"Boicote, desinvestimento e sanções" (em inglês, "Calls for Boycott, Divestment and Sanctions against Israel"), mais conhecida como BDS, é uma campanha global que preconiza a prática de boicote econômico, acadêmico, cultural e político ao estado de Israel, com os seguintes objetivos:[1]
Em 2002, após as declarações de Ronnie Kasrils, então Ministro das Águas e das Florestas da África do Sul, conclamando ao boicote e às sanções[4], Desmond Tutu, prêmio Nobel da Paz por sua luta contra o apartheid, lança uma campanha de desinvestimento em Israel, conduzida por entidades religiosas e políticas visando colocar um fim à ocupação israelense dos territórios palestinos iniciada na Guerra dos Seis Dias (1967)[5]· .[6][7]
Uma pesquisa da Maan News Agency, de março de 2009, revelou que 21% dos exportadores israelenses tiveram que baixar seus preços por causa do boicote, depois de perderem significativa fatia de mercado, sobretudo na Jordânia, no Reino Unido e nos países escandinavos.[11]
Primeiras declarações e construção da campanha
Em abril de 2002, o sul-africano de origem judia Ronnie Kasrils, então Ministro das Águas e das Florestas da África do Sul,[12] declarou publicamente o seu apoio à proposta de "isolamento, boicote e sanções" contra Israel e lançou, juntamente com Max Ozinsky, também judeu, a carta-manifesto "Não em meu nome" (Not in my Name).
"Eu nasci judeu. Uma vez que Israel se propõe a falar e a agir em nome de judeus em toda parte (...) estamos dizendo: Não. Não em meu nome. Nunca", disse Kasrils em uma entrevista à Reuters. O manifesto, assinado por centenas de outros membros da comunidade judaica sul-africana, fazia uma explícita analogia entre o apartheid e as políticas vigentes no Estado de Israel.[13][14]. Alguns anos mais tarde, em 2005, em artigo publicado no jornal The Guardian, Kasrils explicou por que acreditava que o boicote pudesse ser benéfico tanto para os palestinos quanto para os israelenses.[15]
A ideia de uma campanha europeia de boicote acadêmico e cultural surge na Grã-Bretanha em 2002, numa carta aberta[16] assinada por 125 acadêmicos e publicada por The Guardian.[17] A carta levou a linguista Mona Baker, da Universidade de Manchester, a demitir dois acadêmicos israelenses do conselho editorial de dois periódicos editados por ela em junho de 2002. "De fato, não estou boicotando os israelenses. Estou boicotando as instituições israelenses," declarou Baker.[18]
Conferência na sede da ONU e reunião de intelectuais na Palestina
En setembro de 2003, na sede da ONU, por ocasião da Conferência Internacional da sociedade civil em apoio ao povo palestino, uma ONG israelense defendeu um boicote internacional. Outros participantes estabeleceram um paralelo entre as condições impostas aos palestinos, pelo governo de Israel, e antigo regime de apartheid na África do Sul.[19]
Em abril de 2004 um grupo de acadêmicos e intelectuais reunidos em Ramallah lançou a Campanha Palestina pelo Boicote Acadêmico e Cultural de Israel.[20] Os objetivos dessa campanha, que se seguiu a um apelo precedente, lançado em 2003 por acadêmicos e intelectuais da Palestina e da Diáspora, foram divulgados numa declaração pública, em julho do mesmo ano.[21]
Em 9 de julho de 2004, a Corte Internacional de Justiça emitiu parecer sobre a barreira de separação israelense, contestando o seu traçado.[9] Esse parecer reforça a oposição à política de Israel e cria um clima propício à campanha pelo boicote. O Estado de Israel reagiu ao parecer da Corte, protestando contra a "posição tendenciosa e parcial da Assembleia Geral da ONU" e destacando a influência que os "países hostis" a Israel teriam na Assembleia. Além disso, segundo Israel, a Corte Internacional de Justiça não teria competência para tratar de "questões políticas litigiosas sem o consentimento das partes envolvidas".
Indicação para o Nobel da Paz
Em 2 de feveriro de 2018, Bjørnar Moxnes, membro do parlamento norueguês, indicou oficialmente o movimento BDS para o Prêmio Nobel da Paz. Segundo Moxnes, o movimento deve ser apoiado, sem reservas, por todos os povos e países de convicções democráticas. "Conceder o Prêmio Nobel da Paz ao movimento BDS seria um sinal poderoso para demonstrar que a comunidade internacional está comprometida em apoiar uma paz justa no Oriente Médio, com o uso de meios pacíficos para pôr um fim à ocupação militar e às amplas violações da lei internacional.[22]