decreto-lei em 1985
Em 20 de dezembro de 1985 o então presidente José Sarney assinou o decreto-lei nº 92.185 que previa uma moratória à caça a princípio por cinco anos.[10][11][2][12][2] a pesca da baleia no Brasil. O país começou a seguir a partir de então o que preconiza a Comissão Baleeira Internacional, que na época era integrado por 40 países.[2]
As baleias migram todo ano para as águas quentes do Nordeste brasileiro para dar à luz, vindas da fria Antártida.[2] A ameaça de extinção era portanto iminente, já que a maior parte das baleias caçadas eram espécimes fêmeas e prenhes, o que se constatava ao abrir seus ventres quando do processamento da carne. Só no ano da proibição, em 1985, a fábrica havia caçado 598 animais, cuja carne era exportada, juntamente com o toucinho e as cartilagens, para o mercado japonês.[2][6]
No livro Antártida: a última terra, do jornalista Ulisses Capozoli, pode-se ler o seguinte trecho sobre tal caça:
Um diretor da empresa (...) assegurava que nenhuma fêmea grávida era abatida. Porém, ele nunca conseguiu explicar como os operadores de arpão reconhecem uma fêmea grávida em meio a um grupo de baleias mergulhadas no mar. No passado, a captura e o corte da baleia na Paraíba serviam de atração turística. Após o apedrejamento dos homens que trabalhavam no esquartejamento dos animais, a Copesbra decidiu suspender a demonstração. A partir daí, só jornalistas 'de confiança', dispostos a defender os interesses da empresa, podiam embarcar nos seus navios baleeiros.[6]
A pesca no Brasil perdia em números apenas para a União Soviética e o Japão. Doze espécies eram caçadas na costa brasileira, entre elas a minke.[2]
Falência da Copesbra
Após o decreto de proibição à caça, a fábrica decreta falência e demite seus 112 funcionários fixos, entre os quais seis trabalhadores vindos diretamente do Japão para trabalhar na atividade, alguns com esposa e filhos.[2][5]
Notas
↑Dos quais duas dezenas eram de japoneses contratados para orientar a pesca na Paraíba.[7]
↑ abcCAPOZOLI, Ulisses (1991). Antártida: a última terra. [S.l.]: EdUSP. 384 páginas. ISBN: Antártida: a última terra Verifique |isbn= (ajuda) !CS1 manut: Nomes múltiplos: lista de autores (link)
↑DUARTE FILHO, Francisco Henrique; AGUIAR, José Otávio (22 de fevereiro de 2014). «Baleias e ecologistas na Paraíba: (...) (1970-1980)»(PDF). Revistatopoi.org. Consultado em 15 de agosto de 2014 !CS1 manut: Nomes múltiplos: lista de autores (link)
↑Revista Veja e Leia, edições 161–173. [S.l.]: Ed. Abril. 1971
↑Redação do Congresso Nacional (1986). Anais da Câmara dos Deputados, volume 12. [S.l.]: Departamento de Imprensa Nacional
↑SOLDERA, Raquel Rivera (2012). «Santuário de baleias e golfinhos no Brasil»(PDF). Congresso Internacional Interdisciplinar em Sociais e Humanidades. Consultado em 15 de agosto de 2014 !CS1 manut: Nomes múltiplos: lista de autores (link)
↑MARCONDES, Sandra (2005). Brasil, amor à primeira vista!: viagem ambiental no Brasil do século XVI ao XXI. [S.l.]: Editora Peirópolis. 343 páginas. ISBN: 8575960539 Verifique |isbn= (ajuda) !CS1 manut: Nomes múltiplos: lista de autores (link)