A Pena Molexa é um dos monumentos naturais do Concelho de Narón e fica na freguesia de Santa Maria a Maior do Val, perto do assentamento castrejo de Vilasuso.
Introdução
Trata-se dum espectacular penedo de varias toneladas colocado sobre enormes rochas. A sua disposição não tem aparência natural, já que parece acavalado por acinte, mas o facto de ter sido posto entre os dois blocos graníticos pela natureza ou pela mão do homem é irrelevante. O seu folclore indica que este penedo poderia ter feito parte dum velho culto e duma velha crença, e acredita-se obra duma divindade.
A Pena Molexa foi um santuário celta, um altar que, por alguma razão, não chegou a ser cristianizado. O seu folclore ainda constitui um exemplo da sobrevivência popular do culto à Deusa Mãe celta, única divindade feminina que representa a terra, o País.
O culto nas pedras é um uso religioso que procede da noite dos tempos, e que foi espalhado por toda a Europa na Idade do Bronze. Ao redor dele há lendas, contadas pelas pessoas idosas da aldeia. As que perduram na tradição oral com mais sentimento são as que a vizinhança do Val encenam na noite de São João, para festejar a chegada do Verão.
Conta a lenda que um poderoso feitiço converteu uma fada muito bela numa rocha. Na noite do solstício de Verão desfaz-se o encantamento e por uns segundos a rocha transforma-se de novo numa mulher, que sai e mostra um tesouro. A donzela tem de procurar um pretendente que a liberte de passar outro ano inteiro fechada na rocha. Mas como deve pôr à prova o jovem, para se assegurar do seu amor, a fada dá a escolher entre ela e o tesouro. O destino manda e o pretendente, ano após ano, escolhe o cofre. Nesse momento, o ouro esvai-se e ambos fundem-se na rocha. Ela terá de ficar mais um ano à espera de repetir a história.
Lenda do rei e dos guerreiros
Esta lenda conta que ao pé da Pena Molexa há outras rochas que são um rei e os seus guerreiros convertidos em penedos, também por um feitiço. Na noite do solstício de Verão, a noite do São João, transformam-se de novo em humanos, para lembrar as pessoas que sempre ficarão lá para guardar a terra. Essa noite o rei e os seus homens e mulheres percorrem e vigiam os montes, visitam e protegem as casas, além de cuidar os idosos, já que são eles que guardam as antigas tradições. Ao finalizar a noite solsticial, convertem-se mais uma vez em pedra, de onde espreitam, ficando para sempre a proteger a Terra de Trasancos.
O compromisso da terra: As três tigelas
O compromisso com a terra é um simbolismo que consiste em pôr em três tigelas terra fértil, ar limpo e flor da água pura, recolhidas na noite solsticial. Colocam-se em frente das portas das casas durante todo o ano, em sinal de compromisso com o cuidado da terra.
Também se conta em Vilasuso que a Pena Molexa tinha um encantamento: guardava três mulas de ouro. Um dia chegou um homem com um livro. Era o livro de São Cibrão. O homem leu-o desde a primeira página até à última, de cima a baixo, depois desleu-o desde o final até ao começo, desenfeitiçou as mulas e levou-as.
Depois disto, apareceram muitos mais encantos. Quando ninguém consegue ficar com eles, ao cabo de certo tempo vaõ-se embora para o mar.
Dizem também que há uma galinha com pintos de ouro, que aparecem na manhã do São João. Um dia, uma mulher apanhou os pintos, meteu-os abaixo da saia e foi-se embora para a sua casa. Quando chegou, os pintos tinham desaparecido.
A noite de São João
A noite de São João tem imensos mitos, lendas, romances e tradições relacionados com ela, perante a chegada do solstício de Verão. É considerada a grande noite do amor, os oráculos, a adivinhação e a fertilidade. Para as culturas pre-cristãs, a noite do São João era o momento de festejar que o dia, ou seja, a vida, que vencia a noite, o eterno alter ego da morte. Naquela altura só se celebrava o solstício de Verão, o apogeu do Deus Sol. Hoje em dia, já não fica quase nada da presença espiritual, mas sim de magia e de superstições. Desde tempos pré-romanos que o fogo, em forma de fogueiras, joga um papel muito importante nesta celebração. Com esta acção, tencionava-se “dar mais força ao sol” que, a partir desses dias, ia-se tornando mais “fraco”.
Na Galiza, esta é uma das festas sazonais por excelência.
Bibliografia
Andrés Pena Graña, Narón un concello con historia de seu, Concello de Narón, 1991.
Andrés Pena Graña, Unha Parroquia con celtas reminiscencias na Terra de Trasancos “Sancta María Maior” de O Val, Narón, Fundación Terra de Trasancos, O Val, 2004.
Alfonso Filgueira López, Coñecer Narón en nove itinerarios, Concello de Narón, 1997.
Eva Merlán Bollaín, Contos de Trasancos, Concello de Narón, 2000.