A Asa N.º 90 foi uma asa da Real Força Aérea Australiana (RAAF) que operou durante os primeiros anos da Emergência Malaia. O seu propósito era servir como um comando para as unidades da RAAF destacadas no conflito, o Esquadrão N.º 1, que operava aviões Avro Lincoln, e o Esquadrão N.º 38, que operava aviões Douglas C-47 Dakota. Esta asa foi criada em Julho de 1950 e o seu quartel-general foi estabelecido em Changi, na costa leste de Singapura. O Esquadrão N.º 1 operava a partir da Base aérea de Tengah, no oeste de Singapura, e o Esquadrão N.º 38 a partir de Changi, excepto entre Abril de 1951 e Fevereiro de 1952, que operou a partir de Kuala Lumpur. Os aviões Lincoln realizavam geralmente operações de bombardeamento aéreo e bombardeamento estratégico, de modo a atormentar os insurgentescomunistas; os aviões Dakota ficaram responsáveis pelo transporte aéreo de mercadorias, tropas, feridos, personalidades VIP e correio. Depois de o Esquadrão N.º 38 ter cessado, em Dezembro de 1952, a sua participação no conflito, deixando o Esquadrão N.º 1 sozinho com a tarefa de realizar todas as operações aéreas, a Asa N.º 90 foi desactivada, ficando o Esquadrão N.º 1 como a única unidade australiana no conflito até Julho de 1958.
Historia
Origens e formação
Em Abril de 1950 o governo britânico pediu assistência à Austrália no combate contra insurgentes comunistas durante a Emergência Malaia. Em resposta a este pedido, o Comité de Defesa Australiano determinou que seria possível destacar uma força de oito aviões de transporte Douglas C-47 Dakota e outra de entre quatro a seis aviões de bombardeamento Avro Lincoln. O governo federal formalmente anunciou a decisão para mandar estas forças no final de Junho, confirmando o envio de seis aviões Lincoln.[1] O Esquadrão N.º 1, que operava os Lincoln, deixaria de ser subordinado da Asa N.º 82, em Amberley, Queensland, e ficaria baseado na Base aérea de Tengah, na zona oeste de Singapura. O Esquadrão N.º 38, que operava os C-47, também deixaria de estar subordinado à Asa N.º 86, em Richmond, Nova Gales do Sul, e ficaria colocado em Changi, na zona leste de Singapura.[1][2] O destacamento de aeronaves de transporte, nesta altura, apenas foi possível devido ao retorno de dez aviões C-47 que haviam estado de serviço durante o Bloqueio de Berlim.[1]
Ficou acordado que as operações da RAAF durante a emergência seriam dirigidas pela Real Força Aérea (RAF) através da Força Aérea do Extremo Oriente.[1] Os britânicos também queriam que os esquadrões australianos ficassem subordinados a uma asa da RAF.[3] Contudo, o Chefe do Estado-maior, o Air MarshalGeorge Jones, estava consciente de que não poderia cometer os mesmos erros que na Segunda Guerra Mundial, quando as unidades da RAAF e o seus militares, que estava baseados na Grã-Bretanha, tinham sido absorvidos pela RAF, em vez de operarem como uma força internacional destacada sob o comando de um oficial australiano de alta patente. Assim, Jones decidiu que os esquadrões N.º 1 e N.º 38 ficariam subordinados a uma asa australiana e administrava por australianos, enviando o pedido para tal acção ao Air Ministry.[4][5] O ministério britânico concordou com a proposta, e a Asa N.º 90 foi estabelecida em Richmond no dia 10 de Julho de 1950, sob o comando o Capitão Paddy Heffernan.[1][5]
Operações
Os C-47 do Esquadrão N.º 38 começaram a chegar a Changi no dia 19 de Junho de 1950, e os Lincoln do Esquadrão N.º 1 em Tengah no dia 16 de Julho.[2] O pessoal da Asa N.º 90 deixou Richmond por via aérea e estabeleceu o seu quartel-general em Changi, no dia 22 de Julho.[5][6] Os C-47 haviam realizado a sua primeira missão no dia anterior; já os Lincoln começaram a suas operações a 26 de Julho. Ambos os esquadrões ficaram responsáveis pela sua própria manutenção aeronáutica; as aeronaves, quando precisassem de manutenção mais profunda, eram enviadas para a Austrália.[2] A RAF providenciou apoio a nível de base e instalações, incluindo a nível alimentar e de alojamento.[1][7]
Os Lincoln conduziam geralmente missões de bombardeamento aéreo, assim como ataques estratégicos contra alvos pré-identificados. Eles podiam operar tanto sozinhos como em formação, às vezes em conjunto com os bombardeiros da RAF. Não tendo que se preocupar com artilharia antiaérea, os aviões voavam principalmente durante o dia. Depois de completarem um lançamento de bombas contra um determinado alvo, eles davam a volta e passavam de novo pela área para disparar as suas metralhadoras de 20 mm. Os Lincoln eram considerados bem equipados e ideais para este tipo de missões, apresentando um bom alcance, permitindo que se voasse a baixa velocidade para a identificação aérea de alvos, e estando bem equipado com armamento defensivo e capacidade de bombas.[8] O Esquadrão N.º 1 também realizava missões nocturnas—a única unidade aérea da Commonwealth autorizada para tal—que tinham uma duração máxima de seis horas, lançando uma bomba a cada 30 minutos.[8][9] Para reduzir o risco de danos colaterais, todos os ataques aéreos tinham que ser aprovados pelo Centro de Operações Conjuntas, localizado em Kuala Lumpur, no centro da Malásia, envolvendo pessoal militar, policial e civil. Embora o propósito original destes bombardeamentos consistia em matar tantos insurgentes quanto possível, o facto de ser praticamente impossível alcançar a meta estabelecida devido à densa selva, resultou numa alteração do objectivo dos bombardeamentos, que passou a ser a desmoralização das forças comunistas, forçando-as a movimentar-se para áreas onde as tropas terrestres da Commonswealth as poderiam combater com sucesso.[8]
