The Misfits (bra: Os Desajustados; prt: Os Inadaptados) é um filme de drama estadunidense, lançado em 1961, dirigido por John Huston e escrito por Arthur Miller, que adaptou seu próprio conto de 1957. O elenco principal conta com Clark Gable, Marilyn Monroe e Montgomery Clift, ao lado de Thelma Ritter e Eli Wallach.[3] O filme foi o último trabalho concluído por Gable (que faleceu três meses antes da estreia) e Monroe (que morreu um ano após o lançamento).[4] Lançado pela United Artists em 1º de fevereiro de 1961, foi um fracasso comercial, mas recebeu aclamação da crítica por seu roteiro e pelas atuações. Com o passar dos anos, sua reputação cresceu, e muitos críticos o consideram uma obra-prima, sendo também apontado como um dos melhores filmes da década de 1960.[5][6] O título do filme inspirou o nome da banda de punk Misfits, formada em 1977.[7]
Sinopse
A história inicia em Reno, Nevada quando as amigas Roslyn Taber e Isabelle Steers encontram num bar os cowboys de meia-idade Gay Langland e Guido. Roslyn é recém-divorciada e está deprimida, mas acaba atraída por Gay e vai morar com ele numa casa afastada, de propriedade de Guido. Este fica amigo de Isabelle. Os dois casais vão para um rodeio, onde Gay encontra o seu amigo peão Perce Howland, que está completamente sem dinheiro. Guido conta à Gay que ao sobrevoar a região selvagem com seu aeroplano, ele avistara cerca de quinze cavalos selvagens Mustang. Gay se entusiasma e convida Perce para ir com ele e Guido caçarem os cavalos. Roslyn vai junto com os cowboys, mas se desespera quando lhe contam que os cavalos capturados serão vendidos para abatedouros para servirem de alimento para cães.
A produção de The Misfits enfrentou vários desafios, sendo um dos maiores o calor intenso do deserto do norte de Nevada, com temperaturas que atingiam 38 °C.[8] Além disso, o fim do casamento de Marilyn Monroe com o escritor Arthur Miller também trouxe dificuldades. Durante as filmagens, Miller fez revisões constantes no roteiro, à medida que os conceitos do filme evoluíam.[9]
Enquanto seu casamento com Miller passava por uma crise, Monroe começou a fazer uso excessivo de álcool e medicamentos prescritos. Em uma entrevista retrospectiva de 1981, Huston afirmou que estava "absolutamente certo de que ela estava condenada", uma conclusão que ele chegou enquanto trabalhava no filme.[10] "Havia sinais óbvios diante de mim quase todos os dias. Ela não conseguia se recuperar, nem ser ajudada por ninguém. E isso afetava, muitas vezes, o seu desempenho. Tivemos que interromper as filmagens quando ela foi internada por duas semanas", contou Huston.[10] Em agosto de 1960, a produção foi pausada para que Monroe fosse internada para tratamento de depressão e recuperação. Alguns close-ups de Monroe, após sua alta hospitalar, foram filmados com o uso de um foco suave para disfarçar os efeitos da internação.
Monroe frequentemente chegava atrasada ao set — muitas vezes uma hora depois do horário combinado, e, em algumas ocasiões, sequer aparecia. Ela passava as noites decorando as falas recém-escritas com a ajuda de sua treinadora de teatro, Paula Strasberg. Ralph Roberts, confidente e massagista de Monroe, foi escalado para interpretar um atendente de ambulância na cena do rodeio. Apesar dos atrasos frequentes de Monroe, os outros atores e Huston não se queixaram. Eles sabiam que a presença dela era crucial para a conclusão do filme. Gable, em conversa com James Goode, autor de The Making of the Misfits, relembrou: "Antigamente, se um ator se atrasasse, seria demitido na hora".
O veterano ator de filmes B de faroeste, Rex Bell — que foi casado com a atriz Clara Bow — fez sua última aparição no cinema em uma breve participação como um cowboy idoso e divertido. Na época, Bell também era vice-governador de Nevada.
