Em 1974, Chirac era Primeiro Ministro francês quando aproximou-se de Saddam (o então 2º no poder iraquiano) durante uma viagem a Bagdá. Na ocasião, discutiram a compra de reatores nucleares franceses pelo Iraque. Em setembro de 1975, Saddam visita uma usina nuclear na França, num passeio especial guiado por Chirac, que, num discurso afirmou: "O Iraque está num processo de desenvolvimento de um programa nuclear coerente e responsável. A França deseja associar-se a ele neste esforço".
O Iraque, que havia assinado o acordo de não-proliferação nuclear, comprometendo-se a utilizar a tecnologia nuclear adquirida para fins pacíficos, acertou nesta ocasião a compra de dois reatores. Um deles de 70 MW, trabalhando com cargas de 26 pontos de urânio enriquecido a 93% (o suficiente para produzir três bombas nucleares) e o outro destinado a pesquisa, para treinar cerca de 600 técnicos e cientistas iraquianos.
Os israelenses, temendo o domínio da tecnologia nuclear pelo Iraque, fizeram pressão diplomática para que a França desistisse da venda do reator para o Iraque.
Em abril de 1979, após fracassadas tentativas diplomáticas, os agentes da Mossad explodiram o reator, encaixotado e pronto para ser transportado para o Iraque. Seguiu-se então uma série de atentados e misteriosos assassinatos de pessoas relacionadas com o projeto.
Apesar dos contratempos, de 11 milhões de dólares e três anos de trabalho perdidos, Osirak começava a ser construída a 15 quilômetros de Bagdá, no vale entre os riosTigre e Eufrates. Os israelenses começaram então a considerar a opção do ataque aéreo.
O plano
A distância (cerca de 1000 km.) fazia de Osirak um alvo perigoso e longínquo demais para a força aérea israelense de então, problema solucionado em 2 de junho de 1980, com a chegada de aviões F-16 Fighting Falcon americanos, os únicos em Israel capazes de carregar as bombas até o alvo e voltar sem reabastecimento. Iniciaram-se então os sigilosos treinamentos, onde nem os pilotos sabiam da missão para a qual estavam sendo treinados.
No início de 1980, o serviço secreto israelense informou ao governo que Osirak entraria em operação entre julho e setembro do ano seguinte. O governo israelense marcou o ataque para novembro de 1980.
Em setembro, com o cancelamento dos acordos que o Iraque assinara com o Irã, delineando a fronteira entre os dois países no estuário de Xatalárabe, iniciou-se a Guerra Irã-Iraque. No dia 30, dois aviões da força aérea iraniana atacaram Osirak com bombas, foguetes e tiros de canhão. As bombas erraram o alvo, atingindo edifícios próximos, com danos mínimos à usina, o que só serviu para aumentar a capacidade de defesa antiaérea iraquiana em volta da usina e a melhoria nas defesas do complexo, que ganharam paredes e muros mais grossos, além de grandes barreiras de areia.
Com o avanço da guerra, o andamento dos trabalhos na usina deveria sofrer atrasos, e uma vez confirmada essa informação por sua inteligência, os israelenses suspenderam a data do ataque. Quando a guerra se estabilizou, em fevereiro de 1981, os técnicos franceses e italianos que haviam sido retirados às pressas da zona de conflito retomaram o trabalho na usina. Por mais três vezes, o governo de Israel marcou e adiou o ataque. Acertaram então que o ataque ocorreria no dia 10 de maio, mas decidiram aguardar o resultado das eleições francesas, que indicavam vitória de François Mitterrand (que era contrário ao programa nuclear iraquiano) sobre o então presidente Valéry Giscard d'Estaing.
Mitterrand venceu as eleições e a França rapidamente declarou que não exportaria mais tecnologia nuclear para Bagdá, mas que os acordos já firmados seriam honrados. A notícia não era a que o governo israelense esperava, e a decisão de agir de uma vez por todas foi tomada. O ataque seria no domingo, 7 de junho de 1981.
O ataque
Às 15:55 do domingo, decolaram da Base Aérea de Etzion oito caças F-16 descaracterizados, armados cada um com duas bombas MK 84 de 2.000 libras (910 kg), 2 mísseis Sidewinder, dois tanques subalares de 1400 litros cada e tanque ventral de 1100 litros, escoltados por 6 caças F-15, cada um com 8 mísseis ar-ar guiados por radar e infravermelho e 512 projéteis 20mm para o canhão. Se tudo corresse bem, chegariam a Osirak 100 minutos após a decolagem, faltando menos de 20 minutos para anoitecer, com o Sol em suas costas, o que dificultaria a visão dos iraquianos.
Para não serem detectados, voaram a 90 metros do chão, entre desfiladeiros e montanhas, e a 7 metros quando estavam sobre o deserto e a água, sem comunicação por rádio ou qualquer outro meio, em absoluto silêncio eletrônico (apenas as palavras “Charlie", a 38º de longitude, "Zebra", aos 40º e "Duna Amarela” aos 42º foram pronunciadas, marcando as fases da missão).
A 30 km do alvo os aviões ligaram seus equipamentos e aceleraram, iniciando os procedimentos para o ataque. A 6 km da usina, em duplas, subiram a 2 000 m, mergulhando em seguida para lançar as bombas, que foram programas para explodir apenas após o lançamento do último avião. Como não haviam sido detectados, enfrentaram apenas um esboço de reação iraquiana.
Das 16 bombas lançadas sobre o reator, somente uma errou o alvo, destruindo por sua vez a câmara de guiagem de nêutrons, e outra não explodiu. Em dois minutos, o reator nuclear de Osirak havia deixado de existir.
A repercussão
O ataque foi condenado pelo mundo inteiro. Até mesmo o governo do então presidente americano, Ronald Reagan, simpático a Israel, escolheu "condenar" o ataque (apesar de fortes rumores do auxílio americano na missão); a França qualificou-o de "inaceitável"; a Grã-Bretanha o descreveu como "uma grave violação da lei internacional". Um editorial de The New York Times começava assim: "O ataque furtivo de Israel contra um reator nuclear de fabricação francesa perto de Bagdá foi um ato de agressão indesculpável e míope."