Foi convertido e batizado pelos jesuítasJosé de Anchieta e Leonardo Nunes. Seu nome de batismo cristão foi Martim Afonso, em homenagem ao fundador da vila de São Vicente, Martim Afonso de Sousa, passando a se chamar, então, Martim Afonso Tibiriçá.[2] Era chefe de uma parte da nação indígena estabelecida nos campos de Piratininga, com sede na aldeia de Inhampuambuçu. Era irmão de Piquerobi e de Caiubi, índios que também se destacaram durante a colonização portuguesa do Brasil: o primeiro, como inimigo dos portugueses; e o segundo, como grande colaborador dos jesuítas. Teve muitos filhos. Com a índia Potira, teve Ítalo, Ará, Pirijá, Aratá, Toruí, Bartira e Maria da Grã.
Bartira viria a desposar João Ramalho, aliado de Tibiriçá e a pedido de quem defendeu os portugueses quando estes chegaram a São Vicente. Apesar de ter sido a mais "famosa", Bartira não foi a única filha de Tibiriçá a se casar com portugueses naquele contexto. Tudo indica que o cacique foi muito hábil em se posicionar no mundo de então através das relações de parentesco de suas filhas. Teberê, outra de suas filhas, cujo nome cristão era Maria da Graça, se casou com Pedro Dias, um irmão jesuíta que veio ao Brasil devido à fundação do Colégio de São Paulo. Tibiriçá também casou Beatriz, que não está claro se era sua filha ou neta, com o português Lopo Dias.[3]
Em 1554, acompanhou Manuel da Nóbrega e José de Anchieta na obra da fundação de São Paulo e estabeleceu-se no local onde hoje se encontra o Mosteiro de São Bento, espalhando seus índios pelas imediações. A atual rua de São Bento era, por esse motivo, chamada, primitivamente, Martim Afonso (nome em que fora batizado o cacique). Graças à sua influência, os jesuítas puderam agrupar as primeiras cabanas de neófitos nas proximidades do colégio. Tibiriçá deu, aos jesuítas, a maior prova de fidelidade a 9 de julho de 1562 (e não 10 como habitualmente se escreve), quando, levantando a bandeira e uma espada de pau pintada e enfeitada de diversas cores, repeliu, com bravura, o ataque à vila de São Paulo efetuado pelos índios tupis, guaianás e carijós chefiados por seu sobrinho (filho de Piquerobi) Jaguaranho, no ataque conhecido como o Cerco de Piratininga. Durante o combate, Tibiriçá matou seu irmão Piquerobi e seu sobrinho Jaguaranho.[4]
Tibiriçá morreu em 25 de dezembro de 1562, como atesta José de Anchieta em sua carta enviada ao padre Diogo Laínes,[5] devido a uma peste que assolou a aldeia.
Descendência
Seus descendentes deram origem às principais famílias da elite colonial de São Paulo.[3] Dentre elas destaca-se sua Susana Dias, que fundou, em 1580, uma fazenda à beira do Rio Tietê, a oeste da cidade de São Paulo, próximo à cachoeira denominada pelos indígenas de "Parnaíba": hoje, é a cidade de Santana de Parnaíba.
Marquesa Ferreira, uma importante aristocrata indígena do Rio de Janeiro quinhentista, é bisneta de Tibiriçá, por parte de sua filha, Bartira, casada com João Ramalho.[7]
Tibiriçá é lembrado em vários momentos da história de São Paulo e do Brasil como um dos principais viabilizadores da construção da sociedade colonial no planalto. Há um projeto de lei tramitando para a inscrição do seu nome no Livro dos Heróis e Heroínas da Pátria, localizado no Panteão da Pátria e da Liberdade Tancredo Neves.[9] Uma peça identificada como sendo o seu tacape está em exposição no Museu Histórico Nacional.[10]
Seus restos mortais encontram-se na cripta da Catedral da Sé desde 1930, quando foram transladados da igreja Imaculado Coração de Maria, localizada no bairro de Santa Cecília.[11]
↑TOLEDO, Roberto Pompeu de. A Capital da Solidão: Uma História de São Paulo das origens a 1900. 1ª ed., Rio de Janeiro: Objetiva, 2003, pág. 104.
↑ abGODOY, Silvana Alves de. Mestiçagem, guerras de conquista e governo dos índios: a vila de São Paulo na construção da monarquia portuguesa na América (séculos XVI e XVII). Tese apresentada ao PPGHIS do Departamento de História da UFRJ, Rio de Janeiro, 2016.
↑BUENO, E. Capitães do Brasil: a saga dos primeiros colonizadores. Rio de Janeiro. Objetiva. 1999. p. 61.
↑ANCHIETA, José de. Minhas Cartas. São Paulo: Editora Melhoramentos, pág. 96.
↑ZAMORANO, Rafael. "A autoridade do especialista e do nome próprio na fundação do 'passado colonial' no Museu Histórico Nacional". In: DAHER, Andrea (org.). Passado presente: usos contemporâneos do “passado colonial” brasileiro. Rio de Janeiro: Gramma, 2017.