Um rio de águas claras é classificado com base em sua química, sedimentos e cor da água. Os rios de águas claras têm baixa condutividade elétrica, níveis relativamente baixos de sólidos dissolvidos, normalmente têm um pH neutro a levemente ácido e são muito claros com uma cor esverdeada.[2][3][4] Os rios de águas claras geralmente têm seções de fluxo rápido.[3]
Os principais rios de águas claras são sul-americanos e nascem no Planalto Brasileiro ou no Escudo das Guianas.[4][5][6] Fora da América do Sul, a classificação não é comumente usada, mas rios com características de águas claras são encontrados em outros lugares.[7]
Os rios amazônicos se dividem em três categorias principais: águas claras, águas pretas e águas brancas. Este sistema de classificação foi proposto pela primeira vez por Alfred Russel Wallace em 1853 com base na cor da água, mas os tipos foram mais claramente definidos de acordo com a química e a física por Harald Sioli da década de 1950 à década de 1980.[2][8][9] Embora muitos rios amazônicos se enquadrem claramente em uma dessas categorias, outros apresentam uma mistura de características e podem variar dependendo da estação e dos níveis de cheia.[9][10]
Fora da América do Sul, a classificação não é comumente usada, mas rios com características de águas claras são encontrados em outros lugares, como o alto rio Zambeze, certos riachos de terras altas nas principais bacias hidrográficas do sul e sudeste da Ásia e muitos riachos do norte da Austrália.[7]
Ecologia
A diferença na química e na visibilidade entre os vários rios de águas pretas, brancas e claras resulta em diferenças distintas na flora e na fauna.[2] Embora haja uma sobreposição considerável na fauna encontrada nos diferentes tipos de rios, também há muitas espécies encontradas apenas em um deles.[16][17][18] Muitas espécies de águas pretas e claras estão restritas a partes relativamente pequenas da Amazônia, já que diferentes sistemas de águas pretas e claras são separados (e, portanto, isolados) por grandes seções de águas brancas.[2][17] Essas “barreiras” são consideradas uma força principal na especiação alopátrica na bacia amazônica.[2]
Muitas espécies de peixes, que muitas vezes são ameaçadas (especialmente por barragens), são conhecidas apenas em rios de águas claras.[1][2] Grandes trechos com corredeiras abrigam peixes reofílicos especializados,[1][15] bem como plantas aquáticas como Podostemaceae.[8][20] Existem grandes diferenças na quantidade de macrófitas e isso está principalmente relacionado à luz: rios de águas claras com muita sombra têm poucas, enquanto aqueles que correm por regiões mais abertas geralmente contêm muitas.[8] Os rios de águas claras têm uma produtividade relativamente baixa em comparação com os rios de águas brancas, resultando numa abundância de insectos comparativamente baixa.[4]
↑ abcdefDuncan, W.P.; M.N. Fernandes (2010). «Physicochemical characterization of the white, black, and clearwater rivers of the Amazon Basin and its implications on the distribution of freshwater stingrays (Chondrichthyes, Potamotrygonidae)». PanamJAS. 5 (3): 454–464
↑ abcdevan der Sleen, P.; J.S. Albert, eds. (2017). Field Guide to the Fishes of the Amazon, Orinoco, and Guianas. [S.l.]: Princeton University Press. pp. 13–18. ISBN978-0-691-17074-9
↑ abcJunk, W.J.; Piedade, M.T.F.; Schöngart, J.; Cohn-Haft, M.; Adeney, J.M.; Wittmann, F.A. (2011). «Classification of Major Naturally-Occurring Amazonian Lowland Wetlands». Wetlands. 31 (4): 623–640. doi:10.1007/s13157-011-0190-7
↑ abcVenticinque; Forsberg; Barthem; Petry; Hess; Mercado; Cañas; Montoya; Durigan (2016). «An explicit GIS-based river basin framework for aquatic ecosystem conservation in the Amazon». Earth Syst. Sci. Data. 8 (2): 651–661. Bibcode:2016ESSD....8..651V. doi:10.5194/essd-8-651-2016
↑ abWinemiller, K.O.; A.A. Agostinho; É.P. Caramaschi (2008). «Fish Ecology in Tropical Streams». In: Dudgeon, D. Tropical Stream Ecology. [S.l.]: Academic Press. pp. 112–113. ISBN978-0-12-088449-0
↑ abcSioli, H., ed. (1984). The Amazon: Limnology and landscape ecology of a mighty tropical river and its basin. [S.l.]: Springer. pp. 160–161, 219, 276–280, 445, 493–494. ISBN978-94-009-6544-7
↑Goulding, M.; M.L. Carvalho (1982). «Life history and management of the tambaqui (Colossoma macropomum, Characidae): an important Amazonian food fish». Revista Brasileira de Zoologia. 1 (2): 107–133. doi:10.1590/S0101-81751982000200001
↑«Waters». Amazon Waters. 28 de maio de 2014. Consultado em 10 de outubro de 2017
↑Mol, J.H.; B. de Mérona; P.E. Ouboter; S. Sahdew (2007). «The fish fauna of Brokopondo Reservoir, Suriname, during 40 years of impoundment». Neotrop. Ichthyol. 5 (3): 351–368. doi:10.1590/S1679-62252007000300015
↑«Habitat». zebrapleco.com. Consultado em 10 de outubro de 2017
↑ abHyland, T.; M.H.S. Perez. «Race against time». Exel Magazine. Consultado em 10 de outubro de 2017
↑Saint-Paul, U.; J. Zuanon; M.A. Villacorta Correa; M. García; N.N. Fabré; U. Berger; W.J. Junk (2000). «Fish communities in Central Amazonian white and blackwater floodplains». Environmental Biology of Fishes. 57 (3): 235–250. doi:10.1023/A:1007699130333
↑ abKullander, S.O. (1986). Cichlid fishes of the Amazon River drainage of Peru. [S.l.]: Swedish Museum of Natural History. ISBN91-86510-04-5
↑Henderson, P.A.; W.G.R. Crampton (1997). «A comparison of fish diversity and abundance between nutrient-rich and nutrient-poor lakes in the Upper Amazon». Journal of Tropical Ecology. 13 (2): 175–198. doi:10.1017/s0266467400010403
↑de Carvalho, M.R. (2016). «Description of two extraordinary new species of freshwater stingrays of the genus Potamotrygon endemic to the rio Tapajós basin, Brazil (Chondrichthyes: Potamotrygonidae), with notes on other Tapajós stingrays». Zootaxa. 4167 (1): 1–63. PMID27701358. doi:10.11646/zootaxa.4167.1.1