Vinde ver a barca nova, que se vai deitar ao mar; Nossa Senhora vai dentro, os anjinhos a remar, São José vai por piloto, Nosso Senhor por general; Arrearam-se as bandeiras, viva o rei de Portugal!
"Barca Bela" (alternativamente, em castelhano, "La galera de Cristo" ou "La galera de la Virgen") é um romance religioso ibérico do século XV.
História
Na sua origem, "Barca Bela" seria uma adaptação "ao divino" de um outro romance profano do renascimento ibérico chamado "Conde Arnaldos"[2] que, por sua vez, deverá ter sido elaborado na primeira metade do século XV.[3]
Durante o período do Estado Novo, a publicação da "Barca Bela" num manual escolar chamado Livro de Leitura da 3.ª Classe "corrompeu" muitas das versões coligidas posteriormente em Portugal.[2]
Letra
O tema da letra do romance é a alegoria da "Barca da Fé"[2]. Numa parte inicial é listada a tripulação da barca caída do Céu: leva Nossa Senhora, São José como piloto, Jesus como general e anjos como remeiros. De seguida, ergue-se uma tempestade que a intervenção divina não permite que danifique a embarcação.[2]
Adaptações
Em Portugal
Em Portugal "Barca bela" existe na cultura popular não só na forma de poesia recitada mas também em adaptações musicais cantadas nas tradicionais Reisadas[2]. Destas destaca-se "Vamos ver a barca nova" originária do Douro Litoral, mais precisamente de Resende e harmonizada pelo compositor português Fernando Lopes-Graça para a sua obra "Três Cantos dos Reis"[5]:
Vamos ver a barca nova que fizeram os pastores, Nossa Senhora vai nela, os anjos são guiadores. Vamos dar a espedida, ela dada vou-me embora, Que se está fazendo tarde para quem tão longe mora. A espedida seja dada, dada seja a espedida, Estes reis que aqui nos deram no céu seja agradecida!
Uma outra composição derivada deste romance é o fado de Manuel Fria "Além vem a barca bela"[6].
Vamos, maninha, vamos, lá na praia passear. Vamos ver a barca nova que do céu caiu no mar! Nossa Senhora está dentro, os anjinhos a remar. Rema, rema, remador, que este barco é do Senhor! …
Na Galiza
Na Galiza os versos são incorporados na tradicional "Chula da Guía":
Nosa Señora da Guía, guía ós homes do mar. Veña ver a barca vela que se vai deitar no mar. Nosa Señora vai dentro, os anxiños a remar. …[7]
↑Braga, Teófilo (1867). Cancioneiro Popular. Colligido da Tradição. Coimbra: Imprensa da Universidade. p. 171. 223 páginasA referência emprega parâmetros obsoletos |Editora= (ajuda)
↑ abcdefgFontes, Manuel de Costa (2000). «6». Gil Vicente's Remando Vão Remadores and Barca Bela (em inglês) 1 ed. Nova Iorque: State University of New York. p. 93
↑Durán, Agustín (1877). Romancero general. ó Coleccion de romances castellanos anteriores al siglo XVIII (em espanhol) 1 ed. Madrid: M. Rivadeneyra. p. 153. 598 páginas