Nascido em uma família modesta, e preparado desde a infância para a vida cenobita, Yves d’Évreux adquiriu em pouco tempo uma reputação excepcional e méritos entre o clero. Mas, menos brilhante ainda que sólida pelas qualidades de seu espírito, ele é lembrado, sobretudo pela ação das circunstâncias decisivas ou arriscadas. Uma ocasião, o provinciano de Tordre lhe escolheu junto a três outros monges para ir evangelizar os índios do Brasil. Algum tempo depois, todos os quatro estavam em Cancale, onde o almirante François de Razilly, um corajoso marinheiro, se preparava para ir à América do Sul. O tenente-general do rei, Daniel de La Touche, senhor da Ravardière, o inspirador deste empreendimento, tinha obtido efetivamente de Henrique IV, por volta de 1605, as cartas patentes a este objetivo. Os banqueiros colocaram-se a favor da reunião dos fundos necessários. Quanto ao apoio moral, ele residia inteiramente dentro do coração destes religiosos.
Partindo de Cancale em março de 1612, a flotilha do almirante Razilly foi quase imediatamente afundada por uma violenta tempestade, que separou seus três navios. Eles se reuniram próximo à costa da Inglaterra, mas, devido a obstáculos no caminho com todas espécies de acidentes, eles não puderam chegar ao destino, o Maranhão, antes de cinco meses depois de partirem. Era um domingo, o dia da festa de Santa Ana, coincidentemente a mãe do almirante tinha este mesmo nome como se fosse um presságio favorável. Antes de descerem a terra, a primeira preocupação foi, segundo o hábito, de plantar uma cruz em sinal de possessão de terra em nome de Deus e da França. Toda tripulação assistiu, cheia de fé a cerimônia. Os cantos encheram o ar, assim como os tiros de salvas de mosqueteiros. Depois de duros sofrimentos de uma longa e penosa navegação, a felicidade transbordava. Hoje em dia, neste mesmo lugar onde o padre Yves, confiante no futuro, cantava em 1612 o Te Deum de ação de graças, se encontra a cidade de São Luís do Maranhão, cuja origem remonta a esta época.
Em terras maranhenses
Atraídos pelo barulho e deslumbrados pelos ornamentos religiosos, uns trinta índios Tapinambos, seguiam de longe acompanhando tudo o que se passava. No Brasil, a idade da pedra não tinha passado até a chegada dos europeus. Assentados a alguma distância do mar, dentro da mata, os Tapinambás formaram povoados precários com aglomerações de cabanas mal terminadas, feitas de barro e recobertas de folhas de palmeiras. A autoridade militar precipitou-se em construir um forte e barricadas em geral para assegurar a segurança e o desenvolvimento da colônia pelo fato dos franceses temerem um ataque por parte dos portugueses, já estabelecidos no Brasil, e cuja presença não estava longe dali. Um convento e uma capela foram, em uma costa, construídos pela necessidade ao culto e instrução dos neófitos. Os trabalhos caminharam rapidamente sob a vigilância dos comandantes ou dos mais antigos membros de cada vila.
Uma vez na colônia francesa, o general Daniel de la Touche (ou La Ravardière) julgou oportuno colocar em prática a execução do projeto que ele tinha formado, em uma viagem anterior, de subir novamente o rio Amazonas, cujo longo curso tinha apenas sido pouco visitado pelos indígenas e salvo por alguns navegadores intrépidos, tais como Alphonse le Saintongeois e Jean Mocquet, um médico de Henrique IV. Em 8 de julho de 1613, La Ravardière deixa São Luis do Maranhão ao barulho dos canhões do forte, levando consigo quarenta soldados, dez marujos, e, por prudência e em vista de eventualidades possíveis, vinte indígenas escolhidos com a permissão dos governantes da província. Entretanto, certo que ele se colocaria ligeiramente sobre as bordas do Amazônia às explorações que poderiam ser úteis à França, os padres acreditaram devê-lo prevenir de diversos acontecimentos surgidos na província que os tinha dado a inquietude e assim La Ravardière voltou sobre seus passos. De volta a São Luis, La Ravardière não fica inativo, aumenta os meios de defesa francesa e os números de canhões em posição sobre as muralhas.
