Começou sua carreira nas rodas de samba dos bairros de Irajá e Del Castilho, subúrbio do Rio de Janeiro. Tornou-se tão popular que seus shows chegam a ser contratados por cachês generosos, sendo realizados nas mais badaladas casas de espetáculo do país e até mesmo do exterior.[1] Sempre fiel a suas características de irreverência e jocosidade, Zeca recebe também reconhecimento da crítica e de artistas e compositores consagrados. Nei Lopes afirma que o sambista "é uma das poucas unanimidades nacionais, elevado ao patamar do mega-estrelato pop pelas gravadoras".[2]
Biografia
Filho de Irinéia e Jessé, Zeca nasceu no Irajá, onde desde pequeno passou a frequentar rodas de samba por influência de sua família. Durante a juventude, foi office-boy e apontador de jogo do bicho.[3] Morou em diversos bairros do Rio, mas sempre demonstrou apreço especial por Xerém (distrito do município de Duque de Caxias), onde possui um sítio (no qual foram gravados os DVDs da série O Quintal do Pagodinho) e uma escola de música para crianças carentes da região. Sua primeira gravação foi em 1983, com o sambaCamarão que dorme a onda leva, de sua autoria, Arlindo Cruz e Beto sem Braço, a partir do convite de sua madrinha no samba, Beth Carvalho.
Dois anos depois, figurou entre os nomes escolhidos pelo produtor musical Milton Manhães, da gravadora RGE, para participar do álbum colaborativo Raça Brasileira, junto de Elaine Machado, Jovelina Pérola Negra, Mauro Diniz e Pedrinho da Flor[4]. O disco, que revelou toda uma geração de sambistas, contava com uma cinco de composições de Zeca: Leilão (parceria com Beto Sem Braço), Mal de Amor (com Beto Sem Braço e Mauro Diniz), Santa Paciência, Garrafeiro (ambas com Diniz), A Vaca (com Ratinho) e o sucesso Bagaço da Laranja (com Arlindo Cruz e Jovelina Pérola Negra)[5]. A parceria com a RGE perduraria ainda por alguns anos, sendo a gravadora responsável pelos lançamentos subsequentes do artista até 1988.
Em 1986 lançou seu primeiro álbum solo, com participações especiais dos cantores Deni e Ana Clara. O sucesso do disco foi tamanho que a música Judia de Mim foi incluída na trilha sonora da novelaHipertensão. Esta seria apenas a primeira gravação de Zeca a ser veiculada em uma telenovela; ele ainda seria o intérprete das canções de abertura de O Cravo e a Rosa (com Jura, de Sinhô)[6] e Bom Sucesso (com O Sol Nascerá, de Cartola e Elton Medeiros, em dueto com Teresa Cristina).[7]
A partir do disco de estreia, engatou uma carreira fonográfica que hoje chega a quatro décadas, com álbuns como Patota de Cosme (1987), Samba Pras Moças (1995), Água da Minha Sede (2000) e Mais Feliz (2019), construindo uma imagem pública de malandro boêmio e romântico através de sucessos como Quintal do Céu, Maneiras, Fita Amarela e Uma Prova de Amor. Tendo se tornado uma figura pública conhecida e extremamente popular, foi garoto propaganda das cervejas Nova Schin (em 2003) e, posteriormente, Brahma (a partir de 2004)[8], marca com a qual sua imagem é associada até os dias atuais.
Em 2003, no auge de sua carreira, foi o segundo artista de samba a gravar um especial de TV, CD e DVD pela MTV Brasil (tradicional reduto do rock e do pop). Antes disso, apenas o grupo Art Popular havia recebido o convite para gravar um especial, em 2000. Contendo versões ao vivo de alguns de seus maiores sucessos, o Acústico MTV Zeca Pagodinho, gravado no Rio, tornou-se um de seus discos mais vendidos, rendendo inclusive uma segunda edição em 2006 (sendo o primeiro Acústico a ganhar uma continuação na história da MTV Brasil). O segundo disco, batizado de Acústico MTV Zeca Pagodinho 2 - Gafieira, homenageou o samba de gafieira através de um seleto repertório (que compreende composições de Geraldo Pereira, Noel Rosa, Cartola e Billy Blanco), embalado pelos arranjos do maestro Rildo Hora.
Em 2013, comemorou 30 anos de carreira com um show especial para o canal televisivo Multishow, lançado em disco como Multishow Ao Vivo: 30 Anos - Vida Que Segue. O repertório homenageava uma série de importantes compositores da história do samba, como João da Baiana, Sinhô, Zé Kéti, Adoniran Barbosa, Martinho da Vila, João Nogueira e Paulinho da Viola[9].
