Samuel P. Massie (North Little Rock, 3 de julho de 1919 – Laurel, 10 de abril de 2005) foi um químico e professor norte-americano, conhecido por ter sido o primeiro negro a lecionar na Academia Naval dos Estados Unidos.
Trabalhou, como doutorando, durante a Segunda Guerra Mundial, no Projeto Manhattan, com Henry Gilman, no desenvolvimento da bomba atômica.[2]
Vida pessoal
Samuel nasceu em North Little Rock, no Arkansas em 1919. Era filho de dois professores, Samuel Proctor e Earlee Jacko Massie, tendo um irmão mais novo. Recebendo educação formal e se destacando como um ótimo aluno, ele rapidamente terminou o ensino médio e se graduou como segundo da classe na Dunbar High School, em North Little Rock, aos 13 anos. Samuel queria ser químico para buscar uma cura para a asma de seu pai.[2]
Em 1934, a Universidade do Arkansas, em Fayetteville (Arkansas), recusou sua matrícula por Samuel ser negro. Ele então se matriculou na Arkansas AM&N (Agricultural, Mechanical & Normal College of Arkansas), hoje a Universidade do Arkansas em Pine Bluff, onde obteve o bacharelado em química, com habilitação também em matemática, em 1937. Com o apoio de uma bolsa de estudos federal, ele concluiu o mestrado em química pela Fisk University, em Nashville, Tennessee, em 1940. Lecionou por um ano na Arkansas AM&N antes de conseguir ingressar no programa de doutorado em química da Iowa State University.[2]
Discriminação e carreira
A discriminação racial não tornou a vida de Samuel fácil enquanto estava em Iowa. Uma residência que admitisse negros ficava há mais de quatro quilômetros do campus, o que requeria constantes caronas. A ele foi designado um lugar no laboratório, próximo aos "ratos no porão", até que provasse sua competência como químico e pesquisador.[2]
Samuel quase não terminou o doutorado. Ele retornou ao Arkansas para o funeral do pai, em 1943 e para renovar seu certificado de reservista. Segundo sua autobiografia, um membro da comissão de alistamento em Pine Bluff, Samuel tinha muita educação para um homem negro e deveria ser alistado. Samuel, rapidamente, contatou Henry Gilman, químico orgânico, envolvido no Projeto Manhattan, que o designou para trabalhar com ele na equipe que desenvolvia os isótopos de urânio para a bomba atômica.[2]
Em 1946, Samuel obteve seu doutorado em química orgânica pela Universidade de Iowa e assumiu um cargo de professor na Fisk, tendo publicado sete artigos com Henry Gilman no Journal of the American Chemical Society.[2]
Samuel se casou, em 1947, com Gloria Bell Thompkins, que conheceu na Fisk University.[2] Ela se tornou professora de psicologia e o casal teve trÊs filhos. Samuel lecionou na Langston University, em Langston, Oklahoma, de 1947 a 1953 e de novo na Fisk, de 1953 a 1960. Em 1954, ele publicou um artigo intitulado "The Chemistry of Phenothiazine",[3] na Chemical Review, que levou à descoberta e desenvolvimento, por químicos franceses, do anti-psicótico chamado Thorazine.
Samuel trabalhou para a Fundação Nacional da Ciência e na Howard University, Washington DC, no começo dos anos 1960. A Manufacturing Chemists Association reconheceu Samuel Massie como um dos seus melhores professores de química dos Estados Unidos. Foi presidente do North Carolina College, em Durham, por quatro anos,[4] antes de sua indicação como professor, em 1966, na Academia Naval dos Estados Unidos, onde em 1970 ele recebeu um doutorado honorário em direito.[2]
A família se mudou para Annapolis, onde teve dificuldades para conseguir residência devido ao racismo. Na academia também houve discriminação. Muitos alunos nunca tiveram aulas com um negro até a chegada de Samuel Massie.[5]
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Quando cheguei na academia, pela primeira vez na vida desses estudantes, a opinião de um negro era importante para eles.[5]
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A competência de Samuel e sua aulas excelentes logo quebraram a resistência de muitos alunos e ele logo se tornou um dos mais populares professores da instituição. Em 1977, ele foi indicado para a cadeira do departamento de química, posição que manteve até 1981.[6] Em seus anos em Annapolis, muito do trabalho de Samuel esteve voltado para saúde humana no meio militar. Desenvolveu agentes capazes de dispersar gases venenosos a fim de proteger as tropas de seus efeitos letais. Pesquisou drogas para tratar doenças como malária, meningite e herpes. Em 1985, Samuel e seus colegas foram premiados com uma patente para um antibiótico para tratar gonorreia.[5]
Ele também fez contribuições significativas para a ciência ambiental. Conduziu uma série de estudos em componentes químicos comumente usados na indústria naval, como detergentes e supressores de incêndio, tentando descobrir se eram danosos para a vida marinha. Investigou se traços de elementos metálicos tóxicos eram dispersados na água devido à ferrugem e corrosão dos navios.[5]
Aposentadoria e morte
Samuel se aposentou da Academia Naval em 1993. Durante seu tempo na Academia Naval ele trabalhou no comitê de enquadramento funcional e ajudou a estabelece um programa de estudos para alunos negros. Em 1994, o Departamento de Energia dos Estados Unidos criou a cadeira de excelência Dr. Samuel P. Massie, um prêmio de US$ 14,7 milhões para instituições históricas voltadas para negros e latinos voltados para a pesquisa ambiental.[5][2]
Sofrendo de demência, Samuel faleceu em Laurel, Maryland, no Mariner Health Care Center, em 10 de abril de 2005, tendo sido sepultado no St. Anne’s Cemetery, em Annapolis, Maryland.[7]
Bibliografia
- Massie, Samuel Proctor, with Robert C. Hayden. Catalyst: The Autobiography of an American Chemist. Laurel, MD: S. P. Massie, 2001.
- Sallee, Bob. “Backward Glances: Stellar Chemist Is a Legend in His Own Time.” Arkansas Democrat-Gazette. April 7, 1998, p. 4E.
- Thompson, Neal. “The Chemist: An Interview with Samuel P. Massie.” American Legacy 7 (Spring 2001): 49–53.
Referências