Selim é uma canção da banda brasileira Raimundos, gravada em seu álbum de estreia homônimo de 1994. Lançada como single contra a vontade da banda, se tornou o primeiro grande sucesso radiofônico do grupo,[1][2] alavancando as vendas do álbum e colocando a banda em evidência.[3][4] Chegou a ter trechos censurados e sua execução suspensa em algumas cidades do Brasil.[5] Uma vinheta da música em versão pagode aparece no álbum Só no Forevis (1999). Foi regravada pela banda Ultraje a Rigor no álbum O Embate do Século: Ultraje a Rigor vs. Raimundos (2012).[6]
Segundo os integrantes, a ideia da música surgiu durante um passeio de carro pela avenida W3 em Brasília. Ao observar mulheres andando de bicicleta no local, Titi, amigo da banda, cantarolou: "Eu queria ser o banquinho da bicicleta". Na sequência, os outros ocupantes completaram os versos de forma espontânea.[9][10][11] O restante da canção foi finalizado por Rodolfo durante um churrasco em 1990.[12] Classificada pela imprensa como um "heavy-sertanejo",[13] apresenta um ritmo dançante com violões, riffs característicos e um interminável solo de guitarra. Os vocais simulam de forma irônica a música brega e cantores românticos.[12][11]
Lançamento e impacto
A música foi gravada pela primeira vez na demo "Forrócore" de 1990, em uma versão levemente diferente.[14] Inicialmente a banda não planejava inclui-la em seu álbum de estreia. A canção era "odiada" pelo grupo devido a sua sonoridade brega e o fato de ser mais longa e mais leve do que as outras músicas do repertório.[12][15] Segundo o baixista Canisso, a canção era sempre a última a ser tocadas nos shows da banda com o intuito de irritar os contratantes.[10] Após muito insistência do produtor Miranda, a banda, contrariada, gravou a canção nas últimas duas horas disponíveis em estúdio, com a participação de Nando Reis na viola.[9][12][16] Também foi produzida uma versão acústica, presente apenas nas versões em CD.
Quando o álbum chegou ás lojas, ainda não havia um consenso sobre qual era de fato a música de trabalho. Nega Jurema já possuía clipe rodando na MTV, enquanto Puteiro em João Pessoa havia sido enviada ás rádios de rock.[13][15] Foi o radialista Tatola quem se interessou por Selim e a incluiu na programação da rádio Transamérica de São Paulo.[17] Em poucos dias a canção se tornou uma das mais requisitadas pelos ouvintes, se espalhando pelas outras filiais da rede de norte a sul do Brasil. Consequentemente foi selecionada pela rival Jovem Pan[12] e se tornou um hit nacional, catapultando a banda ao mainstream brasileiro.[18][19] Posteriormente chegou às seis emissoras de maior audiência do país que na época praticamente só tocavam Axé e dance music.[1][20] As vendas do álbum saltaram rapidamente de 10 para 40 mil cópias, ultrapassando os 30 mil projetados pela gravadora, alcançando meses depois as 100 mil cópias vendidas e a certificação de disco de ouro.[12][15] Os integrantes da banda chegaram a demonstrar certo desconforto em relação ao sucesso de Selim, afirmando que a música não representava a sonoridade real da do grupo e que mesmo possuindo o mesmo linguajar chulo de suas outras músicas, só era executada por causa de sua roupagem popular.[12][21] Apesar disso, reconheceram que esse fato fez com que diversos tipos de público pudessem conhecer o trabalho do grupo.[11]
Censura e incidente em Santo Ângelo
Apesar do sucesso, Selim levantou polêmica na época por causa de sua letra considerada obscena, sendo chamada de "balada pornô-erótica" pela imprensa.[17][9] Pais e educadores afirmavam que o teor da música era "prejudicial à educação dos adolescentes e distorce valores como o amor e o carinho", além de sua letra se tornar objeto de análise entre estudiosos.[9][22][23] As emissoras da rede Transamérica passaram a inserir um bipe nos trechos que continham as palavras ânus e vagina após reclamações de patrocinadores.[9][19]
Em dezembro de 1994, João da Costa Batista Saraiva, juiz da Vara da Infância e Juventude da cidade de Santo Ângelo no Rio Grande do Sul, enviou um comunicado às rádios da cidade solicitando a suspensão das execuções da canção. Ele alegou, entre outras coisas que "O Selim não é cultura, nem arte, influência negativamente os jovens, não ajuda na preservação de valores e provoca estragos nos adolescentes."[5] A proibição acabou tendo o efeito contrário e os pedidos dos ouvintes pela música só aumentaram. Como consequência, a banda foi contratada para tocar na cidade. O juiz tentou embargar o show proibindo a entrada de menores de idade e colocando policiais no entorno do local. Mesmo assim o contratante abriu as portas do local para todos e o show ocorreu normalmente. Este fato é citado na música A Mais Pedida, do álbum Só no Forevis.[10]
Em 2018 uma nova versão de Selim foi lançada como o quinto e último single do álbum Raimundos Acústico (2017). Conta com a participação de Fred Castro, ex-baterista do grupo que fez parte da formação clássica da banda e da gravação original da canção. Essa nova roupagem acústica recebeu também um arranjo de cordas e piano.[24][25]
↑ abcFucuta, Brenda (17 de janeiro de 1995). «Furacão Musical». Jornal do Brasil, Caderno B: 1. Consultado em 14 de setembro de 2020
↑ abcdefgEssinger, Sílvio (14 de outubro de 1994). «Sucesso no banquinho da bicicleta». Tribuna BIS. Jornal da Tribuna (13.634): 21. Consultado em 14 de setembro de 2020
↑Meirelles Costa, Neusa (2004). De amor, cotidiano e outras falas: o discurso da música brasileira e a arqueologia de Foucault. São Paulo: Arte e CIência. pp. 206, 233, 234