Os bantus[2][3][4] ou bantos[5] constituem um grupo etnolinguístico localizado principalmente na África subsariana e que engloba cerca de 400 subgrupos étnicos diferentes. A unidade desse grupo, contudo, aparece de maneira mais clara no âmbito linguístico, uma vez que essas centenas de grupos e subgrupos têm, como língua materna, uma língua da família banta.
Etimologia
A palavra "bantu" é derivada da palavra ba-ntu, formado por ba (prefixo nominal de classe 2) e nto, que significa "pessoa" ou "humanos".[6] Versões dessa palavra ocorrem em todas as línguas bantus: por exemplo, como watu em suaíli; Muntu em quicongo; batu em lingala; bato em duala; abanto em Gusii; andũ em quicuio; abantu em zulu, quitara,[7] e ganda; vanhu em xona; Batho em sesoto; vandu em alguns dialetos luia; mbaityo em Tive; e vhathu em venda.
História
Os bantus são provavelmente originários dos Camarões e do sudeste da Nigéria. Por volta de 2 000 a.C., começaram a expandir seu território na floresta equatorial da África central. Mais tarde, por volta do ano 1000, ocorreu uma segunda fase de expansão mais rápida, para o leste, e finalmente uma terceira fase, em direção ao sul do continente, quando os bantos se miscigenaram. Os bantos se misturaram então aos grupos autóctones e constituíram novas sociedades.
Organização Social dos Bantu
Os povos e indivíduos de língua Bantu consideravam a família, as linhagens e os clãs como centrais para sua existência. Incluir esses elementos é fundamental para entender a estrutura social do clã. Historicamente, os Bantu representam seu lugar e papel no mundo com base nesses conceitos associados.
Em diversos cenários históricos, os falantes Bantu demostravam verbal, cultural e intelectualmente a importância do pertencimento. Antigos povos de língua Bantu acreditavam que esse costume proporcionava segurança em um mundo duvidoso. O pertencimento, e não a independência, era o esperado dos indivíduos da comunidade.
A vontade de pertencimento manifestava-se na organização espiritual, econômica e política das sociedades Bantu em torno das linhagens. Esse arranjo estrutural criava uma ideia de identidade, aliança e organizava comunidades de aldeias. Ao longo da vida, os indivíduos eram introduzidos à comunidade por meio de atitudes específicas e cultos de iniciação, baseadas em seu ciclo de vida.[8]
Religião
Por volta do quarto milênio a.C., o povo proto-Bantu distinguia dois tipos de espíritos: ancestrais e territoriais. Os espíritos ancestrais eram membros falecidos da família que ainda eram recordados pelos vivos. Já os espíritos territoriais influenciavam os vivos, porém, estavam associados a lugares específicos. Para os Bantu, a família e o mundo espiritual estavam intimamente ligados. A família englobava membros vivos, falecidos e futuros, enquanto o mundo espiritual compreendia um criador monoteísta, espíritos ancestrais e entidades associadas a locais específicos. Os espíritos ancestrais eram aqueles que tinham falecido recentemente e ainda estavam na memória dos vivos. Por compreenderem a influência desses espíritos sobre os vivos, os povos Bantu mantinham uma relação próxima com eles.[9]
Os espíritos ancestrais interferiam na vida dos vivos, faziam pedidos e esperavam comunicações e oferendas. Provérbios, tradições orais e histórias familiares mostram que esses espíritos respondiam de duas maneiras: podiam trazer coisas positivas ou, se insatisfeitos, causar problemas na vida das pessoas. Eles acreditavam que os espíritos ancestrais influenciavam a vida cotidiana dos vivos, incluindo a fertilidade da comunidade. Ancestrais insatisfeitos podiam causar crises, enquanto os satisfeitos podiam trazer proteção e bons resultados.[10]
Para manter esses espíritos contentes, os Bantu faziam oferendas de comida, bebida, música, dança e outras expressões. Eles acreditavam que negligenciar os ancestrais poderia trazer desastres para a pessoa, família ou comunidade, por isso, se esforçavam para satisfazê-los com suas ações e palavras.[11]
Enquanto os bosquímanos e hotentotes eram nômadescaçadores-coletores e pastores, os bantos eram agricultores sedentários e já conheciam o uso do ferro. Esses avanços lhes permitiram colonizar um amplo território, ao longo de aproximadamente quatro mil anos, forçando o recuo dos povos nômades. No entanto, os bantos absorveram alguns fenômenos linguísticos típicos das línguas coissãs, como o clique.
