O Restaurante Tavares (vulgarmente conhecido como Tavares Rico), sito na Rua da Misericórdia, número 37, no Chiado, em Lisboa, em Portugal, é o restaurante mais antigo do país, ainda em atividade, tendo aberto as portas em 1784.
História
Originalmente um botequim conhecido por "Talão" que servia "refrescos, ovos fritos e outras bebidas",[1], em 1823, sob a gerência dos irmãos Manuel e António Tavares, o local foi considerado suspeito de apoiar os opositores ao rei dom Miguel, que havia usurpado o trono a dona Maria II.[2]
Em 1861, foi comprado por Vicente Marques Caldeira, com o intento de o transformar no "lugar mais chique de Lisboa". O interior foi totalmente renovado, possivelmente a cargo de Giuseppe Luigi Cinatti e Achilles Rambois (tendo sido encomendados lustres imponentes, moldes para fazer relevos em gesso e espelhos venezianos para o salão), tornando a sua atmosfera elegante e sofisticada, e o estabelecimento tomou o nome de "Café-Restaurant, Tavares", o apelido dos antigos proprietários.[2]
No Tavares, ainda solitário àquela hora, um moço areava o sobrado. E enquanto esperava o almoço, Ega percorreu os jornais. [...] Ega sorriu, cofiando o bigode. Justamente o bife chegava, fumegante, chiando na frigideirinha de barro. Ega pousou a Gazeta ao lado, dizendo consigo: "Não é nada malfeito, este jornal!" O bife era excelente: — e depois duma perdiz fria, dum pouco de doce de ananás, dum café forte, Ega sentiu adelgaçar-se enfim aquele negrume que desde a véspera lhe pesava na alma. [...] O relógio do café deu dez horas. "Bem, vamos a isto", pensou Ega.
Eça de Queirós, Os Maias, 1888.
No final do século XIX, o Tavares era popular entre os intelectuais da época, que nele frequentavam jantares de mesa de redonda; vultos culturais como Oliveira Martins, Guerra Junqueiro e Eça de Queirós (que imortalizou as excelentes refeições no seu romance Os Maias, de 1888). Após a morte de Vicente Marques Caldeira em 1888, o seu filho Manuel Caldeira tomou a gerência do restaurante. Em 1903, entregou uma renovação do estabelecimento a Hermógenes dos Reis, dotando o restaurante da talha dourada com motivos rococó, candeeiros em aplique e estatuária condizente com os estilos Belle Époque e Art Nouveau que ainda hoje se podem observar, e a entrada em vitraux de marquise.[2]
Manuel Caldeira morreria em 1923. O restaurante é comprado pelo então gerente Miguel Villan Monrroy em sociedade com o filho José Marques. Em 1940, o Tavares abre falência. O recheio foi leiloado em hasta pública. Nos anos seguintes, o restaurante foi gerido de forma intermitente por algumas sociedades até 1956, quando uma nova gerência conseguiu evitar que o espaço mudasse de ramo comercial. No jantar de reabertura, 15 de Janeiro de 1956, esteve presente, entre outros, o Almirante Gago Coutinho.[2]
↑ abcdefgCâmara, Fortunato da (24 de Dezembro de 2011). «As vidas que o Tavares viveu». "Público": Fugas - restaurantes e bares. Consultado em 14 de Fevereiro de 2015
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