Em álgebra linear, uma transformação linear é um tipo particular de função entre dois espaços vetoriais que preserva as operações de adição vetorial e multiplicação por escalar. Uma transformação linear também pode ser chamada de aplicação linear ou mapa linear. No caso em que o domínio e o contradomínio coincidem, é usada a expressão operador linear. Na linguagem da álgebra abstrata, uma transformação linear é um homomorfismo de espaços vetoriais.
se for o espaço das funções deriváveis de em , e se for o espaço de todas as funções de em , então a derivação (isto é, a função de em que envia cada função na sua derivada) é linear.
Em contrapartida, se , então a função de em definida por não é uma transformação linear.
Se for uma função de um espaço vetorial num espaço vetorial então afirmar que é linear equivale a afirmar que preserva combinações lineares de pares de vetores, isto é, para quaisquer dois vetores ∈ e dois escalares ∈
As funções lineares são funções cujo gráfico é uma recta que atravessa a origem do plano cartesiano, isto é, em que b=0.
Definição
Chama-se função linear à função definida por uma equação da forma em que é um número real.
é a variável dependente e a variável independente;
é o coeficiente angular.
Nota: geralmente os economistas chamam a qualquer reta da forma uma função linear. No entanto, o conceito puro matemático, requer que a ordenada na origem seja zero para que a função seja considerada linear. Quando é diferente de zero, passa-se a chamar de função afim.
A definição mais geral de função linear é feita no contexto da álgebra linear, e depende do conceito de espaço vetorial.
Sejam espaços vetoriais. Uma função é uma função linear se ela satisfaz os seguintes axiomas:
Note-se que, quando não existe possibilidade de confusão, escreve-se + e . para as somas de vetores e produto de escalar por vetor, e os axiomas ficam:
Núcleo
O núcleo de uma transformação linear de em denotado por é o conjunto em que é o vetor nulo de
Exemplo: O núcleo da função de em definida por é:
O conjunto é um subespaço vetorial de V, pois se ∈ e se ∈ então ou seja, ∈
Se uma aplicação linear de em for injectiva, então pois e, portanto, pela injectividade de o único vector ∈ tal que é Reciprocamente, se então é injectiva, pois, dados ∈
Imagem
Sejam e espaços vetoriais sobre um corpo A imagem de uma transformação linear de em é o conjunto:
Sejam dois elementos da imagem de e sejam Então, como estão na imagem de há vectores tais que e que pelo que:
Logo, é um subespaço vetorial de
Dimensão da imagem e do núcleo
Sejam e espaços vetoriais sobre um corpo sendo de dimensão finita, e seja uma transformação linear de em Então
Vai ser visto como se pode demonstrar esse facto. Seja e seja … uma base de Como é um subespaço de pode-se completar essa base até obtermos uma base de Sejam então … ∈ tais que … … seja uma base de em particular, Vai-se provar que … é uma base de Im de onde resultará que
Se ∈ Im então para algum ∈ e pode ser escrito sob a forma
pelo que
visto que ∈ Isto prova que gera Por outro lado, os vetores são linearmente independentes, pois se ∈ forem tais que
então
de onde resulta que é uma combinação linear dos vetores o que é só é possível se pois o conjunto é uma base e, portanto, linearmente independente.
Este teorema também pode ser estendido para dimensões infinitas, mas, neste caso, sua demonstração e até o enunciado dependem do axioma da escolha.
Tipos especiais
Denomina-se isomorfismo uma transformação linear que seja bijetiva.
Denomina-se endomorfismo ou operador linear uma transformação linear de um espaço vetorial «nele mesmo», ou seja, uma transformação que tenha domínio igual ao contradomínio.
Se for um endomorfismo de um espaço vetorial de dimensão finita, então são condições[3] equivalentes:
é injetivo;
é sobrejetivo;
é bijetivo.
É claro que a terceira condição implica as outras duas. Se for sobrejetivo, então
pelo que e, portanto, pelo que é injetivo. Por outro lado, se for injetivo, então
pelo que e, portanto, ou seja, é sobrejetivo.
Exemplos de matrizes de transformações lineares
Alguns casos especiais de transformações lineares[4] do espaço R2 são bastante elucidativas:
Sejam e espaços vetoriais sobre o corpo Seja definido como o conjunto de todas transformações lineares de em Como funções, para quaisquer operadores e e qualquer escalar podemos definir e por:
É imediato provar que e também são transformações lineares de em e que com a soma de transformações e a multiplicação de um escalar por uma transformação forma um espaço vetorial sobre
Pelo fato de que, dadas bases de e temos uma representação de cada transformação linear através de uma matriz de dimensão × concluímos que a dimensão de é (no caso de dimensão infinita, algum cuidado deve ser tomado nesta demonstração).
Espaço dos operadores lineares
Um caso particular importante é o espaço das transformações lineares de um espaço vectorial nele mesmo (operadores lineares).
Como a composição de operadores lineares é um operador linear, este espaço tem uma estrutura de álgebra, em que a composição de funções faz o papel do produto de operadores.
Assim, dado um operador linear podem-se definir as potências ou, de modo geral, Portanto, se é um polinômio com coeficientes no corpo de escalares, faz sentido definir
em que é o operador identidade em
Verificam-se facilmente as seguintes propriedades:
Se e são polinômios, então e
Se o espaço tem dimensão finita então também tem dimensão finita Portanto, o conjunto de operadores é linearmente dependente. Logo, existem escalares não todos nulos, tais que Ou seja, existe um polinômio não-nulo tal que .
Se existe um polinômio não-nulo tal que , então o conjunto não-vazio dos polinômio tais que forma um ideal no anel de todos polinômios com coeficientes no corpo. Portanto, existe um único polinômio mônico tal que . Este polinômio é chamado de polinômio mínimo de
↑Lima, Elon Lages (2016). Álgebra Linear. Col: Coleção matemática universitária 9ª ed. Rio de Janeiro: IMPA. pp. 357 p. ISBN9788524404207
↑«Transformações lineares e exemplos». REAMAT, Recursos Educacionais Abertos de Matemática. Instituto de Matemática e Estatística da Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Consultado em 20 de julho de 2018
↑«Transformações injetoras, sobrejetoras e invertíveis». REAMAT, Recursos Educacionais Abertos de Matemática e Estatística. Instituto de Matemática e Estatística da Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Consultado em 20 de julho de 2018
↑«Matriz de uma transformação linear». REAMAT, Recursos Educacionais Abertos de Matemática. Instituto de Matemática e Estatística da Universidade do Rio Grande do Sul. Consultado em 20 de julho de 2018