A Magnum Photos enviou vários repórteres para fotografar a produção, entre eles Ernst Haas, Inge Morath e Eve Arnold.[11] Inge Morath, mais tarde, casou-se com Arthur Miller, ex-marido de Monroe, um ano após o lançamento do filme.
As locações incluíram o Washoe County Court House, na Virginia Street, e o Quail Canyon, perto do Pyramid Lake. A cena do bar, em que Monroe joga paddle ball, e as cenas de rodeio foram filmadas em Dayton, Nevada, a leste de Carson City. As filmagens de The Misfits foram concluídas em 4 de novembro de 1960, doze dias antes da morte de Clark Gable. O filme foi lançado em 1º de fevereiro de 1961, coincidindo com o que teria sido o 60º aniversário de Gable.[12] O filme marcou o que seria o último filme completado de Marilyn Monroe, que morreu no ano seguinte.
Em 2018, foi descoberta uma cena de nudez de Marilyn no filme. Na cena Monroe contracena com Clark Gable e deixa cair o lençol que lhe cobria o corpo. O que por si só seria notícia, não fosse este um dos primeiros, se não mesmo o primeiro, registo nu de uma atriz americana na história do cinema caso tivesse entrado no filme. O escritor Charles Casillo entrevistou Curtice Taylor, filho do produtor Frank Taylor, e descobriu que ele guardou a gravação numa gaveta trancada desde a morte do pai em 1999. O diretor do filme, John Huston, recusou incluir a cena de nudez, alegadamente por considerar que "não era necessária para a história". Por outro lado, o produtor Frank Taylor achou o momento tão importante que decidiu guardá-lo.[13]
Recepção
A crítica de Bosley Crowther sobre The Misfits, publicada no New York Times, destaca que, apesar das boas atuações e uma direção dinâmica, o filme falha em oferecer uma conexão emocional sólida e um tema coeso. Crowther descreve os personagens como "vagabundos legais" — indivíduos solitários e excêntricos que vivem em Reno, Nevada, sem grandes ambições ou organização. Eles são agradáveis por um tempo, mas superficiais e inconsequentes, com suas histórias não se aprofundando o suficiente para gerar real envolvimento do público. A trama, escrita por Arthur Miller, é criticada por sua falta de consistência e profundidade. A personagem de Marilyn Monroe, em particular, é vista como vazia e sem substância, o que enfraquece a narrativa. O filme culmina em uma cena de captura de mustangs, onde Monroe questiona a moralidade da ação, mas a reflexão sobre liberdade parece rasa e sem maior impacto. Embora a direção de Huston seja elogiada por sua inventividade, e os atores, como Clark Gable e Eli Wallach, entreguem performances cativantes, o filme não consegue juntar seus elementos de forma satisfatória, resultando em uma obra que, apesar de interessante em partes, não se concretiza como uma experiência cinematográfica completa.[14]
A crítica da Variety aponta que, à primeira vista, o filme parece ser um drama de aventura vibrante e emocionalmente carregado, que se destaca pela abordagem cinematográfica direta e sem truques superficiais. No entanto, sob essa fachada, o filme esconde uma complexidade de conflitos internos, simbolismos e contradições motivacionais que podem confundir o público. Embora o filme apresente cenas fortes e dramáticas, a crítica destaca que o ritmo é irregular, e a estrutura dramática do filme não é totalmente sólida. O desenvolvimento dos personagens, em especial o de Monroe, é inconsistente, com alguns papéis, como o de Thelma Ritter, sendo pouco explorados ou abandonados ao longo da trama. O personagem de Eli Wallach também passa por uma mudança abrupta e um tanto inconsistente. Em resumo, a crítica da Variety reconhece o potencial emocional e simbólico do filme, mas aponta falhas na estrutura e no desenvolvimento dos personagens, o que impede que ele alcance seu pleno impacto narrativo.[15]
Os primeiros resultados de bilheteria foram positivos em Los Angeles, onde o filme arrecadou US$ 215.000 durante sua primeira semana. Em Nova York, apesar de uma nevasca, o filme rendeu US$ 74 mil em ingressos vendidos no Capitol Theatre. No geral, o filme arrecadou US$ 4,1 milhões, de acordo com um artigo da Variety de 8 de agosto de 1962.[17]