Em seu auge, embora criticado pela instabilidade no temperamento, era bem reconhecido como um atacante veloz, de bom chute e que se diferenciava também pela habilidade com a bola e inteligência para servir companheiros com assistências ou abrindo-lhes espaços, em análise elogiosa feita por Tostão em 1998.[3] Ainda em 1997, foi considerado o segundo melhor jogador do futebol europeu, entre o premiado Ronaldo e Zinédine Zidane, o terceiro colocado.[4]
Também dotado de bom cabeceio,[5]Pedja (como é apelidado, também na grafia Peđa, um diminutivo do nome Predrag [4]) tornou-se especialmente célebre exatamente naquele ano, pelo gol que encerrou 32 anos de jejum do Real Madrid na Liga dos Campeões da UEFA.[6][7]
Mijatović estreou em 1987 no futebol adulto, pelo Budućnost, clube da capital montenegrina - sua cidade-natal de Podgorica, então chamada Titogrado; nesse clube, chegou a ser colega de Dejan Savićević, outra futura estrela local a adquirir renome na Europa. Foi também o ano em que Mijatović integrou o "grupo do Chile", como ficou conhecida a delegação iugoslava campeã naquele país na Copa do Mundo FIFA Sub-20 de 1987.[10]
Inicialmente, Mijatović era reserva na competição, estreando justamente em escalação mista utilizada na rodada final da fase de grupos, após a seleção estar classificada por antecipação à fase mata-mata. O jogo foi contra Togo e "Pedja" destacou-se com dois gols na goleada por 4-1. Acabou premiado com a titularidade para o duelo com o Brasil, no qual, segundo o próprio atacante, marcou o primeiro gol de cabeça da carreira - no lance, aproveitou bola alçada por Zvonimir Boban em cobrança de falta. Reconheceria ainda que "foi o ponto de virada para nós. O Brasil estava jogando fantasticamente naquela competição".[9] O gol empatou o jogo e adiante os brasileiros foram eliminados,[11] pelas quartas-de-final,[10] em cobrança de falta de Robert Prosinečki.[9]
Uma expulsão aos 31 minutos do segundo tempo na semifinal, contra a Alemanha Oriental, privou Mijatović de atuar na decisão com a Alemanha Ocidental, com o fundamental gol sobe o Brasil seguindo como o momento mais recordado que o atacante teve no título.[9] Ele inicialmente seguiu no Budućnost,[10] estreando pela seleção principal da Iugoslávia em 23 de agosto de 1989, em amistoso contra a Finlândia.[6]
Pouco depois, período, Mijatović chegou a acertar com a equipe croata do Hajduk Split, mas a transferência terminou não efetivada diante de interferência de Mirko Marjanović, futuro primeiro-ministro da Iugoslávia e então presidente do Partizan - clube ao qual o montenegrino terminou por juntar-se em janeiro de 1990. Mesmo antes das guerras civis começarem e deflagrarem a dissolução da Iugoslávia, receios de segurança devido à tensão política já visível também teriam motivado o jovem a não rumar ao Hajduk.[10] Meses depois, ocorreu a Copa do Mundo FIFA de 1990, a última antes da desintegração iugoslava, mas ele acabou não sendo chamado ao Mundial;[9][12] apesar de estrear com gol justamente diante do Budućnost, demorara a lograr boa regularidade no novo clube.[10]
Em plena guerra, ele venceu o campeonato iugoslavo de 1992-93, temporada na qual foi novamente, pela segunda vez seguida, eleito o melhor jogador do futebol iugoslavo. Dali, acertou com o Valencia.[10]
Brilho na Espanha
Conseguiu sucesso imediato na Espanha, inicialmente em dupla ofensiva com o búlgaroLyuboslav Penev, que saiu ainda em 1995, tornando o montenegrino ainda mais protagonista no Valencia:[10] seu grande desempenho na temporada 1995-96 inclusive influenciaria a diretoria valenciana a desistir do brasileiroViola, que não se adaptara e chegou a somar apenas oito gols contra 23 do montenegrino,[16] vice-artilheiro de La Liga. O time terminou a temporada vice-campeão nela e também semifinalista na Copa do Rei, ao passo que o atacante foi eleito o melhor estrangeiro do futebol espanhol pela revista Don Balón.[10]
O sucesso no Valencia atraiu interesse do Real Madrid, que contratou-o para a temporada 1996-97. No time da capital, Mijatović viveu o auge: ao fim da temporada 1996-97, ficou em segundo lugar na Bola de Ouro, abaixo apenas de Ronaldo na avaliação da revista France Football como o melhor jogador do futebol europeu.[6] O brasileiro era a grande estrela do rival Barcelona, que, apesar do futebol vistoso, terminou vice-campeão espanhol para exibições menos exuberantes dos madrilenhos - com Mijatović realizando grande trio ofensivo com Raúl e com Davor Šuker, antigo parceiro daquele título mundial sub-20 de 1987 e com quem mantinha a amizade apesar da Guerra de Independência da Croácia: chegou a presentear o próprio filho com uma camisa do croata após ambos marcarem os gols (e comemorarem abraçados) de triunfo de 2-0 em El Clásico pelo primeiro turno de La Liga.[17]
Após a saída de Ronaldo por 32 milhões de dólares para a Internazionale em meados de 1997, o Real Madrid chegou a reajustar para 150 milhões a multa rescisória por Mijatović, tornando-o o segundo jogador mais caro do mundo naquela época.[18] A temporada subsequente começou com novo brilho do montenegrino diante do Barcelona, ao marcar um gol e fornecer duas assistências na Supercopa da Espanha de 1997, decidida contra o grande rival.[10] E terminou com Mijatović tornando-se de vez ídolo madridista, em função do gol do título na Liga dos Campeões da UEFA de 1997–98,[6] o único na vitória de 1-0 sobre a Juventus. Esse triunfo encerrou o maior jejum de conquistas - 32 anos - que o maior vencedor da competição já vivenciou nela.[7][3]
