Peirópolis

Peirópolis é um distrito rural pertencente ao município de Uberaba, em Minas Gerais. Situa-se a uma distância de 20 km do centro urbano de Uberaba, sendo acessado principalmente pela rodovia BR-262.[1]

Na região, ocorrem dois sítios paleontológicos: Peirópolis, e Serra da Galga, ambos apresentando ricas faunas de vertebrados e invertebrados do Cretáceo Superior do Brasil. Os depósitos fossilíferos estão localizados em rochas da Formação Marília, Grupo Bauru, e Bacia do Paraná, e são compostos por fósseis de crocodilomorfos, dinossauros e outros répteis, além de anfíbios. Desde 2007, é considerado um dos sítios geológicos do Brasil.[2]

História

Peirópolis desenvolveu-se devido à atuação do empresário Federico Peiró (1859-1915), um imigrante espanhol que se estabeleceu na localidade em 1896.[3] Devido à abundância de rocha calcária na região, Peiró iniciou a construção de caieiras para a extração e queima de cal virgem, utilizando o ramal ferroviário local para escoar os materiais produzidos na área para outras regiões.[4] Na época, a vila era conhecida como "Paineiras" e se destacou como um pequeno centro econômico e religioso com forte influência do espiritismo, doutrina à qual Peiró se converteu.[5] A pequena estação local chamada originalmente de "Cambará", era operada pela "linha do Catalão", e fazia parte da rota entre os municípios de Conquista e Uberaba pertencente à Companhia Mogiana de Estradas de Ferro, a primeira ferrovia a chegar ao Triângulo Mineiro em 1889.[6]

Em 1924, anos após o falecimento de Peiró, a comunidade local renomeou o bairro como "Peirópolis", em reconhecimento à sua contribuição para o desenvolvimento da região. Com o declínio da exploração de calcário nas décadas seguintes, somado a um fatídico acidente ferroviário ocorrido na região no ano de 1970, as operações do ramal ferroviário para Peirópolis foram encerradas.[7]

A estação ferroviária de Peirópolis, que pertencia à Companhia Mogiana de Estradas de Ferro, atualmente abriga o Museu dos Dinossauros.

Paleontologia

Réplica de um Uberabasuchus terrificus, exposta em Peirópolis.

Em meados da década de 1940, a descoberta de fósseis de animais extintos trouxe nova notoriedade à região, quando o Departamento Nacional de Produção Mineral (DNPM) recebeu informações de que ossos fossilizados haviam sido encontrados durante as obras de retificação de um ramal local da Companhia Mogiana. A serviço do DNPM, o paleontólogo gaúcho Llewellyn Ivor Price (1905-1980) visitou o local em 1946 e, a partir de então, conduziu escavações sistemáticas na região.[8] Entre 1949 e 1961, foram recuperados centenas de fósseis do período Cretáceo Superior, incluindo exemplares de dinossauros do grupo dos titanossauros.[9]

Price pesquisou as terras do Triângulo Mineiro e de municípios paulistas vizinhos, até 1974. Todo o acervo de fósseis coletado por ele e sua equipe foi destinado ao Museu de Ciências da Terra, no Rio de Janeiro.[10]

Réplica em tamanho natural de um Titanossauro, criada pelo artista plástico Northon Fenerich, e exposta em frente ao Museu dos Dinossauros.

Em 1991, a Prefeitura Municipal de Uberaba empreendeu a restauração do prédio da estação e outras estruturas adjacentes com o objetivo de criar o "Centro de Pesquisas Paleontológicas Llewellyn Ivor Price". No ano seguinte, sob a supervisão do geólogo Luiz Carlos Borges Ribeiro, o centro foi inaugurado. A antiga estação foi transformada em um laboratório de preparação de fósseis e abriga um museu paleontológico, aberto ao público, que é vinculado à Fundação Cultural de Uberaba. Além disso, outras construções próximas foram adaptadas como residências para pesquisadores.[11]

Um dos achados em exposição no museu é o esqueleto fossilizado do crocodilomorfo do Cretáceo Superior conhecido como Uberabasuchus terrificus, ao lado de uma réplica em tamanho real. Descoberto na região em 2000, esse esqueleto é considerado um dos mais completos do seu tipo no mundo.[12] Outras réplicas incluem a do terópode Abelisaurus comahuensis, com aproximadamente 8 metros de altura, e a de uma preguiça gigante da espécie Eremotherium laurillardi.[13]

Em 2004, foram descobertos fósseis do Uberabatitan ribeiroi na região, sendo considerado o maior dinossauro brasileiro já encontrado. Os fósseis de três indivíduos da espécie foram encontrados na região da Serra da Galga, durante as obras de duplicação da rodovia BR-050, entre Uberaba e Uberlândia.[14] O processo de retirada dos fósseis foi concluído em 2006, com os técnicos realizando escavações manuais de aproximadamente 300 toneladas de rochas que datavam do período Cretáceo e Paleogeno para a extração do material.[15] Em 2011, novas descobertas foram feitas na mesma área, incluindo um fêmur de 1,4 metros pertencente ao Uberabatitan.[16]

No período de 2022 a 2023, Peirópolis foi integrado ao inventário geológico de Uberaba e ao mapa geológico patrimonial do Geoparque de Uberaba. Durante este processo, foram identificados 31 geossítios e locais de geodiversidade da área.[17]

Rede Nacional de Paleontologia e Complexo Científico Cultural de Peirópolis

Durante o período de 2003 e 2004, o Ministério da Ciência e Tecnologia concedeu financiamento para a construção da sede da Rede Nacional de Pesquisas Científicas em Paleontologia em Peirópolis.[18] O objetivo do projeto era preservar sítios fossilíferos e promover a divulgação da paleontologia. No entanto, surgiram várias polêmicas relacionadas à iniciativa.[19]

Sede da antiga Rede Nacional de Paleontologia, integrado ao Complexo Científico Cultural de Peirópolis.