Os aviões Dakota realizavam operações relacionadas com o transporte aéreo de mercadoria, personalidades VIP, tropas e feridos, mas também podiam transportar correio e lançamento de mantimentos e panfletos de propaganda no teatro de operações.[1] Em outras missões especiais também podiam realizar uma espécie de missão de reconhecimento aéreo, abrindo caminho para os aviões do Esquadrão N.º 1 irem "directamente ao assunto", através do lançamento de sinalizadores de fumo em áreas com a presença de insurgentes, para que Lincoln pudessem seguir de imediato e bombardear o alvo sinalizado pelo fumo.[10] O transporte aéreo de militares e de mercadorias era uma parte fundamental da sua missão e da estratégia para derrotar os insurgentes, permitindo que as forças militares conseguissem manter uma presença semi-permanente na selva.[1][11] As operações do Esquadrão N.º 38 situavam-se numa área que englobava a Malásia, o Brunei, as Filipinas, o Japão e a Coreia. A necessidade de transporte durante a Guerra da Coreia levou a uma redução da força da Asa N.º 90, quando quatro aviões Dakota foram transferidos para Iwakuni, no Japão, o quartel-general da Asa N.º 91, em Novembro de 1950.[2][12] No mesmo mês, o Capitão Frank Headlam foi nomeado para comandar a Asa N.º 90, rendendo Heffernan.[13] Headlam, no dia 20 de Dezembro, sofreu um acidente enquanto estava nos comandos de um Dakota, ficando ferido e a aeronave severamente danificada, depois de uma tentativa de aterragem em Kampong Aur, em Pahang, devido a uma falha de motor.[14]
Em compensação, as fileiras do Esquadrão N.º 1 foram compensadas, com o número de aeronaves a aumentar de seis para oito, depois de o Air Ministry ter pedido, em Fevereiro de 1951, que a força de bombardeiros australiana fosse aumentada para compensar a retirada dos aviões Lincoln da RAF, dado que estes tiveram que ser enviados de volta para a Europa.[15] Em Abril, quatro aviões Dakota do Esquadrão N.º 38 foram relocalizados para Kuala Lumpur, onde começaram a realizar operações de lançamento de mantimentos em cooperação com o Esquadrão N.º 41 da RNZAF.[16] Um dos Lincoln dos Esquadrão N.º 1 ficou destruído depois de falhar uma aterragem em Tengah, no dia 30 de Novembro.[17] No mês seguinte, Redmond Green foi nomeado como o novo comandante da Asa N.º 90, substituindo Headlam.[18][19] No dia 4 de Abril de 1952, Green participou numa missão a bordo de um Lincoln, para substituir um camarada que havia ficado ferido. A primeira aeronave na qual descolou teve que voltar para trás devido a uma falha num dos motores; a segunda conseguiu realizar a missão, contudo mais tarde descobriu-se que a aeronave não conseguia perder velocidade para conseguir aterrar em Tangah. Receando que a aeronave passasse a pista e sofresse um acidente, a tripulação conseguiu usar um paraquedas em uma das torres, fazendo com que a aeronave perdesse velocidade suficiente para puder aterrar em segurança.[20]
Desactivação
O Esquadrão N.º 38 foi novamente relocalizado de Kuala Lumpur de volta para Changi, em Fevereiro de 1952.[21] No decorrer deste ano, as prioridades de transporte aéreo da RAAF foram alteradas devido à crescente pressão da Guerra da Coreia, relegando as operações na Malásia para segundo plano.[21][22] Tendo transportado mais de 17 mil passageiros e quatro 1900 toneladas de mercadorias, lançado cerca de 750 toneladas de mantimentos e evacuado mais de 300 feridos, o Esquadrão N.º 38 voltou para a Austrália no dia 8 de Dezembro e juntou-se de novo à Asa N.º 86, em Richmond.[21] Depois da saída deste esquadrão, a Asa N.º 90 foi extinta em Changi, e o Esquadrão N.º 1 tornou-se na única unidade aérea na Malásia.[23] O esquadrão continuou com as campanhas de bombardeamento contra as forças comunistas até à sua retirada em Julho de 1958, voltando para a Austrália depois de mais de 4000 missões em oito anos de operações, tendo lançado mais de 14 mil toneladas de bombas (85% de todas as bombas lançadas pelas forças da Commonwealth durante a Emergência Malaia).[24][25] O Esquadrão N.º 1 foi rendido pelo Esquadrão N.º 2, que operava bombardeiros a jacto English Electric Camberra.[26]
Comandantes
A Asa N.º 90 foi comandada pelos seguintes oficiais:
↑ ab«New head for RAAF wing». The Sydney Morning Herald. Sydney: National Library of Australia. 4 de dezembro de 1951. p. 2. Consultado em 14 de julho de 2017
↑«With the RAAF in Malaya». The News. Adelaide: National Library of Australia. 10 de julho de 1952. p. 12. Consultado em 14 de julho de 2017
Dennis, Peter; Grey, Jeffrey (1996). Emergency and Confrontation: Australian Military Operations in Malaya and Borneo 1950–1966 (em inglês). St Leonards, Nova Gales do Sul: Allen & Unwin em associação com o Australian War Memorial. ISBN1-86373-302-7