O testamento de Afonso II, redigido em 27 de junho de 1214 é o documento mais frequentemente apontado e celebrado como o primeiro texto escrito em português.
Existem porém diversos manuscritos possivelmente mais antigos (a maioria, porém, de datação imprecisa) que já evidenciam muitas das características do que viria a ser considerada a língua românica diferente do latim, como o "Pacto dos irmãos Pais" (ca. 1175)[4][5] e a Notícia do torto (ca. 1214).[1]
Não obstante, o carácter régio do documento e o fato, diferentemente de outros documentos da época, ter uma datação indiscutível e ser indiscutivelmente escrito em uma língua diferente do latim, torna-o, na opinião de alguns autores, um ponto de referência de maior importância para a datação da língua.[2][6] Assim, no ano de 2014, juntamente com o oitavo século do documento, foi também comemorado o aniversário da língua portuguesa,[6] uma celebração envolta em grande controvérsia,[7][8] o que é compreensível quando se considera que ainda era uma variante do galego-português e que só em 1536 com a publicação de Grammatica da lingoagem portuguesa de Fernão de Oliveira o idioma entrou na sua fase madura ou moderna.[9]
Texto
Seguem-se dois excertos do testamento com a grafia modernizada:
Em o nome de Deus.
Eu, rei Dom Afonso, pela graça de Deus, rei de Portugal, sendo são e salvo, temente o dia de minha morte, a saúde de minha alma e a prol de minha mulher, rainha Dona Urraca, e de meus filhos, e de meus vassalos e de todo meu reino, fiz minha manda, por que depois minha morte, minha mulher, e meus filhos, e meu reino, e meus vassalos e todas aquelas cousas que Deus me deu em poder estejam em paz e em folgança.
Primeiramente, mando que meu filho, infante Dom Sancho, que hei da rainha Dona Urraca, haja meu reino inteiramente e em paz.