Embora um amplo prédio tenha sido construído nas proximidades do antigo museu para abrigá-la, a Rede Nacional nunca foi concretizada e acabou sendo extinta. Atualmente, suas instalações são utilizadas para exposições científicas, atividades lúdicas e educativas sobre paleontologia, voltadas para crianças e estudantes de Uberaba e região. O edifício agora abriga um auditório para palestras, salas para oficinas e também serve como sede da Associação dos Amigos do Sítio Paleontológico de Peirópolis - AASPP. Além disso, abriga réplicas de um Megaterium (Preguiça Gigante) e de um Titanossauro, ambos encontrados na região.

Em 2011, todas as edificações e seus equipamentos foram integrados ao Complexo Científico Cultural de Peirópolis, em uma parceria entre a Universidade Federal do Triângulo Mineiro (UFTM) e a Secretaria de Estado de Ciência, Tecnologia e Ensino Superior de Minas Gerais. Essa integração fortaleceu a colaboração entre as instituições e impulsionou o desenvolvimento científico e cultural da região.[20]

Ver também

Referências

  1. vverner (13 de maio de 2021). «Peirópolis». Visite Uberaba. Consultado em 25 de dezembro de 2024. Cópia arquivada em 25 de dezembro de 2024 
  2. Luiz Ribeiro e Ismar Carvalho (2007). «Uberaba, Terra dos dinossauros do Brasil» (PDF). Sítios Geológicos e Paleontológicos do Brasil 28. Consultado em 23 de dezembro de 2014 
  3. Silva, Karen Pereira Freitas; Pereira, Laura de Barros (13 de julho de 2021). «Da ferrovia ao museu, uma viagem pelas memórias que constroem as identidades de Peirópolis (1970-2018)». Epígrafe (2): 360–389. ISSN 2318-8855. doi:10.11606/issn.2318-8855.v10i2p360-389. Consultado em 26 de dezembro de 2024 
  4. «Page 642 - Uberaba-200 anos no coracao do Brasil». app.codiub.com.br. Consultado em 25 de dezembro de 2024 
  5. «Sacramento: religiosidade e fenômenos mediúnicos». Correio.news. 28 de julho de 2020. Consultado em 25 de dezembro de 2024. Cópia arquivada em 25 de dezembro de 2024 
  6. «Peirópolis -- Estações Ferroviárias do Estado de Minas Gerais». www.estacoesferroviarias.com.br. Consultado em 8 de junho de 2023. Cópia arquivada em 25 de dezembro de 2024 
  7. «A Estação Paineiras e o fatídico acidente de trem em 1970». web.archive.org. 27 de dezembro de 2024. Consultado em 27 de dezembro de 2024 
  8. Minas, Estado de (21 de julho de 2014). «Peirópolis, no Triângulo Mineiro, pode ganhar título de geoparque». Estado de Minas. Consultado em 25 de dezembro de 2024. Cópia arquivada em 25 de dezembro de 2024 
  9. RIBEIRO, José Hamilton Revista Globo Rural ed. 296 jun/2010 O dinossauro-zebu
  10. NOEL, Francisco Luiz Revista Problemas Brasileiros (ed. 383 set-out/2007) Em Minas, um ninho de dinossauros
  11. «Repositório Institucional de Geociências: Mapa do patrimônio geológico do Geoparque Uberaba: terra de gigantes». web.archive.org. 31 de março de 2024. Consultado em 25 de dezembro de 2024 
  12. «CARVALHO, I., RIBEIRO, L. C. e AVILLA, L, Gondwana Research, v. 7, nº. 4, pp. 975-1002 Uberabasuchus terrificus sp. nov., a New Crocodylomorpha from the Bauru Basin (Upper Cretaceous), Brazil - original description of genus» (PDF). Consultado em 13 de setembro de 2011. Arquivado do original (PDF) em 6 de julho de 2011 
  13. «G1 - Réplica de preguiça gigante é exposta no Triângulo Mineiro - notícias em Ciência e Saúde». web.archive.org. 27 de dezembro de 2024. Consultado em 27 de dezembro de 2024 
  14. Cunha, Helena (28 de maio de 2011). «Encontrado fêmur de 1,4 de titanossauro». JM Online. Consultado em 25 de dezembro de 2024 
  15. «Os 6 maiores dinossauros encontrados no Brasil». Mega Curioso. Consultado em 25 de dezembro de 2024 
  16. Correio Braziliense 06/06/2011 A descoberta de um fêmur de titanossauro demostra a importância de Minas Gerais para a paleontologia brasileira
  17. «Geoparque de Uberaba é reconhecido pela UNESCO como geoparque mundial». SGB. Consultado em 27 de dezembro de 2024 
  18. Folha de S. Paulo 09/05/2005 Sem revisão, rede nacional de paleontologia tem R$ 4,3 milhões
  19. Boletim Informativo da Sociedade Brasileira de Paleontologia ano 19, nº 48 Rede Nacional de Pesquisa em Paleontologia
  20. Universidade Federal do Triângulo Mineiro - Notícias Convênio garante recursos para Peirópolis

Ligações externas

Ícone de esboço Este artigo sobre bairros é um esboço. Você pode ajudar a Wikipédia expandindo-o.

Strategi Solo vs Squad di Free Fire: Cara Menang Mudah!