A Pedra do Reino ou Pedra Bonita é a denominação dada ao conjunto de duas pedras paralelas, em formato de torres, com 30 a 33 metros cada uma, localizadas na Serra do Catolé, em São José do Belmonte, Pernambuco. Originalmente, eram denominadas Pedra Bonita, devido à coloração dourada presente nas rochas, no entanto, ficou conhecida como Pedra do Reino após ser palco de um movimento messiânico, inspirado no sebastianismoportuguês, que acreditava que nas pedras estava encantado o reino de Dom Sebastião, que iria desencantar após serem lavadas com sangue, resultando em um massacre com sacríficos em prol da volta do rei português.[1]
A seita sebastianista e o massacre
Entre os anos de 1836 e 1838 funcionou no local um arraial de fanáticos que acreditavam na volta do rei Dom Sebastião, mais precisamente que naquelas pedras estava encantado o seu reino. A seita era comandada por um homem chamado João Antônio, que depois da intervenção do padre Francisco Correia abandonou o lugar e deixou como sucessor o seu cunhado João Ferreira.[2]
A seita tinha o formato de um reino e todos tratavam João Ferreira como rei. Tinham costumes e rituais próprios, eram poligâmicos e viviam sem muita higiene ou produção de comida.
Em 16 de maio 1838, João Ferreira, após embebedar os sectários com o que chamavam de "vinho santo", os convenvenceu de que o reino de Dom Sebastião só desencantaria após ser lavado com sangue de sacrificíos, iniciando assim um massacre que durou 3 dias e resultou na morte de mais de 80 pessoas, vitimando inclusive o líder João Ferreira, após seu cunhado Pedro Antônio, irmão de João Antônio, ter afirmado que Dom Sebastião havia lhe aparecido em sonho e dito que para o desencantamento do reino faltava apenas o sangue do rei João Ferreira. Na verdade, Pedro Antônio queria se vingar pela morte da sua irmã, mulher de João Ferreira, que havia sido sacrificada. [3]
O massacre só terminou em 18 de maio, após o major Manoel Pereira da Silva ter intervido e atacado o reino com sua tropa. No ataque, morreram fanáticos e soldados, inclusive 2 irmãos do major. João Antônio, o primeiro lider da seita, foi capturado em Minas Gerais e morto no caminho a Pernambuco, e sua esposa fugiu para Santa Catarina, tendo recebido um indulto do então presidente da província, o Conde da Boa Vista.
2 meses após o massacre o padre Francisco Correia foi até o local e sepultou os corpos das vitímas. Na ocasião, fez um desenho do cenário que encontrou, para servir de alerta à população, que se encontra preservado no acervo do Instituto Arqueológico, Histórico e Geográfico de Pernambuco.[4]
Na cultura popular
A Pedra do Reino e o movimento sebastianista que lá ocorreu serviram de inspiração a diversos movimentos e produções culturais.
A história do massacre foi documentada pelo historiador Attico Leite em seu livro Fanatismo Religioso: Memória Sobre o Reino Encantado na Comarca de Vila Bella.[5]
Ainda em 1878, o escritor Araripe Júnior lançou "O Reino Encantado: Chronica Sebastianista".
Anualmente, no mês de maio, acontece na cidade de São José do Belmonte a Cavalgada à Pedra do Reino, festa inspirada no movimento armorial de Ariano Suassuna que conta com diversas manifestações da cultura popular, inclusive a carvalhada, e que se encerra com uma cavalgada até a Pedra do Reino.[6]