A despeito destas precauções, os vagos rumores de guerra existiram sempre e dois anos tinha quase nada transcorrido durante o qual a colônia francesa estava estabilizada no Maranhão, mas longe de se consolidar, apesar da coragem e da atividade desdobrada, abandonada à própria sorte, arruinou os primeiros meses do ano de 1614. Cercado pela miséria, Yves d’Évreux, cheio de problemas e cedendo, ao fim de tantas provas, aos cansados de seu apostolado, tinha sido coagido para deixar a missão. Um outro religioso, um grande senhor, o padre Archange de Pembrokel, chega da França e dirige-se a este lugar. Entretanto os portugueses, sob o instinto do governador do Brasil, Jerônimo de Albuquerque, ganharam pouco a pouco o terreno, e um choque, sempre iminente, entre suas tropas e as tropas francesas não poderia mais ser evitada. No mês de novembro, La Ravardière, sitiou São Luis com sua guarnição composta de duas centenas de franceses e mil e quinhentos Tapinambás, logo foi reduzido aos últimos extremos na luta. Em 19 de novembro, uma saída heróica foi a propósito disso bem sucedida, quando um movimento mal executado e a morte do tenente de Pézieux a comprometeu. Foi necessário ceder ao maior número inimigo.
A obra
Depois de seu retorno a França, com a memória rica de fatos, de lembranças, o espírito livre e o corpo desembaraçado de seus sofrimentos, Yves d’Évreux não tinha mais que outro pensamento do que aquele de escrever a história de sua estada no meio dos indígenas do Maranhão ao lado daqueles que ele tinha deixado, como pastor espiritual, uma parte de seu coração. Encorajado e sustentado por alguns amigos, ele começou o quanto antes esta narrativa, compreendeu como uma sequência à história da missão de padres Capuchinhos na ilha do “Maragnan” de Claude d'Abbeville (1614), e em menos de um ano, sem cansaço nem insatisfação, e com um talento de escrita que, a ponto de vista da forma e da cor, é digno dos mais vivos elogios. Nada de mais instrutivo nem de mais pitoresco que a obra do reverendo capuchinho sobre este lugar e naquele tempo no desconhecido mundo. Cheio de interesses, suas descrições em geografia e em história natural deram, como estilo, um charme particular que lembram os velhos mestres. Se isto não é um erudito, um naturalista, isto é um observador sagaz que viu e bem viu o que escreveu.
Entretanto, a indiferença destas qualidades, o manuscrito do padre Yves foi muito pouco impresso, todos os exemplares foram destruídos, por ordem, a exceção de um só, salvo felizmente por milagre pelo almirante de Razilly. Como explicar as medidas deste rigor que se opuseram à publicação de seu livro? Luís XIII tinha acabado de se casar com a infante da Espanha, Ana da Áustria. Os cortesões, certamente bem atenciosos, pretendiam, pode ser sem o conhecer, que a narrativa, mesmo se prudente, se moderada, ser suscetível em certas passagens de contrariar a corte da Espanha, pois Filipe II dependia, durante 1580 de Portugal. Este acidente injusto, que deve ter afetado dolorosamente o pobre monge, explica largamente porque sua narrativa por muito tempo foi completamente ignorada até sua publicação em 1864 seguindo o exemplar único conservado na Biblioteca nacional.
Ferdinand Denis, Vieux Voyageurs français. Ives d’Évreux, 1798-1890, Paris, H. Fournier, 1835
Svitte de l'histoire des choses plvs memorables aduenuës en Maragan, és annees 1613. & 1614, Paris, F. Huby, 1615 – (Br: "Continuação da história das coisas mais memoráveis acontecidas no Maranhão nos anos 1613 e 1614")
Edição moderna: Voyage au nord du Brésil fait en 1613 et 1614, Éd. Hélène Clastres, Paris, Payot, 1985 ISBN 9782228137300
René Semelaigne, Yves d’Évreux ou Essai de colonisation au Brésil chez les Tapinambos de 1612 à 1614, Paris, Librairie des bibliophiles, 1887