Embora não existam informações precisas, o subgrupo etnolinguístico banto mais numeroso parece ser o zulu. A língua zulu é a mais falada na África do Sul, onde é uma das 11 línguas oficiais. Mais da metade dos 50 milhões de habitantes da África do Sul é capaz de compreendê-la; mais de nove milhões de pessoas têm o zulu como língua materna, e mais de 15 milhões falam o zulu fluentemente.[12]
Em direção dos séculos XVIII e XIX, o fluxo de escravos bantus do Sudeste africano aumentou com o aumento do OmaniSultanato de Zanzibar, com sede em Zanzibar, na Tanzânia. Com a chegada dos colonizadores europeus, o Sultanato de Zanzibar entrou em conflito direto no comércio e na concorrência com portugueses e outros europeus ao longo da Costa Suaíli, levando eventualmente à queda do sultanato e ao fim da negociação de escravos na costa suaíli em meados do século XX.
Na década de 1920, os sul-africanos relativamente liberais, os missionários e a intelectualidade negra começaram a usar o termo "bantus" e termos mais depreciativos (como "Cafre") para se referir coletivamente aos bosquimanos sul-africanos. Após a Segunda Guerra Mundial (1939-1945), o Partido Nacional governista adotou oficialmente o seu uso, enquanto o crescente movimento indígena apoiado pela União Soviética e seus aliados liberais adotaram o termo "negro", de modo que "bantus" tornou-se identificado com as políticas do Apartheid. Na década de 1970, o termo "bantus" estava tão desacreditado como uma designação etno-racial que o governo do apartheid mudou para o termo "preto" em suas categorizações raciais oficiais, restringindo-a a africanos que falavam idiomas Bantu, mais ou menos na mesma época em que o Movimento da Consciência Negra liderado por Steve Biko e outros estavam definindo, como Black ("preto"), o conjunto de oprimidos sul-africanos (negros, mestiços e indianos).
↑Gonzales, Rhonda M.; Saidi, Christine; Fourshey, Catherine Cymone (14 de julho de 2017). «The Bantu Matrilineal Belt». New York, NY : Routledge, 2018. | Series: Global Africa ; 5: Routledge: 19–42. ISBN978-1-315-17771-7. Consultado em 4 de julho de 2024
↑Gonzales, Rhonda M.; Saidi, Christine; Fourshey, Catherine Cymone (14 de julho de 2017). «The Bantu Matrilineal Belt». New York, NY : Routledge, 2018. | Series: Global Africa ; 5: Routledge: 19–42. ISBN978-1-315-17771-7. Consultado em 7 de julho de 2024
↑Gonzales, Rhonda M.; Saidi, Christine; Fourshey, Catherine Cymone (14 de julho de 2017). «The Bantu Matrilineal Belt». New York, NY : Routledge, 2018. | Series: Global Africa ; 5: Routledge: 19–42. ISBN978-1-315-17771-7. Consultado em 7 de julho de 2024
↑Gonzales, Rhonda M.; Saidi, Christine; Fourshey, Catherine Cymone (14 de julho de 2017). «The Bantu Matrilineal Belt». New York, NY : Routledge, 2018. | Series: Global Africa ; 5: Routledge: 19–42. ISBN978-1-315-17771-7. Consultado em 7 de julho de 2024
↑Roland Oliver, et al. "Africa South of the Equator," in Africa Since 1800. Cambridge, UK: Cambridge University Press, 2005, pp. 21
↑Roland Oliver, et al. "Africa South of the Equator," in Africa Since 1800. Cambridge, UK: Cambridge University Press, 2005, pp. 23
↑Roland Oliver, et al. "Africa South of the Equator," in Africa Since 1800. Cambridge, UK: Cambridge University Press, 2005, pp. 23.
↑ abRoland Oliver, et al. "Africa South of the Equator," in Africa Since 1800. Cambridge, UK: Cambridge University Press, 2005, pp. 24-25.
↑ abRoland Oliver, et al. "Africa South of the Equator," in Africa Since 1800. Cambridge, UK: Cambridge University Press, 2005, pp. 25.
↑Isichei, Elizabeth Allo, A History of African Societies to 1870 Cambridge University Press, 1997, ISBN 978-0521455992 page 435
Bibliografia
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