Todavia, o montenegrino já vinha sob críticas antes da Copa do Mundo FIFA de 1998: seu gol no título continental do Real Madrid vinha servindo justamente para recuperar de uma imagem que sofria desgate, diante da impressão de uma temporada 1997-98 aquém da anterior.[3] Ele, de fato, acabou de fato não rendendo tanto no Mundial:[6] embora chegasse a marcar um gol sobre a Alemanha (em empate em 2-2 pela fase de grupos),[10] não se mostrou o mesmo artilheiro de outrora, além de até perder pênalti na eliminação contra os Países Baixos; saiu do torneio como uma das estrelas que teriam decepcionado na Copa.[20] Essa partida, pelas oitavas-de-final, estava empatada em 1-1 e, nos acréscimos, Edgar Davids fez o gol que classificou os neerlandeses - gerando reações na torcida iugoslava com pedidos de aposentadoria de "Pedja", que chegou a cogitar tal decisão.[6]
O Real Madrid também não garantiu continuidade de Mijatović, vendo-se ainda em agosto de 1998 a iminência de uma negociação com outro clube ou uma disputa com Sávio.[21] Embora titular junto ao próprio Sávio no vitorioso Mundial Interclubes de 1998 sobre o Vasco da Gama,[22] o atacante de fato acertou em 1999 com a Fiorentina, sem esconder a decepção com o tratamento dos espanhóis - embora viesse a se reconciliar com o tempo, ao ser reempregado como diretor madridista após parar de jogar.[6]
Mijatović começou a marcar gols pela Fiorentina a partir do terceiro jogo seguinte à recuperação.[10] Assim, na ocasião da Eurocopa 2000, seguia visto como um jogador de brilho apesar de inegavelmente já veterano.[25] Novamente, os iugoslavos teriam os Países Baixos como algozes, também nas oitavas-de-final, sob eliminação de 6-1. O atacante, ainda assim, teve um bom início de temporada de 2000-01: fez gols nas quatro primeiras partidas da Fiorentina. Todavia, novamente lesionou-se; a Viola terminou campeã da Copa da Itália, mas sem contar com ele nas partidas decisivas.[10]
Embora intercalasse recuperação médica com a reserva na Fiorentina, Mijatović seguiu chamado à seleção por mais alguns anos.[6] Porém para a Copa do Mundo FIFA de 2002, a Iugoslávia terminou eliminada, em terceiro no grupo 1 das eliminatórias da UEFA em grupo com a líder Rússia e a rival Eslovênia. Ainda assim, os iugoslavos continuavam vistos como fortes,[26] e a dupla de Mijatović com Savo Milošević, reconhecida como de peso - a ponto de serem requisitados como adversários derradeiros da seleção brasileira antes da convocação final de Luiz Felipe Scolari para o Mundial.[27]
Em meados de 2002, a Fiorentina, que vivia grande crise institucional apesar do recente título na Copa da Itália de 2000-01, faliu - e, com isso, acabou punida com rebaixamento automático. Mijatović então regressou à Espanha, curiosamente para o rival citadino do Valencia, o Levante.[10] Os granotas, em contraste, vinham em recuperação na via inversa: ao fim da temporada 2001-02, haviam sido rebaixados à Tercera División, mas recuperaram um lugar na Segunda diante de punição da Real Federação Espanhola de Futebol a um insucesso do Burgos em atender à regra de tornar-se sociedade anônima desportiva. O iugoslavo foi visto como a principal contratação para embalar de vez o levantisimo, em vinda que chegou a ser comparada à de Johan Cruijff ao clube ao final da década de 1970. Mijatović também motivava-se para conviver diretamente com um dos filhos, nascido em 1994 na Comunidade Valenciana e que seguia ali vivendo em tratamento contra a hidrocefalia.[4] A criança viria a falecer aos 15 anos, por complicações da enfermidade.[10]
O veterano inicialmente teve atuações promissoras como levantinista,[4] inclusive seguindo em 2003 como jogador de seleção, já renomeada Sérvia e Montenegro;[6] inicialmente, ajudou o novo clube a brigar pelo acesso na Segunda Divisão Espanhola.[10] Acabou sendo justamente a sensação de convocação feita pelo agora treinador Dejan Savićević em março de 2003 em meio às eliminatórias à Eurocopa 2004, sob outro momento de turbulência nacional, poucos dias depois do assassinato do primeiro-ministro Zoran Đinđić.[28]
Ao fim da temporada 2002-03, o Levante amargaria a perda do acesso, terminando em quarto lugar - embora gradualmente a experiência fosse vista como proveitosa antessala do título logrado na segunda divisão de 2003-04 por um elenco quase igual, ainda que já sem Mijatović: ele havia pactuado contrato por uma temporada, com previsão de prorrogação somente se o acesso imediato à Primeira Divisão Espanhola viesse.[4] Já a seleção servo-montenegrina terminou 2003 também sem vaga na Euro 2004, abaixo de Itália e País de Gales no grupo.[29]
Mijatović, após meses sem clube, confirmaria já em 2004 o final da carreira de jogador. Após parar de jogar, exerceu cargos diretivos no Real Madrid e no breve período midiático do clube russo do Anzhi Makhachkala.[10]