Arqueologia social na América Latina (ASAL) é uma escola de pensamento desenvolvida na América Latina nas décadas de 1970 e 1980, que se concentra na aplicação do materialismo histórico à interpretação do registro arqueológico. É uma corrente ortodoxa do marxismo, pois adere ao materialismo dialético.
Dentro da arqueologia social latino-americana, existem duas correntes principais. A primeira foi iniciada pelo arqueólogo peruano Luis G. Lumbreras e se inspira principalmente na obra de Vere Gordon Childe, e escreveu o livro seminal La Arqueología como Ciencia Social (1984).[1] A maioria de seus artigos, e os de seus seguidores, apareceram na revista Gaceta Arqueológica Andina, uma revista sul-americana de arqueologia que circulou durante a década de 1990. Lumbreras foi reconhecido por criar uma nova perspectiva sobre a arqueologia com valiosas contribuições, não apenas no aspecto descritivo e analítico, mas também no plano teórico da definição da arqueologia peruana. Ele é um dos fundadores da Arqueologia Social da América Latina por suas contribuições para a coleta de dados e participação no desenvolvimento e integração da sociedade.
A outra corrente principal, inspirada no trabalho de Lumbreras, é composta por aqueles arqueólogos que são membros do Grupo Oaxtepec,[2] entre eles: Luis F. Bate (Chile), I. Vargas Arenas (Venezuela), Mario Sanoja Obediente (Venezuela), Marcio Veloz Maggiolo. A maioria de seus trabalhos foi publicada pela revista Boletín de Antropología Americana, publicada pelo Instituto Panamericano de Geografía. Toda a produção desse grupo sobre teoria marxista e arqueologia foi sintetizada por Luis F. Bate, em seu livro El proceso de Investigación en Arqueología (1998).[3]
Arqueologia como ciência social é uma forma de estudar o passado do homem e das civilizações através do estudo de vestígios (materiais, restos etc.) deixados por eles. A arqueologia utiliza o método científico para investigar e interpretar os dados arqueológicos, que são os objetos materiais que testemunham a cultura e o modo de vida das diferentes sociedades humanas.
Em 1976, Luis G. Lumbreras publicou uma coletânea de alguns artigos sobre arqueologia peruana, complementada por cinco capítulos dedicados à teoria marxista e sua aplicabilidade à pesquisa arqueológica. A obra foi fortemente influenciada por Childe (1954), que defendia uma concepção unilinear de evolução cultural (Childe 1964). Após esse trabalho, Lumbreras publicou diversos artigos na Gaceta Arqueológica Andina. A maioria deles republicada no livro Arqueología y Sociedad.
O sistema tricategorial é uma proposta dos arqueólogos do Grupo Oaxtepec para entender as "totalidades ou conjuntos sociais". Eles acrescentaram à distinção clássica entre Infraestrutura e Superestrutura a distinção entre Forma e Conteúdo (Bate 1998).
Eles propõem que a sociedade tem três níveis de existência: Cultura, Modo de Vida e Formação Socioeconômica (FSE). Esta última é o sistema de conteúdos essenciais da sociedade, ou seja, o vínculo dialético entre as forças produtivas, as relações de produção e alguma forma geral de ideologia e instituições.
A Cultura é o nível mais superficial da sociedade, que abrange os aspectos simbólicos e ideológicos.
O Modo de Vida é o nível intermediário, que abrange os aspectos materiais e comportamentais.
A Formação Socioeconômica é o nível mais profundo, que abrange os aspectos estruturais e dialéticos da sociedade, ou seja, o vínculo entre as forças produtivas, as relações de produção e a ideologia geral.
Os arqueólogos Augusto Oyuela-Caycedo, Armando Anaya e Carlos G. Elera reconhecem o mérito de Patterson por sua contribuição à Arqueologia Social na América Latina e por divulgar esse conhecimento para um público de língua inglesa, como um aspecto relevante do desenvolvimento da arqueologia como uma disciplina que tem sido negligenciada anteriormente.[4] No entanto, eles apontam que seu artigo atribui uma importância desproporcional a um fenômeno que teve uma duração muito restrita.
A Arqueologia Social na América Latina emergiu como um reflexo direto das transformações políticas ocorridas nos governos do Chile, Peru e Venezuela. No final dos anos 60 e início dos anos 80, a ideologia marxista ganhou maior adesão e aceitação. Nesse contexto, houve um apoio a administrações socialistas, como a do chileno Salvador Allende,[5] que propunham modelos alternativos de estado. No entanto, esse período foi interrompido por uma virada da esquerda para a extrema direita, que resultou no exílio de arqueólogos e intelectuais com posições sociais. Os "arqueólogos sociais" latino-americanos que se destacaram nessa época (Bate, Lumbreras, Vargas e Sanoja) faziam parte de uma geração ativista que tinha forte vínculo ou influência da ideologia política marxista.[5] Esse ativismo expressava um “compromisso político revolucionário”. Nesse período de insurreição e mobilização social, havia uma forte rejeição aos Estados Unidos e outros países imperialistas por sua interferência na arqueologia latino-americana, o que levou a arqueologia social a se definir como uma "Arqueologia de Protesto".[6]