Assumindo a segunda teoria, Zenão teria permanecido na cidade e entrado para a vida monástica, vivendo como monge até por volta de 362, quando foi eleito sucessor da sé de Verona depois da morte do bispo Grícino (Gricinus ou Cricinus ou Cricino).[1]
Zenão "recebeu uma boa educação clássica" e, como bispo, batizou muitos, converteu outros de volta do arianismo, viveu uma vida de pobreza, treinou padres para a diocese, fundou conventos para mulheres, reformou como se celebrava o banquete do Ágape e proibiu que as missas funerais fossem acompanhadas pelos altos gritos e lamentos dos presentes. Zenão também deixou instruções sobre o batismo de adultos (que ocorria através da imersão completa) e concedeu medalhas aos recém-batizados.[2]
Seu episcopado durou cerca de dez anos e a data de sua morte é geralmente creditada como 12 de abril de 371.[1]
A primeira evidência de sua existência é uma carta escrita por Santo Ambrósio ao bispo Siágrio de Verona na qual ele faz uma referência à santidade de Zenão. Depois, o bispo São Petrônio de Verona (r. 412-429) escreveu sobre as virtudes de Zenão e confirmou a existência de um culto dedicado a São Zenão.[1]
Um poema escrito entre 781 e 810, chamado "Versus de Verona", uma elegia da cidade em verso, afirma que Zenão foi o oitavo bispo de Verona.[1]
Obras
O estilo dos cerca de noventa Sermões (Sermones) atribuídos a Zenão também tem sido considerados como evidências de suas origens africanas por causa do estilo, uma vez que escritores africanos da época frequentemente se valiam de neologismos e jogos de palavras.[1] A maior parte destes sermões são exegeses do Antigo Testamento e "apresentam definitivamente um elemento antissemita".[3]
Devoção
A festa litúrgica de Zenão é celebrada em 12 de abril, mas a diocese de Verona também o celebra em 21 de maio, o dia que suas relíquias foram levadas para lá, em 21 de maio de 807.[1]
Segundo a tradição, Zenão construiu a primeira basílica de Verona, situada no local onde hoje está a catedral. A igreja de São Zenão data do início do século IX e foi doada por Carlos Magno e seu filho, Pepino, rei da Itália. Ela foi consagrada em 8 de dezembro de 806 e dois eremitas locais, Benigno e Caro, receberam a missão de transladar as relíquias de Zenão para a nova cripta de mármore. O rei Pepino estava presente assim como os bispos de Cremona e Salzburgo, além de uma enorme multidão.[1]
A igreja foi danificada no início do século X pelos magiares, mas as relíquias não foram tocadas. A basílica foi reconstruída, muito aumentada e mais robusta em seguida, uma obra financiada por Otão I, e re-consagrada em 967 numa cerimônia presidida pelo bispo Ratério de Verona.[1]
A atual Basílica de São Zenão é uma obra dos séculos XII, XIII e XV principalmente. Ela é bastante conhecida por suas portas de bronze (c. 1100 – ca. 1200), pelas esculturas da fachada assinadas por Nicolau e um sócio, Guilherme, e pela rosácea (ca. 1200), obra de Brioloto.
Lendas e iconografia
Mais de trinta igrejas ou capelas foram dedicadas a São Zenão, incluindo a Catedral de Pistoia.
Conta uma lenda sobre São Zenão que ele teria sido sequestrado ao nascer e substituído por uma criança trocada demoníaca. Uma história relata que Zenão estava um dia pescando às margens do rio Adige para conseguir alimento (e não se divertir) e viu um camponês atravessando o rio numa carroça puxada por cavalos. Os animais começaram a ficar irritados e Zenão, acreditando ser isto uma obra do diabo, fez o sinal da cruz e os cavalos se acalmaram.[1] São comuns as histórias de Zenão lutando contra o diabo e ele é, por vezes, representado pisoteando um demônio.[1] Outra história relata que ele exorcizou um demônio do corpo da filha do imperador Galiano (embora Zenão provavelmente sequer estivesse vivo durante o reinado dele). O imperador, agradecido, permitiu que Zenão e outros cristãos praticassem sua fé livremente por todo o império.[1]
São Gregório Magno, no final do século VI, relata um milagre associado à divina intercessão de Zenão.[1] Em 588, o Adige transbordou e inundou Verona. A enchente alcançou a Igreja dedicada a São Zenão, mas, milagrosamente, a água não entrou no edifício mesmo estando as portas abertas. A igreja foi doada a Teodelinda, que supostamente testemunhou o milagre, e esposa do rei dos lombardosAutário.[1]
Zenão é geralmente representado com itens relacionados à pesca, como peixes e varas de pescar e é o padroeiro dos pescadores. "A tradição local afirma que o bispo gostava de pescar no vizinho Adige", escreve Alban Butler, "mas é mais provável que originalmente fosse um símbolo de seu sucesso em trazer pessoas para o batismo"[3]