O nome vernáculo aruá é proveniente do termo tupiuruguá. Comparar com uruá, outra variante do nome em português.[6]
Características
A concha dos aruás é globular, com cores tipicamente variando numa mistura muito variável de marrom, preto e amarelo-acastanhado; há indivíduos de cor dourada e também albinos.[7] O tamanho da concha é de até 150 milímetros (6 polegadas) de comprimento.[8]
Dieta
Esses moluscos são extremamente polífagos e alimentam-se de matéria vegetal (principalmente macrófaga, alimentando-se de plantas superiores flutuantes ou submersas), detrítica e matéria animal. A dieta pode mudar conforme a idade, com indivíduos jovens se alimentando principalmente de algas e detritos enquanto indivíduos mais velhos e maiores (15 milímetros (19⁄32 polegadas) e acima) posteriormente mudando para plantas maiores.[9] Esta espécie afeta negativamente a agricultura de arroz e taro (Colocasia esculenta) em todo o mundo onde foi introduzida.[8]
Reprodução
Os aruás são animais polígamos que copulam com frequência de duas a três vezes por semana. A cópula é demorada e pode durar até 12 horas, sendo realizada debaixo da água. São postos de 12 a mil ovos, normalmente menos que 300, em massas alocadas em vegetações.[10] Em climas temperados, a fêmea posta os ovos num período que se estende do início da primavera ao início do outono.[11] Nas áreas tropicais por sua vez a reprodução é contínua. A duração desse período reprodutivo diminuí conforme a latitude para um mínimo de seis meses no limite sul da sua distribuição natural.[12] As fêmeas adultas depositam seus ovos nas vegetações que emergentes durante a noite, mas também podem postar em rochas ou até mesmo barcos. Esses ovos levam cerca de duas semanas para eclodir e neste período perde suas cores brilhantes.[13] A primeira evidência direta (de todos os animais), de que o inibidor de proteinase de ovos de aruá interage como inibidor de tripsina com a protease de predadores em potencial, foi relatada em 2010.[14]
Distribuição
A distribuição original da espécie é basicamente tropical e subtropical, incluindo países como Argentina, Bolívia, Paraguai, Uruguai e Brasil.[15] O local mais ao sul em que a espécie foi encontrada é o reservatório Paso de las Piedras, ao sul da província de Buenos Aires, na Argentina.[12]
É encontrada também na China desde 1981,[20] com a cidade de Chonxã sendo considerada o ponto de distribuição.[21] No Chile é encontrado desde 2009 com distribuição restrita.[22] Além disso, pode ser também encontrado nas Filipinas, Japão, Coreia do Sul, Taiuã, Vietnã, Camboja, Laos, Papua Nova Guiné, partes da Indonésia e Malásia, Cingapura e Guame. O molusco foi introduzido no leste asiático em 1980, como uma iguaria e também como animal de aquário. Sua introdução pode ter iniciado em Taiwan, partindo então para o Japão, depois Tailândia e Filipinas. Dali, ou escaparam ou foram soltos, se multiplicando e tornando-se uma grande praga agrícola.[23] Em 3 de Dezembro de 2020 o primeiro exemplar foi encontrado em continente africano, na Constituinte de Muea, no condado de Quiriniaga, no Quênia.[24]
Habitat
A espécie vive em águas frescas de lagos, rios, alagados e pântanos e tolera as mais variadas temperaturas.[25] Em seus ambientes naturais, eles dependem das vegetações que emergem das águas para depositar seus ovos. Em locais onde é invasor, podem utilizar plantações de arroz e outras plantações para se reproduzir.[26]
Predadores
Na América do Sul, o aruá é predado pelo gavião-caramujeiro (Rostrhamus sociabilis). A formiga-de-fogo (Solenopsis geminata) tem sido observada predando ovos dessa espécie.[27] Vale mencionar que os ovos do aruá contém substâncias tóxicas.[10] Na Ásia, o caracol Quantula striata também pôde ser observado se alimentando de ovos do aruá.[28]
Extratos de ciclotídeos brutos de Oldenlandia affinis e Viola odorata mostraram atividade moluscícida comparável ao metaldeído moluscícida sintético.[30] Como a submersão dos ovos em desenvolvimento abaixo da água reduz o sucesso da eclosão, a manipulação do nível da água em campos agrícolas e reservatórios represados pode fornecer ferramenta para controlar populações invasoras.[13]
Uso humano
Esta espécie é comestível. Constitui um dos três caracóis de água doce predominantes encontrados nos mercados chineses.[31] Na China e no Sudeste Asiático, o consumo de caracóis crus ou mal cozidos é a principal via de infecção com Angiostrongylus cantonensis causando angiostrongilíase.[32] Em Isan, na Tailândia, são coletados e consumidos. São colhidos à mão ou com uma rede de mão em canais, pântanos, lagoas e arrozais inundados durante a estação chuvosa. Durante a estação seca, quando ficam escondidos sob a lama seca, os coletores usam pá para raspar a lama para encontrá-los. Geralmente são coletados por mulheres e crianças. Após a coleta, são limpos e parbolizados. São então retirados de suas conchas, cortados e limpos em água salgada. Depois de enxaguar com água, eles são misturados com arroz torrado, pimenta malagueta seca, suco de limão e molho de peixe e depois comidos.[33]