Em 27 de janeiro de 2024, Zeca se apresentou no reality showBig Brother Brasil 24[13], junto de Pretinho da Serrinha.[14] O ano foi marcado pelas celebrações de seus 40 anos de carreira e 65 de vida, pontuadas por uma apresentação repleta de convidados realizada no Engenhão (estádio do Botafogo, seu time do coração) no dia 4 de fevereiro, data de seu aniversário.[15] As comemorações foram coroadas com o lançamento do disco Zeca Pagodinho - 40 Anos (Ao Vivo)[16].
Atualmente, Zeca reside na Barra da Tijuca com a mulher, Mônica Silva, e seus quatro filhos: Eduardo, Louis, Elisa e Maria Eduarda.
Em 2024, Zeca recebeu da Alerj o título de Cidadão Benemérito do Estado do Rio de Janeiro.[17]
Características musicais
Estilo musical
Zeca Pagodinho é considerado por especialistas e estudiosos da história do samba como um dos mais prodigiosos versadores de partido-alto da sua geração, dada sua intensa participação em rodas de samba do bloco Cacique de Ramos no início de sua carreira. Como vocalista, embora o próprio não se considere "um cantor",[19] Pagodinho é reverenciado no universo do samba como um talentoso intérprete que consegue perpassar com fidelidade a emoção e o sentido das canções que interpreta, sempre aliando o lirismo ao estilo jocoso e desregrado.[19] Ao longo de sua carreira, é notável sua evolução de simples compositor de sambas para um intérprete de outros compositores de gerações mais novas e também de gerações passadas, sendo que o próprio artista costuma citar "falta de espaço" em seus álbuns para inclusão de composições próprias.[20] Ao longo de seu extenso repertório, Zeca regravou diversas canções anteriores ao seu sucesso de compositores que considera suas referências, como Monarco e Noel Rosa.[20]
Além de exportar a imagem do samba a novas gerações, Pagodinho também demonstra grande versatilidade ao engajar-se em projetos artísticos que variam do samba de raiz, aliando-se frequentemente a artistas de múltiplas vertentes musicais.[21][22] Em 1999, por exemplo, o sambista gravou uma aclamada versão de "Com Que Roupa" - clássico de Noel Rosa - em dueto com Caetano Veloso. Em 2014, gravou a canção "Sem Compromisso" (composta por Geraldo Pereira) num projeto musical em homenagem a Chico Buarque, com quem já havia realizado diversas regravações na década de 1990.[23]
Vida pessoal
Religião
“Eu tenho um santo Padroeiro, poderoso Que é meu pai Ogum Eu tenho...”
— Zeca Pagodinho em versos de "Minha Fé", composta por Murilão da Boca do Mato.
Zeca Pagodinho define-se como uma pessoa religiosa. Já afirmou publicamente que sua religião é espírita[24] e que foi criado frequentando terreiros de Umbanda.[25] Neto de uma rezadeira e criado numa família católica romana, Pagodinho frequentemente cita sua crença pessoal como um sincretismo entre a Umbanda e o Catolicismo.[26][27] O cantor tem tatuada em seu peito esquerdo uma imagem de São Cosme e Damião,[27] devoção que já foi retratada por Pagodinho em composições como Falange do Erê e Patota de Cosme. Também é devoto de São Jorge, santo católico sincretizado com Ogum, na Umbanda, realizando festas anuais em sua residência em homenagem ao orixá.[27][28][29] No álbum Uma Prova de Amor (2008), Pagodinho emplacou a canção Ogum (composta por Marquinho PQD e Claudemir) que retrata o sincretismo entre as duas religiões, sendo esta uma das músicas mais populares nos anos recentes de sua carreira.
Família
Apesar da imagem constantemente endossada de uma figura boêmia e desregrada,[30] Pagodinho contrasta expondo publicamente momentos de intensa vida familiar em suas redes sociais oficias.[31][32] Pagodinho casou-se em 1986 com Mônica Silva, com quem teve quatro filhos: Louis, Eduardo, Elisa e Maria Eduarda.[33][34] Pagodinho é ainda avô de Noah (nascido em 2010 e a quem o cantor dedicou a canção Orgulho do Vovô em parceria com Arlindo Cruz) e Catarina (nascida em 2019).[31] Em 2015, Pagodinho perdeu seu filho mais velho, Elias Gabriel, fruto de um relacionamento anterior ao seu casamento atual. Na ocasião, o cantor e seus filhos lamentaram a morte precoce de Elias.
Outros membros de sua família que seguiram carreira musical são sua irmã Ircéa Pagodinho, que lançou até então apenas o álbum de estúdio Feito Diadema em 1987; e seu sobrinho Juninho Thybau que segue os passos do tio como compositor de samba de raiz e considerado um dos mais principais versadores de partido alto de sua geração.
↑Bündchen, Gisele; Phelps, Michael; Dench, Judi; Montenegro, Fernanda (5 de agosto de 2016), Rio 2016 Olympic Games Opening Ceremony, Filmmaster Group, Olympic Broadcasting Services (OBS), Rede Globo de Televisão, consultado em 2 de fevereiro de 2021