Pratos especiais usando aruá também são produzidos na China.[34] Alguns restaurantes franceses estão tentando usá-la como alternativa ao escargô.[35] Após a fervura, removem-se as tripas e ovos e lava-se apenas o corpo musculoso com vinagre, para eliminar o odor. Como resultado, pode ser usado como uma alternativa ao escargô.[36]
Aruá deslocou algumas das espécies indígenas de ampularídeos no gênero Pila tradicionalmente consumidos no Sudeste Asiático (incluindo Tailândia e Filipinas), como P. ampullacea e P. pesmei, e o viviparídeoCipangopaludina chinensis.[37][38] Em alguns arrozais no Japão, aruá é usada para controlar ervas daninhas, permitindo que o caracol as coma. No entanto, este método corre o risco de os caracóis também comerem plantas de arroz jovens e se espalhem para campos próximos e cursos de água como praga invasiva.[39][40][41] É uma parte do comércio de animais de estimação ornamentais para aquários de água doce.[42]
↑Nentwig, W.; Bacher, S.; Kumschick, S; Pyšek, P.; Vilà, M. (18 de dezembro de 2017). «More than "100 worst" alien species in Europe». Biological Invasions. 20 (6). pp. 1611–1621. doi:10.1007/s10530-017-1651-6
↑Howells, R. Personal communication. Texas Parks and Wildlife Department. In: United States Geological Survey. 2008. Pomacea canaliculata. USGS Nonindigenous Aquatic Species Database, Gainesville, FL. Revision Date: 2/4/2008
↑ abcUnited States Geological Survey. 2008. Pomacea canaliculata. USGS Nonindigenous Aquatic Species Database, Gainesville, FL. Revision Date: 2/4/2008
↑Estebenet, A. L.; Martín, P. R. (abril de 2002). «Pomacea canaliculata (Gastropoda: Ampullariidae): life-history traits and their plasticity». Biocell. 26. pp. 83–9
↑Bachmann, A. (outubro de 1960). «Apuntes para una hidrobiología argentina. II. Ampullaria insularum Orb. y A. canaliculata Lam.(Moll. Prosobr., Ampullaridae). Observaciones biológicas y ecológicas». Actas y Trabajos Primer Congreso Sudamericano de Zoología. 1. La Plata, Argentina. pp. 19–24
↑ abMartín, P. R.; Estebenet, A. L.; Cazzaniga, N. J. (2001). «Factors affecting the distribution of Pomacea canaliculata (Gastropoda: Ampullariidae) along its southernmost natural limit.». Malacologia. 43 (1–2). pp. 13–23
↑ abIsmail, S. N.; Abdul Wahab, N. I.; Mansor, M. (2018). «Behavioural study of the golden apple snail (Pomacea canaliculata) in a Tropical Lake, Chenderoh Reservoir, Malaysia». Lakes & Reservoirs: Science, Policy and Management for Sustainable Use. 23 3 ed. pp. 256–260
↑Cowie, R.; Thiengo, S. C. «The apple snails of the Americas (Mollusca: Gastropoda: Ampullariidae: Asolene, Felipponea, Marisa, Pomacea, Pomella): a nomenclatural and type catalog.». Malacologia. 45 (1). pp. 41–100
↑Jackson, Douglas; Jackson, Donald (2009). «Registro de Pomacea canaliculata (LAMARCK, 1822) (AMPULLARIIDAE), molusco exótico para el norte de Chile». Gayana. 73 (1). pp. 40–44
↑Buddie, Alan; Rwomushana, Ivan; Offord, Lisa; Kibet, Simeon; Makale, Fernadis; Djeddour, Djami; Cafa, Giovanni; Koskei, Vincent; Muvea, Alex; Chacha, Duncan; Day, Roger (março de 2021). «First report of the invasive snail Pomacea canaliculata in Kenya». CABI Agriculture and Bioscience. 2. 11 páginas. Consultado em 9 de outubro de 2022
↑Wada, T.; Matsukura, K. (dezembro de 2007). «Seasonal Changes in Cold Hardiness of the Invasive Freshwater Apple Snail, Pomacea canaliculata (Lamarck) (Gastropoda: Ampullariidae)». Malacologia. 49 (2). pp. 383–392. doi:10.4002/0076-2997-49.2.383
↑Rawlings, T. A.; Hayes, K. A.; Cowie, R. H.; Collins, T. M. (junho de 2007). «The identity, distribution, and impacts of non-native apple snails in the continental United States». BMC Evolutionary Biology. 7 (1). 97 páginas
↑Yusa, Y. (2001). «Predation on eggs of the apple snail Pomacea canaliculata (Gastropoda: Ampullaridae) by the fire ant Solenopsis geminata». Journal of Molluscan Studies. 67 3 ed. pp. 275–279
↑Lv, Shan; Zhang, Yi; Liu, He-Xiang; Zhang, Chao-Wei; Steinmann, Peter; Zhou, Xiao-Nong; Utzinger, Jürg (fevereiro de 2009). «Angiostrongylus cantonensis: Morphological and behavioral investigation within the freshwater snail Pomacea canaliculata». Parasitology research. 104. pp. 1351–9|acessodata= requer |url= (ajuda)
↑Plan, M. R.; Saska, I.; Cagauan, A. G.; Craik, D. J. (julho de 2008). «Backbone cyclised peptides from plants show molluscicidal activity against the rice pest Pomacea canaliculata (golden apple snail)». J Agric Food Chem. 56 (13): 5237-41
↑イッチ (16 de agosto de 2019). «田んぼのジャンボタニシについて». icchinosora.com (em japonês). Consultado em 25 de abril de 2022
↑Wood, T. S.; Anurakpongsatorn, P.; Chaichana, R.; Mahujchariyawong, J.; Satapanajaru, T. (maio de 2006). «Heavy predation on freshwater bryozoans by the golden apple snail, Pomacea canaliculata Lamarck, 1822 (Ampullariidae). Tropical Natural History.». The Natural History Journal of Chulalongkorn University. 6 (1): 31–6